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Texto: Leonardo Brito

Antes de “Easy Rider”, ele já cortava as estradas. Sua missão: escrever sua própria história.

Um fato inusitado e, de repente, a vida que lhe parecia tão perfeita perde o sentido. Você começa a colocar sua vida “na ponta do lápis” e, no fim das contas, nada parece fazer sentido. Sua história soa falsa, traçada por outras mãos que não as suas. A única solução: chutar tudo pro alto e sair vagando sem rumo, sem destino certo, tentando entender o sentido da vida e buscando novas e enriquecedoras experiências.

Quem já não teve vontade de fazer isso um dia, que atire a primeira pedaleira. Pegar a moto, colocar o essencial em termos de bagagem e cair na estrada, sem data pra voltar – se voltar. Então, “hang in there” (segura aí) e venha conosco nessa viagem pelo mundo de Bronson.

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Chutando o balde e caindo na estrada Jim Bronson (Michael Parks) era repórter do San Francisco Chronicle e levava uma vida comum. Um dia ele recebe uma chamada da polícia dizendo que um homem estava ameaçando pular de um prédio e chamava por seu nome. Ao chegar ao local, Jim se depara com a moto de seu melhor amigo, Nick Oresko (Martin Sheen). Não apenas isso: Nick cometera suicídio em Fort Point, um monumento histórico nas proximidades da ponte Golden Gate onde os dois costumavam passar o tempo desde que se conheceram há alguns anos atrás.

Não bastasse a morte de Nick, Jim ainda se indispõe com o editor do jornal enquanto escrevia o obituário do amigo. Essa discussão é a gota d água: Jim pede demissão do emprego, junta suas coisas e decide partir, deixando tudo para trás. Compra a moto do amigo (que, ironicamente, havia sido dele antes) e cai na estrada, fugindo da “cidade grande” e procurando uma vida mais simples e, quem sabe, com algum sentido. O destino? Deixemos que o próprio se manifeste a este respeito (o diálogo a seguir, entre Bronson e um motorista num sinal fechado, faz parte da abertura da série):

“Indo viajar?” “Como?” “Indo viajar?” “Sim.” “Pra onde?” “Hum, eu não sei. Qualquer lugar, eu acho.” “Amigo, eu queria ser você.” “Verdade?” “Sim.” “Bom, então segura aí.”

Estrutura básica Os 26 episódios da única temporada da série (1969-1970, exibidos pela NBC nos EUA e pela TV Record no Brasil) seguiam a mesma premissa básica: Bronson indo aqui e ali e operando algum tipo de mudança na vida daqueles com quem interagia durante suas jornadas. Ocasionalmente fazia alguns “bicos” para ganhar algum dinheiro e prover a si mesmo e a moto.

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Interessante notar que o contexto dos episódios difere – e muito – da premissa mostrada no episódio-piloto, que era a busca pelo sentido da vida por parte do protagonista, deixando o enredo muito semelhante ao de Rota 66 (1960-1964). A despeito da multiplicidade de personagens que encontrou ao longo de seu caminho (uma comunidade amish, um ex-piloto sedento por apenas mais uma corrida, etc.), Bronson sempre adotava a postura de nunca impor sua linha de pensamento sobre os assuntos e problemas com os quais se deparava. Ao contrário, agia como uma espécie de “Mestre dos Magos sem charadas”, valendo-se de conselhos e palavras de apoio para ajudar. Como ele dizia “fazer suas próprias coisas no seu próprio tempo e espaço”.

Impacto cultural Bronson, de certa forma, era controverso para a época, visto que em 1969 os EUA eram tomados de assalto pelas imagens das arruaças promovidas pelos Hells Angels (o incidente no festival de rock em Altamont foi o ponto alto e, ao mesmo tempo, mais baixo da história do clube). Para a sociedade americana da época, não havia diferença: todo motociclista era arruaceiro, bêbado e um assassino em potencial.

Visto por esse lado, seria inconcebível uma série com um motociclista no papel principal, ainda mais um vagando sem rumo pelas estradas. A série contornou isso apresentando um lado mais humano de seu protagonista. Um homem que queria, apenas, encontrar seu lugar no mundo e ajudar as pessoas de forma sincera e despretensiosa. Ajudou muito, também, a atuação de Michael Parks num estilo “James Dean soft” e emprestando credibilidade ao papel do ex-repórter, e a música “Lone lonesome highway”, cantada pelo próprio Parks nos créditos finais. A música se tornou sinônimo da série tendo figurado na parada de sucesso da Billboard na época.

A moto Bronson viajava pelas estradas americanas montado numa Harley-Davidson Sportster XLH 900 1968. Pintada na cor vermelha e sem grandes modificações a moto era conhecida por levar dois grandes sacos verdes sobre o farol e banco traseiro, que continham os pertences de Bronson.

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O culto a série por parte dos fãs levou a criação de inúmeras réplicas, como a mostrada na foto acima (o adesivo no tanque é comemorativo aos 40 anos da série). Os sites dedicados a série (como o www.jimbronson.com) mostram fotos de réplicas construídas por fãs nos mínimos detalhes, bem como relatos de viagens e experiências no restauro e uso das motos.

Num dos episódios (“The old motorcycle fiasco’) a Harley dividiu a cena com uma Rudge Ulster 500 1937. Bronson travou contato com o dono da moto, Alex (Keenan Wynn), depois que o tanque da Harley foi abastecido por engano com pesticida. Alex abriga Bronson em seu rancho e lhe mostra a inglesa Ulster, parada havia anos. Não demora muito para que os dois a ponham para funcionar e saiam andando por tudo quanto é canto, para frustração da esposa de Alex, Nora (Martine Bartlett), que não gosta de ver o marido sobre duas rodas. A moto usada nas filmagens era da coleção pessoal do ator Keenan Wynn.

Agradecimentos ao internauta Paulo Lopes, de Porto Alegre (RS), cuja citação a esta série foi o combustível necessário para esta matéria. Saudações vulcânicas pra ti, Paulo!