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Flagramos a 250 Custom com a qual a Amazonas Motocicletas Especiais pretende voltar com tudo ao mercado de motos.

Por Geraldo Tite Simões

Desde que vi a Amazonas 250 no Motoboy Festival, fiquei com a pulga atrás da orelha e fui na cola dos representantes da marca na tentativa de conseguir ao menos uma avaliação. Mas as respostas foram sempre as mesmas “as motos estão em testes, sem placas, não são versões definitivas, etc”. Só que entre uma conversa a outra fiquei sabendo duas importantes informações. A empresa tinha alugado em Galpão em Cotia para terminar as obras no prédio principal. E a planta industrial de Manaus, AM estava bem longe de ficar pronta, logo os testes de desenvolvimento só poderiam ser em São Paulo. Flagrante do teste

Anúncio da Amazonas 1600 (década de 70)

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Bastou juntar as informações e concluir que se as motos estavam em teste, o bairro da Granja Viana, com suas ruas calmas e escondidas, seria uma ótima escolha. Lá fomos eu e o comodoro de céu, água e terra, Ryo Harada nos plantar na entrada do condomínio à espera de um flagra. Não deu outra: depois do almoço, os “fofos” da Amazonas saíram em revoada para o condomínio, sendo seguidos por um suspeitíssimo Gurgel azul. Foi só me esconder na grama alta da calçada e fotografar a vontade. Porém me descontrolei de tanto rir e os pilotos de teste me descobriram. Felizmente os amigos Tony de Sá e Marcelo Camargo já estavam alimentados e foram gentis comigo, porque essa gente “fofinha” quando tá com fome é um perigo! Deixaram fotografar à vontade e ainda dei uma voltinha na moto.

Amazonas histórica

Os mais jovens talvez nem se lembrem, mas nos anos 70 um empresário aficionado por motos decidiu criar um modelo que fez história: a Amazonas 1600. O motor era nada menos que um Volkswagen 1.600 cc que equipava os saudosos Fuscas. Com 100% de peças nacionais o empresário Guilherme Hannud Filho fez a maior moto brasileira. Mas sem saber estava também lançando a maior moto do mundo, que foi capa de revistas internacionais, inclusive a Cycle World. A publicação americana foi além: levou a Amazonas a um preparador especialista em VW e fizeram um motor de enrugar o asfalto!

A moto virou lenda e correu literalmente o mundo. No Japão era amada e disputada a peso de ouro. O multimilionário americano Forbes comprou uma para exibir-se na maior moto do mundo e até hoje quem tem uma Amazonas se ofende só diante da possibilidade de alguém querer comprá-la. Eu mesmo fui vítima dessa “religião amazônica” ao criticá-la em uma revista especializada e receber até ameaça de morte. Só porque eu escrevi que atualmente é mais fácil achar alguém que goste de dor de dente do que alguém que goste da Amazonas. Minha pelada cabeça foi à prêmio pelos colecionadores da moto. Boa posição de pilotagem

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Versão policial

Painel completo

Traseira

Motor Suzuki 250

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Bom acabamento

Duplo freio a disco

Pedaleira-plataforma

Punhos esquerdo e direito

Pup 110

Esportiva 200

Motonetas

Durante estes quase 30 anos Guilherme não desistiu do sonho de ter sua marca de moto. Pesquisou, tentou até representar a Harley-Davidson no Brasil, mas finalmente em 2004 conseguiu um acordo com a Loncin, uma das maiores fábricas de motos da China, para trazer, desenvolver e fabricar motos no Brasil. As primeiras experiências foram com os quadriciclos 250 que imediatamente conquistaram o público. Trouxeram um lote experimental e vendeu tudo! A marca ganhou respeito no meio e não demorou muito para começar os estudos para trazer também as motos.

Muito trabalho

O modelo que seguimos e fotografamos é a 250 Custom, equipada com o mesmo motor 250 cc da Suzuki Intruder 250. Ela é tudo aquilo que cansei de pedir para o João Toledo (da Suzuki): uma custom simples, 250cc, econômica, confortável, de visual agradável e gostosa de pilotar.

O estilo é claramente inspirado na BMW C 1200, com tanque “gorducho”, guidão largo e banco em dois níveis. As rodas de liga leve têm bom acabamento (aro 15 polegadas atrás e 16 na frente) e ainda estavam equipadas com pneus chineses. Certamente esse item será um dos primeiros a ser nacionalizado. A lista de equipamentos é extensa: conta-giros (com a maior faixa vermelha que já vi na vida!), painel digital de marchas, afogador no punho, lampejador de farol, pisca-alerta e pedaleiras plataforma.

No conjunto de chassi ela é montada em um quadro tubular de aço, tem suspensão traseira monoamortecida, duplo disco de freio na dianteira e disco simples na traseira. Ao contrário da Intruder 250, a Amazonas 250 tem duas saídas de escape, apesar de o motor ser de um cilindro.

Pelo que pude constatar neste primeiro contato, a base do produto é muito boa, mas ainda há muito trabalho pela frente no desenvolvimento dessa 250. A expectativa é colocá-la no mercado só a partir de abril de 2007.

Primeira volta

Depois de muito pentelhar a vida dos “amazonenses” consegui dar uma voltona. Suficiente para perceber algumas qualidade e detalhes que merecem reestudo. A primeira boa impressão é a imediata associação com o barulho do motor da Intruder 250, já que eu tive essa Suzuki por 3 anos. O nível de vibração e ruído é muito baixo e de cara notei um coxim exagerado no guidão. Como os freios são muito potentes, o guidão balança um pouco nas frenagens e isso causa uma sensação estranha aos novatos.

A posição de pilotagem foi nitidamente inspirada na Kawasaki Vulcan 800. O piloto se encaixa no banco, estica um pouco as pernas e segura no guidão de forma natural, nenhuma parte do corpo fica muito esticada ou dobrada, pelo menos pra um cara de 1,70m. Não gosto das pedaleiras do tipo plataforma em motos pequenas, elas se justificam em motos grandes para proteger os pés do vento forte que chega a arrancá-los das pedaleiras simples, mas tem muita gente que gosta e parece que a versão definitiva terá as plataformas. O câmbio de cinco marchas é Suzuki, nada de excepcional, nem de ruim, com engates silenciosos e precisos. A relação final de transmissão por corrente já foi acertada para o mercado brasileiro porque na China os deslocamentos são curtos e chineses não viajam de moto. Lá ainda não existe o conceito de moto para lazer, apenas para condução e trabalho.

Os dados do motor não foram fornecidos, mas visitando o site oficial da Loncin e comparando com a ficha técnica da Suzuki Intruder 250 dá pra concluir que o motor terá perto de 20 cv a 8.500 rpm e torque de aproximadamente 2,0 kgf.m a 5.500 rpm, semelhante aos dados das motos nacionais 250 de um cilindro. Lembro que uma das grandes qualidades desse motor Suzuki de quatro válvulas era a economia de gasolina. Minha ex-Intruder fazia facilmente mais de 30 km/litro, variando entre 16 e 32 km/litro. No único teste que fiz da Intruder ela alcançou 134,2 km/h de velocidade máxima, porém a moto era mais leve e os pneus mais finos em relação à Amazonas 250. O trabalho dos técnicos da Amazonas será o de conciliar bom desempenho com economia, o que irá tirar o sono da equipe. Se projetarmos uma média de consumo de 25 km/litro, o tanque de 18,8 litros permitirá a absurda autonomia de 470 km, suficiente para viajar de São Paulo ao Rio de Janeiro sem abastecer.

Outro trabalho duro deverá ser feito na suspensão traseira, porque os chineses também têm outro parâmetro de conforto e tipo de uso da moto. Lembro que a Intruder 250 era quase uma off-road com suspensões de longo curso. Na Amazonas é preciso pensar ainda que aqui é comum levar passageiro na garupa, enquanto na China cada um tem sua moto.

Serão feitas algumas alterações para adequar ao gosto brasileiro. A lanterna sobre o pára-lama dianteiro será eliminada, assim como os faróis auxiliares e os espelhos retrovisores com piscas. Alguns desses acessórios serão oferecidos como itens opcionais, incluindo bolsas laterais de plástico e protetores. Obviamente que a Amazonas criará uma linha de equipamentos e acessórios para customizar a 250. Aliás, existe uma versão policial que poderá fazer a alegria de muita prefeitura de cidade pequena. A intenção é chegar a um produto bem equipado, mas cujo preço flutue entre as 250 atuais do mercado. Pode-se esperar algo na faixa de R$ 12.000.

As outras

Aproveitando um descuido dos executivos da Amazonas, entretidos na conversa com o Harada, aproveitei para tirar fotos de algumas motos largadas em um galpão, quase displicentemente. Vi produtos curiosos como uma esportiva 200 carenada que lembra muito a Kawasaki Ninja 250 e uma moto 125 de trial. E várias opções de motonetas e scooters entre 110 e 150cc, além de uma 125 utilitária e até uma “coisa” engraçada mistura de Honda Pop 100 com XL 125. Essa motoneta, imediatamente apelidada de Pup, é um produto muito comum nas comunidades chinesas carentes de ruas asfaltadas. Parece a nossa Pop, porém com pneus de uso misto, guidão aberto com cross-bar e pára-lama dianteiro alto. Teria muita adequação na zona rural.

As motonetas já estão adiantadas no desenvolvimento e também devem chegar ao mercado em abril. São bem acabadas, com freio a disco e motor de 110 cc. Um pequeno porta-objetos sob o banco garante o status de intermediária entre cub e scooter.

Sem dúvida a volta da Amazonas marca o aquecimento do mercado brasileiro no segmento até 250cc. Claro que ela não vem para brigar com Honda e Yamaha, mas entre as empresas sino-brasileiras como Sundown, Traxx e tantas outras. É um grande desafio adequar os produtos chineses ao mercado brasileiro. Entre outras coisas diferentes, na China não existe o serviço de garantia e os motociclistas desprezam qualquer tipo de manutenção. As motos são baratas porque são praticamente descartáveis. Quando começam a quebrar joga-se fora e pronto! Imagine a dificuldade para inculcar nessas indústrias conceitos como qualidade, garantia, durabilidade, atendimento, pós-venda etc!

Outra boa notícia é que a Loncin produz muitos componentes para as BMW F650 e F800S, inclusive o motor. É normal que as fabricas chinesas atendam as grandes marcas européias no fornecimento de componentes, o que pouca gente sabe é que, espertos, os chineses aprendem e fazem também os motores deles, com 650 ou 800cc, apesar de o mercado interno só absorver motos até 250cc. Graças a isso é fácil a Amazonas juntar esforços para produzir uma moto de 650 ou 800 cc no futuro. Como fazem bem esses ventos do oriente!

Provável ficha técnica (retirada do site oficial da Loncin)

Motor

Monocilíndrico, quatro tempos, quatro válvulas, 249 cc

Potência

20 cv a 8.000 rpm

Torque

2,0 kgf.m a 5.500 rpm

Câmbio

5 marchas

Transmissão

corrente

Suspensão dianteira

garfo telescópico

Suspensão traseira

monoamortecida

Freio dianteiro

duplo disco Freio traseiro disco simples Comprimento 2.200 mm Largura 830 mm Altura 1.200 mm

Tite
Geraldo "Tite" Simões é jornalista e instrutor de pilotagem dos cursos BikeMaster e Abtrans.