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De motocicleta e sem destino, percebi que estava a algum tempo numa estrada que não conhecia.
O dia começava a ficar escuro, com nuvens carregadas e prestes a desabar em chuva, ventania e trovoadas.
O asfalto parecia cada vez pior, com trincas, desgastes, buracos e escassez crescendo em tamanho e quantidade.
A ausência de veículos e pessoas na estrada, e casinhas às suas margens, nos dois sentidos, assustava.
Com a preocupação e atenção no marcador de combustível, imaginei que não dava mais pra voltar.
Ruídos no motor, suspensão e acessórios davam a contínua impressão que algo podia estar errado.

A decisão quase inconsciente era a de seguir em frente, pra ver onde e como tudo isso iria acabar.
Nos momentos de tensão e contemplação da desolada paisagem, partes do passado vinham à mente.
Visões caóticas de lembranças fragmentadas e sem nenhuma ordem cronológica e nível de importância.
Todas associadas às minhas muitas culpas, sob meu ponto vista, mesmo que de fato não fossem minhas.
Intimamente, as nossas angústia nos são muito mais perceptíveis do que os nossos sucessos e vitórias.
Aflito, via o cada vez mais desgastado asfalto e escuridão passando abaixo e a frente da motocicleta.

Dupla razão da acelerada pulsação, na constante busca pela aventura em duas rodas e incerto destino.
Um leve temor, apesar do seguro e delicioso som do roncar do motor e vento, estava sempre presente.
De repente tudo começa a clarear, e os sol, céu azul, pessoas, veículos e comunidades surgem do nada.
A premente insegurança pelo desconhecido destino desaparece, me reencontrei, e com todas as outras coisas.
Que voltaram a ser o que sempre foram, e que de fato, nunca deixaram de ser, em instante algum, a não ser pra mim.
Não somos capazes de transpor todos os obstáculos da vida, alguns estão fora do nosso controle, estão acima das nossas capacidades.

Por mais que nos esforcemos com as nossas garra, determinação e obstinação, não conseguiremos.
Certos momentos da nossa vida nos fazem caminhar, parecem, rumo ao desconhecido, por entre tempestades, escuridões e caminhos inóspitos,quase que incontrolavelmente, nos abstraindo da nossa cotidiana realidade.
Onde nos fechamos completamente, onde o nosso conhecido mundo desaparece, embora amigos, motocicletas e estradas estejam bem ali,como sempre estiveram.
Ao lidar com estes obstáculos intransponíveis, e suas dores, o nosso tempo e futuro se estreitam, nos fazendo seguir por ríspidos caminhos,e nestes instantes, sem saída.

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Estando impotentes, dar tempo ao tempo é a única. Quando de repente tudo poderá voltar ao seu estado natural, ou bem próximo.
Quando a gente poderá voltar às estradas, com amigos, motocicletas e destinos, tendo a oportunidade de fazer desta momentânea ausência e sofrimento,
razão maior para renovar nossas convicções que a vida deve ser permeada de amizade, irmandade, bem querer ao próximo e todos os seus positivos vínculos.
O tempo e a vida urgem, de preferência, em duas rodas.

Autor: Reinaldo Brosler – Águias do Vale MC – Administrador do site Riders Of Freedom