No GP Aperol de São Marino e Riviera di Rimini deste domingo, a TV geradora das imagens colocou um indicador gráfico para mostrar o grau de inclinação das motos dos principais pilotos da categoria rainha da MotoGP™ nas curvas mais fechadas e velozes do circuito. Os números mostrados são inacreditáveis e ultrapassam os 60 graus, ou seja, acima de 2/3 dos 90 graus possíveis.
A tecnologia aplicada nos pneus, suspensões e aerodinâmica impressiona pelo desafio à física que estamos presenciando. Para uma moto atingir tal inclinação é necessário que os pneus, somados ao peso da moto, ofereçam a aderência necessária para neutralizar a força centrífuga (força G) que empurra a moto para a direção oposta à curva.
Por sua vez a suspensão e a aerodinâmica são responsáveis por manter as rodas sempre em contato com o asfalto, mesmo quando a moto passa por depressões no meio das curvas. Apesar da velocidade em curvas ser menor, a aerodinâmica está presente.
Um chassi bem resolvido e isento de torções também é imprescindível para assegurar ao piloto que as rodas dianteiras e traseiras não percam o alinhamento nos momentos de maior estresse da estrutura, e isso só foi descoberto recentemente. Antes, as estruturas das motocicletas tinham uma flexibilidade controlada que se acreditava ser benéfica para a estabilidade.
Os italianos eram mestres nessa tecnologia. Os ingleses fabricavam ótimos quadros também. (hoje esse termo indica mais esse tipo antigo de estrutura, com flexibilidade controlada). O efeito shimmy era neutralizado com uma ressonância benéfica na flexibilidade do chassi, que só se registrava em velocidades baixas. Hoje, sabe-se que mesmo oscilando em altas frequências, uma estrutura rígida permite velocidades maiores. Pode-se reparar como oscilam rápidamente as motos do GP quando iniciam um “tank slapper” (ou shimmy na dianteira) em grandes mergulhos, onde a distância entre eixos cai muito e o trail se torna impraticável. A moto recupera rapidamente quando o piloto solta os freios, e isso é consequência da ótima estrutura que estabiliza as flexões. Impressionante.
Outro fato preponderante nessa questão é a qualidade dos pneus. Na inclinação que se verifica hoje em dia, a força vertical contra o solo é o único componente a segurar a moto na trajetória, por causa do atrito contra o asfalto. A maior inclinação é necessária para manter a linha do centro de gravidade sobre a área de contato do pneu. Só assim ele pode resistir à força lateral que tende a deslocar a moto para fora da curva. Adicione a isso a força do motor, deslocando a moto para frente, saindo da curva. Se essa força exceder o limite de atrito disponível a moto literalmente sai de baixo do piloto. Nessa hora o controle de tração tem importância fundamental. Uma leve oscilação do acelerador, passando por um buraco por exemplo, pode tirar a moto de baixo do piloto. Ele está no fio da navalha.
Por trás do esporte existe uma indústria de pesquisa tecnológica que dá suporte à incansável busca por milésimos de segundo e também à segurança, primordial em um esporte tão perigoso como é a motovelocidade, envolvendo os fabricantes de todos as peças que compõem uma moto de competição. Essa tecnologia é testada nas pistas e depois aplicada nas motos vendidas a consumidores civis do mundo inteiro.
Provavelmente o limite de inclinação já tenha sido atingido. Observando as fotos e vídeos das corridas vê-se que não existe mais espaço para ombros e joelhos entre a moto e o chão. Mas sabemos que nosso heróis da MotoGP vão continuar tentando ampliar esses limites.