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Acidentes, graves ou não, são rapidamente esquecidos.

A desgraça, com forte impacto na opinião pública, desvanece à simples leitura de novas manchetes. Não bastam incessantes imagens de ônibus tombados enquanto locutores vociferam culpados, fotos em jornais onde qualquer mancha vermelha causa comoção. A angústia da impotência humana perante vidas perdidas sob escombros veiculares permuta para acanhada alegria sob notícias de esportes, moda, beleza etc. Temas suficientes para desbotar a imagem do prenúncio de morte perenizado no asfalto. Marcas de borracha que mudam abruptamente de direção. Deixam claro que ali, um veículo sofreu violento impacto, desventura de seus indefesos ocupantes. Apenas familiares e amigos perenizam sofrimento. Sofrimento que se pode evitar.

Um obstáculo ocupa a frente do veículo. O motorista se sente seguro apenas porque pensa que consegue frear ou desviar a tempo. Não se importa com a velocidade ou cansaço. Eminente choque. Não adianta a ingestão de estimulantes para evitar o cochilo mortal. Não adianta a compra de veículo com freios de última geração. Limites técnicos e ambientais condicionam a freagem segura. Quanto mais rápido e mais pesado, maior a distância para parar. Explica o choque de caminhões contra veículos parados na via, prognóstico de morte ou sofrimento em cadeira de rodas. Ao motorista culpado, já há uma pena: em sua mente, o filme de sua ação assassina roda incessantemente.

Em fração de segundos, após violento choque, transfere-se elevada quantidade de energia para o veículo. A estrutura dos novos modelos absorve uma parte. A outra, vai para os ocupantes. Sob excesso de velocidade, não basta a considerável carga tecnológica veicular, cintos ou air bags. A morte dos ocupantes se avizinha. Terão que absorver a energia residual do choque. Provavelmente os matará.

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Paramédicos chegam rápido. O pai, ainda preso nas ferragens, suplica para que salvem a menina ao seu lado. Não foi possível evitar o choque na traseira do caminhão. Pista lisa e alta velocidade. Saíra atrasado do escritório e tentava chegar a tempo ao buffet de seu quinto aniversário. Explode em soluços a cada movimento de cabeça daqueles que em vão buscam trazê-la de volta.

O desejo de correr é justificado por inumeráveis motivos. Acobertam a verdade. Emoção. Guia-se com emoção. A propaganda fala de potência? Então é para correr! O belo carro precisa ser visto por todos? Cantar pneus ajuda a chamar a atenção, mesmo que seja um simples ruído ao se efetuar uma curva. Quando os pneus cantam em curva, há indício forte de que se atingiu o limite de aderência. Já não há mais segurança garantida. Quem guia assim, um dia, certamente, estará em uma página de jornal.

Com álcool no sangue, potencializa-se a sensação de segurança. A responsabilidade não embarca com o motorista. Beber, dirigir, acelerar. Bater. Para especialistas, embriaguez traduz o choque violento de veículo solitário em objeto fixo.

Motociclistas insistem na alta velocidade entre corredores de veículos. Acham que seus colegas de risco os protegem. Eles apenas marcarão com multidão, mais um morto em que se busca acusar motoristas próximos.

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Velocidade excessiva? Embota a razão. Guiar sempre com esta faculdade humana a avaliar nossas ações ao volante garante a velhice. E a dos que queremos bem.


*Creso de Franco Peixoto é engenheiro civil, mestre em Transportes e professor do Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário da FEI ( Fundação Educacional Inaciana) .