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A Trilha do Télegrafo, ou Caminho do Imperador, é uma estrada de 114 km ligando Guaraqueçaba no Paraná a Cananéia no Estado de São Paulo. Construída no século XIX por ordem do Imperador Dom Pedro II, sua função era fazer ligação da Província de São Sebastião com as regiões mais ao sul. Em meados do ano de 1840, recebeu um piso de pedras que permitia o trânsito de carroças e trinta anos depois, em 1870, o então Imperador determinou que fosse construída às margens da estrada, uma linha de telégrafo que fizesse comunicação com o sul do país, na época da Guerra do Paraguai, ganhando assim o nome de TRILHA DO TELÉGRAFO.

Com o passar dos anos e a falta de conservação, a estrada deteriorou-se, chegando ao ponto de ficar praticamente intransitável para os tradicionais veículos de quatro rodas. Hoje trafegam pela trilha, com sérias dificuldades, apenas motos, quadriciclos e animais de carga.

As motos, quatro Ténéré 250, uma XT 660 e uma Ténéré 660

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A dificuldade de acesso conserva intocada a floresta nativa; espetacular

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O verdadeiro desafio da trilha são “apenas” os 12 km que separam as vilas de Boituva (PR) e Santa Maria (SP).

As dificuldades apresentadas nessa pequena distância transformaram a trilha no paraíso de motociclistas aventureiros, exigindo de quem decide transpô-la, muito vigor físico, disposição e equipamento adequado.

Em 2004 , Cacá Clauset descreveu assim a Trilha do Telégrafo em uma reportagem para a revista quatro rodas: Entre os jipeiros, o Telégrafo é considerada a mais difícil trilha do Brasil, reunindo mata fechadíssima em vários trechos, solo com lama negra e muita água caindo do céu — a região tem um dos índices pluviométricos mais altos do país”. Pois foi nesse cenário que seis amigos curitibanos resolveram se aventurar em novembro de 2012.

12 quilômetros de muito barro

12 quilômetros de muito barro

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Nossos heróis são Anderson Druszcz, Fernando Azevedo, Rogério Tomio, Jacson Coimbra, Márcio Camargo e Rafael Martins, proprietários de motos Yamaha, sendo quatro XTZ 250 Ténéré , uma XT 660R e uma XT 660Z Ténéré. Vigor físico e disposição o sexteto tinha de sobra, só esqueceram de uma coisa: equipamento adequado. As motos utilizadas estavam exatamente como vieram de fábrica, inclusive os pneus lisos, inadequados para o tipo de piso que iriam enfrentar na difícil jornada. Uma aventura dessas exigiria pneus 100% off-road, mas o grupo não sabia exatamento o que os esperava e resolveu ir para “o que der e vier”.

Quando um cavalo de força (ou melhor, uma mula de força) fala mais alto que os 48 CV da máquina

Quando um cavalo de força (ou melhor, uma mula de força) fala mais alto que os 48 CV da máquina

O vídeo da aventura (17m51s) postado no Youtube por Anderson mostra detalhes das dificuldades que o grupo enfrentou ao passar por lugares praticamente intransponíveis, exigindo até o auxílio de um animal para retirar quatro motos do atoleiro. Vendo as fotos o leitor deve questionar o por quê de não passar pela grama; pois lá é que está o verdadeiro atoleiro. Ao contrário da área com vegetação, a estrada barrenta ainda tem a base do piso mais consistente, que evita o afundamento da moto até o chassi.

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Enquanto a "Nandinha" não chegava

Enquanto a "Nandinha" não chegava

ENTREVISTA
Márcio Camargo
foi o idealizador da aventura e motivador do grupo.

Que tipo de preparação vocês tiveram?
Márcio: Nenhuma, não sabíamos o que encontraríamos pelo caminho. Quando estávamos na metade da trilha é que nos demos conta da fria em que tínhamos nos metido.

Não imaginaram que os pneus lisos trariam problemas?
Márcio: O nosso pensamento era: se não der, voltamos.

Em algum momento pensaram em desistir?
Márcio: Isso passava pela cabeça de alguns, mas demos apoio uns aos outros e continuamos até o final.

Quantas horas demoraram para percorrer os 12 km mais difíceis?
Márcio: Praticamente 26 horas, entramos àss 16h do dia 15 e saímos no dia 16 às 17h40.

Após cada curva uma nova surpresa

Após cada curva uma nova surpresa

Cite fatos curiosos e interessantes da travessia.
Márcio:
Os atoleiros, pontes e locais onde era necessário estudar a melhor maneira de passar, alguns bichos que à noite não conseguíamos visualizar totalmente ou até não identificarmos quais eram. E não podemos nos esquecer da Nandinha (a mula) que puxou as motos do Fernando, Jacson, Rafael e Rogério Tomio.

Voltaram pela trilha?
Márcio: Não. Saímos em Porto Cubatão e voltamos a Curitiba pela BR 116.

Fariam de novo?
Márcio: Estamos planejando fazer quando completar 1 ano, só que desta vez com pneus apropriados!

Chegaram muito cansados no final da jornada?
Márcio: Acabados seria a melhor palavra.

No final da jornada deu tudo certo, e ficaram muitas histórias para contar.

Cair com a moto praticando off-road é inevitável

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Quando menos se espera, outro tombo; foram muitos

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Uma subidinha dessas é um desafio que exige alguma experiência

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O sacrifício é recompensado quando se chega a lugares como esse

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As motos ficaram com barro até no documento

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Localização geográfica

Localização geográfica

Mário Sérgio Figueredo
Motociclista apaixonado por motos há 42 anos, começou a escrever sobre motos como hobby em um blog para tentar transmitir à nova geração a experiência acumulada durante esses tantos anos. Sua primeira moto foi a primeira fabricada no Brasil, a Yamaha RD 50.