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Honda Falcon contra Yamaha Lander: a difícil escolha entre o conforto e a economia

Honda Falcon contra Yamaha Lander: a difícil escolha entre o conforto e a economia

Para aproveitar a rara ocasião que tive a Yamaha Lander 250 e a última versão da Honda NX 400 Falcon juntas, decidi colocá-las lado a lado para ajudar você a escolher qual das duas ter em sua garagem. Leia e perceba como realmente é difícil decidir entre a economia e o conforto.

A estrada que começa em Camanducaia e termina em Monte Verde (MG) é o cenário ideal para avaliar duas motos de uso misto: trechos de asfalto em mau estado, intercalados com estradas de terra, tudo com muita areia e buracos. A Yamaha XTZ 250 Lander é claramente uma on/off-road, enquanto a Honda NX4 Falcon tem uma certa crise de personalidade – não se decidiu por ser uma fun bike ou on/off-road. Dificilmente seriam concorrentes em outros países, mas no Brasil as opções entre 250 a 500 cc as aproximam do mesmo consumidor.

Este comparativo de 1.000 km entre a Lander 250 e Falcon 400 nasceu dos próprios leitores, que nos enviam mensagens perguntando sobre as diferenças entre elas. Em termos de preço, até ficam próximas. São vendidas (em São Paulo) por R$ 10.990 e R$ 13.880 – respectivamente Lander e Falcon – uma diferença de quase 25%. A Falcon foi lançada em setembro 1999, em substituição à NX 350 Sahara, e praticamente não mudou nestes sete anos. Recebeu um impacto da própria Honda, com a chegada da Tornado 250 em 2001, e suas vendas caíram. Mas, com a saída de linha da CB 500 em 2004 as vendas da Falcon ganharam novo impulso. Ela resiste ao tempo e continua em produção. Por outro lado, a Lander representa o filhote mais novo da Yamaha e já chegou com o pedigree da injeção eletrônica. Mexeu com o consumidor: uma Yamaha injetada seria melhor negócio que uma moto maior, como a Falcon, em função de conforto e economia? Já vamos saber.

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Quanto à mecânica, muitas diferenças. A Falcon tem motor de 397,2 cc quatro tempos derivado da XR 400 de enduro, com quatro válvulas no único cilindro e comando simples no cabeçote. A potência (ou falta de) é uma das grandes queixas desse motor, pois desenvolve 30,6 cv a 6.500 rpm, enquanto sua antecessora Sahara, uma 350, apresentava 31,5 cv a 7.500 rpm (leia teste da Sahara no link http://www.motonline.com.br/testes/teste-honda-nx350.html).

Durante o lançamento da Falcon, a Honda teve uma dura missão: convencer o público de que esta moto era uma opção melhor que a antecessora, a NX 350 Sahara. A Sahara, uma evolução da XLX 350, já existia desde meados dos anos 80 e usava um motor potente, mas ultrapassado em emissões de poluentes. O motor da Falcon não é o 350 da Sahara com aumento de cilindrada: foi derivado da XR 400, uma moto de enduro, sem dúvida modernizado mas mantendo o velho carburador. Para adequá-lo aos níveis de emissões de poluentes e ruído, foi suavizado e ainda recebeu um escape abafado. Mas a Falcon, mesmo com maior cilindrada, chegou com potência menor que a Sahara. Com relação ao desempenho, são parecidas. Na época a assessoria de imprensa da Honda, diante da dura realidade de lançar uma 400 com motor menos potente que uma 350, optou por declarar a potência específica (CV por litro) da Falcon, que é de 77cv/litro. Desavisados, muitos jornalistas – inclusive alguns experientes – entraram na onda e publicaram que a Falcon tinha 77 CV!!!

Na Yamaha o motor de 250 cc, também de um cilindro e quatro tempos, têm duas válvulas e comando simples, e traz a modernidade da injeção eletrônica, que faz os 21 cv parecerem até mais. Além da injeção, tem pistão forjado e tratamento cerâmico no cilindro, para aumentar a durabilidade e reduzir o atrito.

O modelo 2007 da Falcon também foi contaminado pela febre laranja da linha Honda. A nova opção de cor (além das tradicionais preta e prata metálicas) tem peças em preto fosco. O estilo já convencional e até sóbrio ainda tem uma legião fiel de fãs. O farol foi tão aceito que pode ser visto em uma infinidade de motos personalizadas. É a “marca registrada” da Falcon e uma das maiores preocupações dos seus donos, afinal não é agradável passar em frente a um desmanche e ver vários faróis de Falcon pendurados, à venda, como se fossem frangos em açougue!

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Painel da Lander

Painel da Falcon

Pedaleira da Lander

Pedaleira da Falcon

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Roda traseira da Lander

Roda traseira da Falcon

A Lander tem um desenho moderno, mais esportivo, e lembra as Yamaha YZF de cross em cores mais comerciais, azul, preta e vermelha (sólidas). Os pára-lamas altos já mostram a proposta fora-de-estrada, enquanto o banco largo representa um alívio nas viagens. E seu farol também começa a ser olhado com admiração pelos donos de outras motos. Podem se preparar para a mania de “farol de Lander” em várias trapizongas motociclísticas por aí.

Um dos detalhes que destaca a diferença entre elas é o painel. Na Falcon o painel é clássico e até lembra um automóvel, com velocímetro e conta-giros analógicos, dois hodômetros (um parcial) e indicador de gasolina. Já na Lander o painel (feio pra caramba!) é totalmente digital com várias funções, mas o conta-giros por barra é difícil de visualizar e controlar as rotações. Tão difícil que pode-se acionar um segundo conta-giros digital por números só para regular a marcha lenta. Porém tem dois hodômetros parciais e relógio.

Nossa primeira atitude foi rodar numa larga e imensa estrada, para responder a freqüente pergunta: “como se comportam em viagens?”. Não há como negar que o banco mais macio, largo e em dois níveis da Falcon é o grande destaque da moto. Confortável para duas pessoas, permite rodar por horas. Na Lander o banco mais estreito parece confortável até que se sai da Falcon: o contraste é evidente. Para contribuir com o conforto, a Falcon tem guidão apoiado em coxins e as pedaleiras recebem uma “capa” de borracha, diminuindo muito as vibrações. Quem viaja na Lander acaba com as mãos dormentes após algumas horas. Uma dica para quem for rodar exclusivamente em asfalto com a Lander é adaptar uma capa de borracha nas pedaleiras.

A posição de pilotagem é parecida, mas na Falcon o piloto fica mais “embutido” com guidão um pouco mais alto e estreito. Na lander, a gente se sente mais alto e com os braços afastados. De fato, a Yamaha tem 875 mm de altura do banco até o solo, enquanto na Honda são 850 mm.

Fizemos uma simulação interessante. Rodamos 50 km, sem limite de velocidade, para saber se a diferença de tempo seria grande. A Falcon alcançou 145 km/h no velocímetro (cerca de 135 km/h reais), enquanto a Lander chegou a 132 km/h (em torno de 123 km/h). Acelerando com vontade, a Falcon rodou com o motor entre 6.500 e 7.000 rpm, enquanto a lander ficou entre 7.000 e 8.000 rpm. Ao final dos 50 km, a diferença de tempo foi precisamente de apenas 3 minutos! É o tempo de um semáforo fechado. Em compensação, o consumo da Falcon foi de 21,58 km/litro, enquanto a Lander fez 23,31 km/litro. Em termos de autonomia, a Lander é capaz de rodar em média até 290 km com o tanque de 11 litros e a Falcon, com tanque de 15,3 litros, 320 km (respeitando uma margem de segurança de 10%).

Já que o motor maior e mais potente da Falcon não representa uma enorme vantagem no quesito “pressa”, fizemos outra experiência: rodamos a .100 km/h constantes nas duas. A Falcon viajava a tranqüilos 5.000 rpm, a Lander atingia 6.000 rpm. Curiosamente, o consumo da Falcon não mudou muito, ficou em 21,35 km/litro, porém a Lander mostrou uma das vantagens da injeção eletrônica: 27,15 km/litro. Importante lembrar que ambas têm cinco marchas. Mas na Lander fica aquela sensação meio chata de o motor (mais barulhento que o da Falcon) constantemente “pedir” uma sexta-marcha.

Antes de chegar à estrada de terra entre Camanducaia e Monte Verde, passamos por uma seqüência de curvas de alta velocidade. As duas adotam a mesma receita de suspensão, com bengalas convencionais na frente e monoamortecimento atrás. No entanto, a Falcon se revelou uma boa devoradora de curvas, em parte pela suspensão melhor calibrada e também pelos pneus MT 60 da Pirelli, mais voltados ao uso no asfalto. A Yamaha adota o pneu Metzeler Enduro 3, bom na terra e barulhento demais no asfalto.

Finalmente, o campo de provas mais rigoroso: uma sinistra serra repleta de curvas, com piso variando do asfalto à terra sem o menor aviso. Esperávamos um banho da Lander nesse tipo de terreno, mas para surpresa geral a Falcon se comportou de forma mais equilibrada e confortável. A Lander tem suspensões com maior curso na dianteira e na traseira: 240 mm contra 220 mm da Falcon na dianteira, e 220 mm contra 195 mm na traseira. Contudo, a Falcon usa roda traseira de 17 polegadas, o que permite um pneu de perfil mais alto 120/90, enquanto na Lander a roda traseira de 18 polegadas veste um pneu mais baixo, 120/80.

Na estrada

Mesmo numa trilha bem travada a Falcon se sentiu mais “em casa”, apesar de seus 151 kg (seco) contra os 130 kg da Lander. A falta de chuva ajudou a Falcon, porque o pára-lama dianteiro rente ao pneu poderia ser um tremendo “freio de mão” se a moto pegasse uma lama respeitável. O meu companheiro de viagem Cícero Lima (editor da revista DUAS RODAS) se sentiu mais à vontade na Lander, principalmente na hora de subir uma trilha travada, graças ao menor peso da Yamaha.

Em Monte Verde Na trilha

Apesar de ambas adotarem a mesma receita também nos freios, com discos nas duas rodas, a Yamaha continua com o freio dianteiro “borrachudo”, ao passo que na Falcon a frenagem é segura e modulável, mesmo na terra. Essa deficiência do freio dianteiro da Lander vem sendo apontada não apenas por mim desde o lançamento, como também pelos leitores, e ainda não foi melhorada até hoje. Alguns usuários estão adotando o flexível de metal (aeroquip), mas o problema persiste. Talvez seja o caso de testar outras pastilhas. Um dado curioso é que a Lander, apesar do estilo mais off-road, tem a mangueira do freio traseiro passando por baixo da balança e o cilindro mestre muito exposto, enquanto a Falcon, de caráter mais on-road, tem mangueira por cima da balança e cilindro mestre bem protegido. Vai entender esses projetistas do avesso!

Fácil perceber que nas grandes cidades as ruas asfaltadas não significam ausência de buracos. Por isso as motos de uso misto são bastante procuradas. Mesmo com a carenagem de farol, a Falcon tem uma incrível capacidade de esterçamento e se sai bem no trânsito urbano. A Lander tem a vantagem de ser mais alta, permitindo passar com o guidão por cima dos espelhos dos carros.

Se por um lado a Falcon tem a vantagem do maior conforto, espírito mais “estradeiro” e maior autonomia, por outro a Lander é mais moderna, conta com a inovadora injeção eletrônica e painel mais completo (a Falcon tem apenas um hodômetro parcial analógico). E a diferença de preço 25% maior da Falcon não se reflete em uma moto 25% melhor. Espera-se que em 2007 a Falcon diga Adeus ao mercado e seja substituída por uma XR Tornado 400 e pela Twister 400, ambas com motor RFVC de 400cc, mas equipado com injeção eletrônica. Só a injeção pode dar vida nova a esse motor. Ou, surpresa maior ainda, a Honda pode criar uma nova Falcon com roda dianteira de 18 polegadas, dentro do conceito motard e marcar um ponto importante no mercado. Vamos esperar outubro chegar para saber o futuro da Falcon.

Cores, fichas técnicas e preços nos sites www.honda.com.br www.yamaha-motor.com.br

Tite
Geraldo "Tite" Simões é jornalista e instrutor de pilotagem dos cursos BikeMaster e Abtrans.