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Comecei a andar de moto no início dos anos 80 em Campinas, no interior de São Paulo, eu devia ter uns 15 anos aproximadamente quando comprei com o “suor do meu trabalho” (na verdade economizei alguns meses o dinheiro do lanche no recreio da escola) uma Garelli III de 50 cilindradas e três marchas. Era praticamente um ciclomotor, mas tinha um tanque “de verdade” (e não no quadro como a mobyllete) e as maravilhosas três marchas que ficavam no punho esquerdo.

Evidentemente não usava capacete, não era obrigatório naquela época e como diziam os colegas “capacete é coisa de boiola”! E por causa da antiga fama da cidade qualquer menção a atos “boiolísticos” era motivo pra briga, portanto ninguém usava capacete, aliás, nos filmes só os pilotos Kamikazes japoneses usavam capacetes, e eu nunca entendi pra quê. Troquei de moto ainda menor de idade, uma Yamaha TT 125, e nada de capacete, a graça naqueles anos era subir a ladeira Inca empinando a motoca, que começava na Norte-Sul e ia até a igreja do alto, usando nada mais do que um óculos escuros com um strep de neoprene colorido, deixando os “mullets” (aquele cabelo crescido na nuca, moda na época) soltos ao vento, bem anos 80. E assim fui levando a vida até que um dia um grave acidente me arrebentou por alguns meses. Acima, um Shoei X-Eleven no padrão de cor Norick 5 TC-2, por quase 700 dólares nos EUA…

Confesso que até quis voltar pra moto assim que me recuperei, mas naquele mesmo período outros amigos foram se acidentando, alguns com seqüelas permanentes, outros morrendo mesmo, pelo menos um deles um amigo próximo, e eu, enfim, comecei a criar juízo. Larguei a moto até voltar para o Rio de Janeiro e entrar para a faculdade. Ainda estávamos nos anos 80 quando veio a primeira lei obrigando o uso do capacete, aquela que “não pegou” na maioria das cidades, mas pegou em mim. Comprei meu primeiro capacete, um Peels de fibra de vidro que devia pesar uns 3 quilos, branco, muito feio, mas era o que tinha.

O calor dentro daquela casca de fibra incomodava muito, andava de viseira aberta o tempo todo e logo após uma semana de uso com uma Yamaha DT 180 comecei a sentir dores no pescoço. Acabei me acostumando e quando troquei de moto alguns anos depois, comprei outro capacete com a cor “combinando” com a moto, dessa vez um HJC, mais uns anos depois um Bieffe preto fosco, muito bonito. Todo esse blá, blá, blá é pra chegar a um único ponto dessa nossa conversa: eu sempre comprei capacete barato. Não o mais barato, ordinário, mas aquele barato relativamente bom, coisa de 200 a 250 reais nos dias de hoje.

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E talvez por isso, todos esses capacetes apresentavam os mesmos problemas: eram pesados (apesar de que com a evolução da tecnologia atualmente eles são bem leves), quentes por dentro, difíceis de lavar e talvez por isso ficassem com mau cheiro depois de uns 2 anos de uso, além de soltar algumas peças do acabamento nessa mesma época. Apesar de supostamente proteger a cabeça em casos de acidente, esses capacetes sempre tornavam a vida do motociclista em uma cidade quente como o Rio de Janeiro um pouco pior, mas fazer o quê? Era a lei, tem que usar, e fim de papo. Quando comecei a viajar mais de moto notei um outro problema comum a esses capacetes: o ruído do vento!

Tanto faz se a moto tem pára-brisa ou não, o capacete do tipo básico como esses que citei acabam gerando alguma turbulência perto da viseira ou na altura do mecanismo lateral. Sempre achei que isso era normal e nunca me preocupei muito com isso até que alguns amigos me disseram que alguns capacetes “bons” e mais caros eram mais eficientes nesses aspectos.

Opa! O que é isso de capacete “bom”?

Pra mim, se o INMETRO aprovou, o capacete era bom e fim de papo, afinal a função do capacete é proteger a cabeça e nada mais. Então porque gastar mais em um Shoei, Arai, Shark e outros tantos?

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Insistiram comigo e seguindo recomendações desses amigos, afinal meu último capacete já estava soltando pedaços, na minha última viagem ao exterior procurei comprar um capacete de primeira linha, um dessas marcas mais famosas. A primeira reação foi de susto porque os dito cujos são caríssimos, coisa de 500 dólares pra cima, e quanto mais famoso o piloto que usa o tal capacete, mais caro o bicho é. Já estava quase desistindo quando em uma megaloja de equipamentos para motos na Califórnia encontrei um Shoei TZ-R da linha 2006 preto fosco, o último da loja, exatamente no meu tamanho. O preço era menor do que a média dos Shoei, “apenas” 300 dólares. Pensei um pouco e influenciado pelo vendedor que dizia que aquele modelo era um dos mais silenciosos do mercado, projetado em túnel de vento e coisa e tal, acabei comprando. Doeu no bolso e ainda vai doer mais porque o cartão só vence no fim do mês…

De volta ao Rio de Janeiro fui experimentar o tal, e que surpresa agradável!

Não só ele “veste” muito bem como alguns detalhes chamam logo a atenção, entre eles a posição da viseira quando aberta (você não vê a borda da viseira, de tão alta) como também o sistema de ventilação interno muito eficiente. Logo que comecei a acelerar, estranhei o silêncio quase total. Parece que você entrou no hiper espaço, em uma outra dimensão, é quase um carro de vidros fechados! Só ouve mesmo o ronco grave do motor, aquele bem gostoso de ouvir.

A ventilação interna é perfeita, a viseira não embaça e você literalmente sente um vento frio passando pelo topo da cabeça até a nuca, refrescando a cuca mesmo nos dias mais quentes. Você pode até abrir a viseira até a metade que não há ruído de turbulência, cheguei a usar por um longo trecho apenas um pouquinho aberta, e não entrava poeira nos meus olhos. Tecnologia é um negócio incrível mesmo!

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Meu TZ-R preto fosco, meio sóbrio demais, mas eu gosto.

Acredite, um capacete como esse, e como outros de boa marca e infelizmente todos muito caros, estão anos luz a frente dos modelos mais populares. Não vou entrar no mérito da proteção física em caso de acidentes porque não vou cair de cabeça no chão só para verificar, mas estou supondo que todos sejam iguais nesse aspecto, dependendo evidentemente do tipo de capacete (no caso, o capacete fechado com viseira), mas a diferença no conforto e no prazer em pilotar, especialmente em viagens longas, compensa o valor maior a investir.

Aqui no Brasil as lojas que trabalham com esses modelos cobram entre 800 reais a quase 2 mil reais por um capacete de primeira linha, eu sei que é caro, muito caro, mas já que é obrigatório usar e andar de moto deveria ser um prazer, não deixem de avaliar um desses modelos quando for trocar de capacete. O Shoei, por exemplo, tem 5 anos de garantia total, e pela média dos meus capacetes anteriores nesse tempo eu teria comprado pelo menos 2 desses mais baratos. Talvez não seja tão caro assim, se você fizer as contas

Dica: é comum no Brasil vender capacetes fora de linha, como modelos 2004 ou 2005 ainda lacrados, adquiridos no exterior a preços muito baixos. Isso não deprecia o produto como parece, mas se você faz questão de um modelo “do ano” consulte o site do fabricante do modelo que você gostou. No caso do Shoei que citei, o link do fabricante é http://www.shoei-helmets.com/road/helmets_road.aspx?h=4 e é um modelo de 2006 mesmo.

Dica II: Se sua mulher ou namorada te acompanha na garupa da moto, compre um capacete pra ela, na medida correta e do jeito/cor que ela gostar. Esse negócio de repassar capacete usado não dá certo, fica folgado, e ela ainda reclama do seu cheiro. Se ela gosta do capacete, ela gostará ainda mais de andar com você.

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