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SÃO PAULO Com a falta de financiamento, os planos de consórcio voltaram a ser a solução mais segura e acessível para o consumidor adquirir sua moto zero-quilômetro.

Os consórcios têm dois pontos muito positivos: 1 o cidadão não precisa passar por um inquérito que ateste sua capacidade individual de sobrevivência (Você trabalha? No quê? Onde? Quanto ganha?), como ocorre para a aprovação de um financiamento; e 2 não é preciso comprovar a origem e continuidade da renda através de holerites, extratos contábeis, carteira de trabalho, aplicações, impostos etc.

A moto sai da revenda através do esforço pessoal do motoqueiro ou motociclista, que se compromete a pagar suas parcelas mensalmente, adquirindo a cota de um plano que cabe no seu bolso. A moto também pode sair da revenda antes do término do plano escolhido, se for arrematada através de um lance.

Garantido por leis federais, o consórcio é uma poupança programada. Essa modalidade de aquisição tem um mecanismo simples. Um grupo de pessoas se une para formalizar a adesão a um plano, que fica sob a tutela de uma administradora. Os planos variam entre 12 e 72 meses (1 ou 6 anos). As motos vão sendo distribuídas por sorteios mensais.

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O consórcio exige paciência e, sobretudo, disciplina pessoal. O motoqueiro sabe que terá sua moto zero, e programa os pagamentos de acordo com sua realidade. Por sua vez, o fabricante fica sabendo com antecedência que uma parte da produção será colocada nas ruas, e também opera dentro de uma programação.

Por isso, as montadoras, o governo e os consumidores voltam os olhos para os consórcios. No início do ano, montadoras e governo chegaram a pensar na possibilidade de agregar a segurança dos planos de consórcio à agilidade dos financiamentos para estimular o mercado. Desse modo, o crédito voltaria a ser liberado com rapidez aos consumidores de baixa renda e as motos sairiam das lojas.

Isso não foi feito, devido às particularidades de cada sistema financeiro. Mas uma das novidades da recente lei que renovou os planos de consórcio (de fevereiro, que começou a vigorar agora, em março), estabelece que o dinheiro já pago em planos de consórcio poderá ser transferido para um plano de financiamento, desde que o bem que se pretende financiar seja o mesmo do consórcio (no nosso caso, uma moto) e esteja em nome do mesmo comprador (veja em www.abac.org.br — Associação Brasileira das Administradoras de Consórcio).

Realidade cruel As motocicletas populares continuam com as vendas em queda. O caso é até fácil de ser explicado: os consumidores ficaram com falta de crédito, avalia Sérgio Reze, presidente da Fenabrave (www.fenabrave.org.br — Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). A entidade congrega cerca de 5 mil concessionários autorizadas de todos os tipos e veículos, de 35 marcas distintas. Sobre as motos, Reze acredita que, nesse momento, a reativação do mercado de duas rodas populares está nos consócios.

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Os financiamentos começam a ser liberados aos poucos, principalmente através de iniciativas das próprias instituições financeiras dos fabricantes. Mas os bancos ainda dificultam a liberação do crédito para os consumidores de baixa renda que compram motos populares — porque têm medo da inadimplência.

Segundo uma fonte ligada à Febraban (www.febraban.org.br — Federação Nacional dos Bancos), uma inadimplência de grandes proporções poderá ser gerada devido ao aumento do desemprego, nos próximos meses. Por isso, muitos bancos já estariam fazendo reservas estratégicas, de olho nessa possibilidade.

Oficialmente, a Febraban afirma que não faltará crédito em 2009, conforme mostra a reportagem da revista bimestral Dealer, da Fenabrave. Entrevistado pela revista, Rubens Sardenberg, economista-chefe da entidade, afirma que a atual falta de crédito (entenda-se financiamentos para comprar motos) se deve a um gargalo na concessão. Esse gargalo estaria sendo provocado pelas incertezas dos bancos quanto ao desenrolar da crise mundial. Enquanto isso não é resolvido na prática, para quem está a pé o jeito de tirar uma moto da revenda é através do consórcio.

Com a queda nos financiamentos, a Abraciclo (www.abraciclo.org.br — Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares ), também aposta nos consórcios. A entidade mostra que as motos populares ainda não recuperaram o ritmo de vendas.

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A solução para voltar a girar os negócios junto ao consumidor de baixa renda, que compra as motos populares para uso no transporte e alimenta do mercado de duas rodas, é facilitar o crédito para os motoqueiros, diz Moacyr Paes, diretor-executivo da entidade. Precisamos voltar ao que acontecia antes de julho de 2008, quando havia confiança e o retorno do dinheiro cedido através do financiamento para os bancos era certo, analisa.

Por outro lado… Sai o financiamento, entra o consórcio. A economia global, o ritmo de crescimento, produção e das relações comerciais estão em plena mutação. Nesse quadro onde pipocam notícias ruins, qualquer iniciativa como a compra de uma moto — deve ser feita com calma. E o consórcio aparece no horizonte como um porto seguro.

Essa modalidade, que foi a grande responsável pelo salto do mercado de duas rodas nos últimos dez anos, acaba ganhar um sopro de renovação. Atualmente, 3,6 milhões de brasileiros participam de planos de consórcio em geral, e a modalidade deve crescer entre 6 e 8% este ano. Como se nota, não são apenas os motoqueiros e motociclistas que estão em busca dos consórcios.

Por isso, o governo renovou o sistema. As novas regras, anunciadas dia 9 de fevereiro, só valem para os novos planos de consórcios feitos a partir de agora.

Além dos bens já consagrados que podiam ser adquiridos, como veículos e casas, os consórcios estão disponíveis para se obter serviços, como viagens, cirurgias plásticas e educação.

Outra mudança nas regras é que os consorciados inadimplentes por mais de três meses ou que desistem de participar podem receber o dinheiro de volta, caso sejam sorteados. Antes, todos os integrantes tinham que esperar até o fim do grupo. A devolução não inclui a taxa de administração e o seguro. Para receber tudo de volta, o consorciado precisa ter pago cinco prestações.

Ao contrário do financiamento, o consórcio não têm juros embutidos — mas tem uma taxa de administração (10% do valor do bem), taxa de seguro e fundo de reserva.

A falta de financiamentos bateu na porta das concessionárias de todos os fabricantes de motocicletas. A Honda, maior montadora do Pais, por exemplo, viu o cenário econômico dos últimos meses repercutir de forma positiva para o seu consórcio. Para a marca, a crise mundial reforçou a modalidade como a melhor alternativa para a aquisição de motos zero. O Consórcio Nacional Honda realizou nos últimos meses um trabalho intenso de parceria com a rede de concessionárias, e dessa forma conseguiu explorar as oportunidades que surgiram com a crise, diz um executivo da montadora.

Se compararmos as vendas dos meses pré e pós-crise, notamos um crescimento de 13%. A perspectiva é de aumentar as vendas através do consórcio em 5,4%, em relação ao resultado obtido no ano passado, afirma ele.