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O assunto da diminuição da velocidade nas grandes avenidas e nas marginais em São Paulo gerou muita polêmica quando entrou em vigor no dia 20 de julho de 2015. Na verdade a discussão começou muito antes, quando a Prefeitura de São Paulo anunciou a decisão, que veio acompanhada do aumento do número de radares fixos e da fiscalização com radares móveis, tudo num único ato do prefeito “Maldad”, como passou a ser chamado o prefeito Fernando Haddad pelos que discordaram da decisão.velocidade

Entre os argumentos contrários à medida expressos em protestos, liminares e manifestações públicas estavam o risco de assaltos (?!?!?), o aumento do tempo de viagem e o evidente incentivo à chamada “indústria das multas”. Houve ainda outros argumentos, mas nenhum deles trazia luz à discussão com razões técnicas ou lógicas. O fato é que do outro lado, os argumentos da Prefeitura para decidir assim veio acompanhado de argumentos lógicos e baseados em experiência reais em outros países, como a redução do número de acidentes e do índice de fatalidade dos mesmos.

Justifico o uso deste espaço para trazer este tema porque a medida tomada em São Paulo serviu de modelo e repercutiu para muitas outras administrações de outras cidades do Brasil. E, afinal, trânsito é um questão nacional, assim como as mazelas que ele traz para todas as grandes (e médias) cidades brasileiras. E antes que alguém possa achar que estou aqui defendendo ou condenando “A” ou “B”, deixo claro que sou cidadão paulistano, uso motocicleta (ou transporte público) diariamente para me deslocar na cidade, não tenho qualquer filiação partidária e é bem fácil apontar erros e acertos na gestão Haddad e de muitos outros gestores que passaram pela prefeitura de São Paulo. Mas entre os erros de Haddad, não está a decisão de reduzir a velocidade nas principais avenidas da cidade.

Só para ilustrar, muitas ações (ou a falta delas) merecem crítica a Haddad, como a péssima conservação do pavimento das nossas ruas e de nossas calçadas para circulação de pedestres ou a falta de critério para implantar as ciclovias na cidade e proteger os ciclistas cada vez em maior número no trânsito da cidade, apenas para ficar em assuntos que tem estreita relação com o trânsito. Mas vou me ater apenas na questão da diminuição da velocidade pelo prefeito Haddad e agora na decisão de aumentar a velocidade pelo prefeito João Dória.

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A decisão do prefeito Dória de aumentar as velocidades nas avenidas marginais em São Paulo, anunciada no dia 20/1  não está baseada em dados técnicos e não traz qualquer razão clara e evidente para melhorar a situação existente. Afinal, qualquer medida que mexa tanto com a vida dos cidadãos deve ter uma razão para ser implementada. Nesse caso, trata-se de cumprir promessas de campanha, que certamente o ajudaram a se eleger. Ou seja, uma decisão meramente política, desconectada da realidade e carente de bom senso. Em resumo, uma decisão errada porque não trará qualquer benefício, exceto diminuir em alguns poucos minutos o tempo de viagem.

Bem ao contrário, essa mudança pode trazer de volta os acidentes que ocorriam antes de julho de 2015 (quase 50% a mais) e também aumentar significativamente o índice de fatalidade destes acidentes. Além disso, há o aumento do consumo de combustível e, para quem não mora em São Paulo e não sabe, existem trechos da marginal Pinheiros onde não há pista local, apenas a pista expressa, onde o novo prefeito deseja que a velocidade máxima nessa pista volte a ser de 90 km/h.

Sabe-se que a frota circulante em São Paulo é composta por mais de 90% de motocicletas pequenas, com motores até 150 cc, cuja velocidade máxima real gira em torno de 100 km/h, isso dependendo do peso do piloto, da carga e do estado de conservação da moto. Ou seja, manter 90 km/h significa andar bem próximo do limite da moto, o que reduz muito a margem de segurança e aumenta exponencialmente o risco de acidente para o motociclista.

Outra constatação para quem circula pelas marginais é a de que a redução do número de acidentes ajudou a melhorar a fluidez do trânsito nas avenidas marginais porque há menos interrupções para remoção dos carros e atendimentos aos eventuais feridos. É claro que só a redução da velocidade não é suficiente para aumentar a segurança dos motociclistas paulistanos, mas a qualidade e conservação da pista, a sinalização, a educação e a fiscalização também ajudam. Tudo isso sem mencionar os ciclistas, cuja circulação nas vias mais rápidas carece de regulamentação pelas autoridades responsáveis pelo trânsito na cidade de São Paulo.

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Um aspecto que deve ser destacado é que a tendência mundial para preservar vidas no trânsito é a redução da velocidade e foi nesse movimento que o ex-prefeito Haddad decidiu colocar São Paulo, alinhando a capital paulista com outras grandes cidades do mundo todo, que também tiveram as velocidades máximas de suas vias principais reduzidas. É verdade que há vias expressas em algumas cidades com velocidade maiores em relação às que temos hoje nas nossa marginais, como Los Angeles (65 milhas/h – 104 km/h) e Londres(80 km/h). Mas Paris, por exemplo, tem o limite exatamente igual ao nosso – 70 km/h nas vias expressas.

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Sidney Levy
Motociclista e jornalista paulistano, une na atividade profissional a paixão pelo mundo das motos e a larga experiência na indústria e na imprensa. Acredita que a moto é a cura para muitos males da sociedade moderna.