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Nas ruas de Daytona Beach a moda é desfilar com as motos esportivas longas e rebaixadas. Em princípio soa brega – como a maioria das tendências americanas – mas aos poucos percebe-se que essa mania está se espalhando rapidamente.

É uma clara inspiração nas motos de arrancadas, outra nova mania nacional e que começa a pegar aqui também. As moto-dragster têm um motor infernal de 300 cv ou mais, que necessita pneus largos para poder tracionar essa cavalaria toda. Só que existe uma limitação para a largura do pneu: a balança traseira. No princípio os pilotos simplesmente alargavam a balança e pronto.

Só que piloto é uma espécime que nunca está satisfeita. Os motores foram ganhando sempre mais e mais potência e a necessidade de segurar a roda dianteira no chão foi ficando cada vez mais difícil. Primeiro partiram para a solução mais simples: rebaixaram a frente da moto. Com isso a transferência de massa para a dianteira teria uma agravação, já suficiente para estabilizar a frente nas arrancadas.

Mais largo Todo problema de tração das motos tem a raiz na dificuldade de conseguir rodas e pneus mais largos. Nos últimos anos a tecnologia de extrusão e fundição de ligas metálicas desenvolveu em velocidade compatível com os dragsters. Com auxílio de programas gráficos CAD e CAM, ligados a tornos e máquinas de extrusão, é possível fazer rodas de liga leve em qualquer medida, com o desenho que o freguês solicitar. Nos programas tipo American Chopper é comum ver um desenho no papel se transformar em uma roda larga para receber pneus 220 ou maiores.

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A facilidade levou à popularização que levou às ruas. Se a construção da roda de forma artesanal facilitou a personalização, por outro lado tiveram de lidar com uma nova dificuldade: como colocar a roda larga na balança? Simples: basta alongar a balança e deixar a roda traseira totalmente para fora.

A técnica para fazer uma balança mais comprida foi facilmente dominada porque o alumínio é uma liga fácil de trabalhar. Mas não pense que se trata de uma gambiarra do tipo duas balanças serradas e soldadas. Com a mesma facilidade com que fazem rodas, os americanos fazem qualquer peça de alumínio. Com a balança nova, mais comprida, as motos ficaram com uma distância entre-eixos gigantesca!

Outro motivo para alongar a balança traseira é impedir que a frente levante demais nas arrancadas estilo dragsters. Como se sabe, quanto maior for a alavanca, maior é o apoio. Ao deslocar a roda para longe do motor e ainda rebaixar a dianteira fica assegurada a transferência de massa para frente, dificultando ainda mais a empinada na hora do vamos ver.

O lado chato As arrancadas são uma febre nacional nos Estados Unidos. Eles devem disputar arrancadas até com carrinho de supermercado no meio das gôndolas. Por isso não se importam muito se a estabilidade em curvas fica prejudicada, desde que garanta a sobrevivência da própria pele nas retas. Sim, porque ao alongar a balança traseira e rebaixar a frente a estabilidade em curvas vai pra cucuia.

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Quanto mais curta (menor distância entre-eixos) for a moto, mais maneável. Isso é uma verdade inquestionável. Portanto, a recíproca é verdadeira, ou seja, quanto mais longa mais instável. Por isso imagino que pilotar uma Drag Bike exige muita atenção nas curvas e torcer para encontrar apenas estradas bem retas pela frente, coisa que os americanos se orgulham de ter aos milhares.

Certamente são motos pra desfilar aos domingos, já que nos EUA o uso da moto é essencialmente para lazer. E também a lei americana é bem diferente da nossa. Lá eles podem fazer o que bem entender com as motos, mas se o motociclista se envolver em um acidente e for comprovado que foi decorrente das mudanças, então o cara pega uma cana brava, paga multa, perde o seguro e se bobear mandam ele pra trincheira na faixa de Gaza!

Como você pode ver nas fotos, o capacete já virou opcional em alguns estados, mas o motociclista tem de fazer um seguro de vida altíssimo. O único equipamento de segurança obrigatório são os óculos protetores. Vai entender esses gringos!

Outra característica da Drag Bike é o motor super preparado que inclui turbo compressor e injeção de nitro. Para reforçar ainda mais a força em baixa, os escapes quase nem existem! São pequenas curvas que saem do coletor de escapamento e praticamente acabam antes mesmo da largura do motor! O barulho, obviamente, é ensurdecedor.

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A exemplo de outras modas, essa também está se espalhando por outros continentes e já baixou aqui em terras brasileiras. As primeiras drag bikes podem ser vistas em algumas provas de arrancada, mas jamais circularão pelas ruas, pois fere totalmente a legislação.

Aposto como muita gente olhou as fotos e já começou a imaginar sua moto com a balança alongada, a frente rebaixada e uma imensa roda traseira. Pois pode esquecer, porque nossa legislação impede tanto as rodas descobertas, quanto as alterações nas características originais da moto. Nas provas de arrancada realizadas no Brasil, as motos da categoria top já são preparadas no conceito drag bike, embora limitadas ao uso em circuito fechado.

Tite
Geraldo "Tite" Simões é jornalista e instrutor de pilotagem dos cursos BikeMaster e Abtrans.