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Foto: Limite na pista depende da experiˆncia

Foto: Limite na pista depende da experiˆncia

Dois amigos motociclistas combinam uma viagem no fim de semana e programaram estradas sinuosas por gostarem de pilotar em curvas fechadas. Ambos sÆo experientes e tˆm motos iguais. Depois de alguns quil“metros rodados, percebe-se uma diferen‡a fundamental entre eles: seus limites nÆo combinam. Enquanto um freia bem pr¢ximo da curva, inclina a moto e acelera com determina‡Æo; o outro utiliza mais os freios, nÆo inclina tanto a moto e titubeia nas acelera‡äes. NÆo se pode dizer que um ‚ melhor piloto que o outro, simplesmente eles tˆm limites diferentes de pilotagem.

Reconhecer o pr¢prio limite ‚ tarefa para motociclistas com boa bagagem de experiˆncia. Um motociclista novato sabe que seus limites estÆo bem abaixo do padrÆo normal, porque ainda nem sequer tem intimidade com o novo ve¡culo. Por outro lado, os motociclistas experientes e pilotos confirmam que para descobrir o limite ‚ preciso passar dele. Ou seja, quando se erra uma frenagem j  ‚ tarde demais porque o piloto passou do limite.

As motos tamb‚m tˆm seus limites, que sÆo mais f ceis de definir. Uma moto esportiva de passeio, como a nÆo se d  bem numa estrada de terra depois de um temporal, enquanto uma moto de uso misto ficaria meio deslocada numa extensa rodovia plana e asfaltada.

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Foto: Durante o aprendizado pode-se testar os limites

Foto: Durante o aprendizado pode-se testar os limites

Mesmo que o piloto nÆo queira, seus limites sÆo vari veis em fun‡Æo de uma s‚rie de fatores. O mais not vel ‚ a experiˆncia. · medida que o motociclista vai pilotando diariamente, seus limites sÆo alterados, para mais ou para menos, dependendo da situa‡Æo. Exemplo pr tico: um motociclista novato, que faz diariamente o mesmo roteiro da casa para o trabalho ou escola, cada dia pode aprender alguma li‡Æo que aumente seu limite. Quanto mais curvas ele fizer, mais intimidade ter  com as for‡as da F¡sica que tentam manter a moto na trajet¢ria reta. Depois de algum tempo, tudo ser  autom tico e at‚ uma mudan‡a de atrito no asfalto ser  driblada com tranqilidade.

E tudo vai indo bem at‚ acontecer aquele golpe contra o orgulho e o limite do piloto: o tombo.  uma boa oportunidade para descobrir os limites do piloto com rela‡Æo … dor e ao uso indiscriminado de Merthiolate nos arranhäes. Geralmente depois do tombo os limites caem um pouco, junto com a auto-confian‡a. A¡ ‚ hora de conhecer os limites do medo.

Quem pilota moto em competi‡äes e afirma nÆo ter medo, ou ‚ irrespons vel ou ‚ mentiroso mesmo. O medo ‚ natural e instintivo, e aumenta na razÆo direta que o piloto atinge seus limites ou os da moto. Naquelas intermin veis fra‡äes de segundo que vÆo da derrapagem at‚ o tombo, o piloto, j  sem controle da situa‡Æo, fica irremediavelmente com medo.  a sensa‡Æo do “e agora?”, “ser  que o guard rail ‚ muito duro?”, “ser  que a consulta no ortopedista ‚ muito cara?” etc.

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Um piloto experiente pode ter seu limite muito acima do que realmente ele imagina, e existe um momento em que esta realidade ‚ descoberta: quando ele ultrapassa o seu (imaginado) limite. Por exemplo, quando entra numa curva e d  aquela sensa‡Æo “nÆo vai dar”, a¡ o piloto inclina mais a moto, controla o acelerador, corrige a derrapagem e pensa “deu!”. Neste momento ele acaba de descobrir que seu limite ‚ tÆo alto que j  consegue at‚ evitar uma queda.

Um piloto de competi‡Æo briga o tempo todo com seu limite, e o da moto. Quanto mais pr¢ximo estiver do limite, mais r pido anda e passar dele nestas condi‡äes ‚ muito mais f cil do que se pensa. Os pilotos s¢ nÆo caem mais porque tamb‚m sÆo bons na arte de corrigir os erros. Ali s, os pilotos do Mundial de Velocidade costumam dizer que o vencedor da prova ‚ aquele que anda sempre no limite, cometendo menos erros.

No cotidiano ‚ impratic vel andar sempre no limite, mesmo porque o limite do piloto tamb‚m depende do seu estado de esp¡rito. Quando ataca o chamado baixo astral ‚ bom nÆo exigir muito do conhecimento de pilotagem, sob risco de ver o limite pulverizado numa curva fechada. Por outro lado, quando o motociclista acorda inspirado pode descobrir um Valentino Rossi enrustido na sua personalidade. Portanto, antes de sair acelerando, ‚ bom o motociclista fazer uma avalia‡Æo do seu humor: nos primeiros quil“metros e evitar surpresas.

O limite durante uma viagem tamb‚m varia. Quanto mais cansado o motociclista pilotar menor ser  o seu limite. Um bom motociclista sabe reconhecer esta queda e geralmente aproveita para descansar e recuperar seu velho limite.

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Muitas vezes um motociclista passa a vida sem conhecer os limites da sua moto, enquanto outros descobrem antes do que gostariam. Reconhecer o limite da moto ‚ saber qual a capacidade de frenagem, qual a retomada de velocidade, a acelera‡Æo e a estabilidade. Existem duas formas de conhecer isto. A primeira ‚ consultando os meus artigos de pilotagem e seguran‡a. A outra ‚ experimentando na pr tica. Mesmo que o motociclista nÆo use o aparato tecnol¢gico para medir sua moto, ‚ poss¡vel usar a sensibilidade para reconhecer quando ‚ o momento de frear de acordo com a velocidade.

Os limites da moto estÆo intimamente relacionados com seu estado de conserva‡Æo. Uma moto nova, ou bem conservada, permite uma pilotagem dentro de um alto limite, porque tem freios bons, pneus com boa aderˆncia e amortecedores confi veis. Uma moto ruim nÆo permite explorar seus limites e deve ser conduzi-la abaixo do limite normal.

No fora-de-estrada percebe-se mais nitidamente a importƒncia da moto para determinar os limites. Quando o piloto pensa que uma subida ¡ngreme, com erosäes e pedras soltas ‚ muito dif¡cil, algu‚m o adverte para utilizar um pneu com cravos e rela‡Æo secund ria mais curta. Na semana seguinte a subida ‚ vencida sem grandes dificuldades, e o piloto se espanta ao descobrir que o seu limite pessoal estava acima do que imaginava.

 comum ver, no fora-de-estrada, pilotos brigando com a moto para vencer um obst culo que, na verdade, est  acima do seu limite como piloto. Quanto mais equipada estiver a moto, maior ser  seu limite diante dos obst culos. O resto fica por conta do treinamento individual, que colabora para aumentar o limite do piloto. Mesmo assim, existem situa‡äes no fora-de-estrada onde o limite ‚ determinado pelas for‡as da natureza. Depois de um temporal, por exemplo, uma trilha pode ficar realmente intranspon¡vel, e o limite entÆo ser  a for‡a f¡sica do piloto ou o tamanho da corda que levou na mochila.

 dif¡cil determinar o limite de um piloto.  uma questÆo em que a experiˆncia conta mais do que a teoria. Quanto … moto ‚ mais f cil. Uma moto sempre ‚ projetada para um determinado uso, o que de certa forma determina seu limite. Quando o motociclista foge a esta utiliza‡Æo programada, est  superando os limites e pondo em risco sua seguran‡a e a durabilidade da moto. Quando foram lan‡adas as primeiras motos trails no Brasil, logo surgiram as corridas de motocross usando-as, e rapidamente descobriu-se que alguns saltos eram altos demais para as motos. Muitos quadros se romperam at‚ chegarem a conclusÆo: motos trails deveriam receber refor‡os para suportar uma carga acima do limite estabelecido em projeto. J  as motos espec¡ficas para motocross resistem a saltos bem maiores, porque no seu projeto est  previsto um limite de uso bastante rigoroso.

Limites das motos e dos pilotos acabam sendo definidos basicamente pelo uso da primeira e a experiˆncia do segundo. Em todo caso, ‚ melhor come‡ar por baixo para descobrir o limite. O jeito mais comum e dolorido de descobri-lo ‚ passando dele.