Não é raro encontrar em rodas de conversa de motociclistas afirmações como “Harley-Davidson não tem tecnologia, é uma moto ultrapassada.” E é o suficiente para dar início a uma discussão sem fim, onde os amantes da marca apelam e outros criticam, mas vamos para os fatos.
Marca reflete as mazelas dos representantes no Brasil e tem que renascer a cada dia – A imagem original da Harley-Davidson prevalece no mundo todo
O sucesso de mercado é indiscutível, porque os números falam por si. Desde que as vendas dispararam para a marca no Brasil, naqueles dias em que a marca amargava quedas em vendas (2009) em todo o mundo, a administração da empresa abriu os olhos para o nosso mercado. Pouco depois, há cinco anos, a empresa se instalou em nosso país e iniciou a implantação da filosofia real da Harley-Davidson no Brasil. Um processo de renascimento a cada dia.
Tem sido um trabalho árduo para desfazer a imagem refletida para a empresa vinda de seus representantes anteriores. E também eles aprendem a cada dia como funcionam as coisas para esse lado do equador. Há quem diga que não melhorou, que as peças ainda demoram a chegar e muitas motos permanecem paradas nos salões das concessionárias, aguardando peças.
Contratos com fornecedores de serviço ainda permanecem da época dos representantes. A Penske americana ainda é a empresa de logística que faz a importação dos componentes e peças para reposição e eles levam muito tempo para agregar a carga até um volume e peso que compense transportar. A HD procura firmar novos contratos para um transporte mais rápido e que não dependa dessa agregação de cargas.
Centro de Treinamento da Harley-Davidson em São Paulo e a nova Street Glide CVO
Outro desafio tem sido na área de pós vendas. Várias concessionárias já foram abertas e estão funcionando em várias regiões do Brasil. Os treinamentos têm sido feitos com os técnicos no H-D BTU (Brasilian Training Unit) instalado em São Paulo. O próximo desafio será o treinamento dos concessionários para que saibam apresentar os produtos e fazer uma entrega técnica. Nesse momento o vendedor mostra todas as qualidades ao comprador, familiarizando-o com todos os recursos da motocicleta.
Alexandre Gonçalves da Silva ministra os treinamentos para os mecânicos das concessionárias de todo Brasil
Alexandre Gonçalves da Silva, Gerente de Treinamento da unidade BTU explica os avanços e particularidades tecnológicas dos modelos Harley-Davidson. E começa pelo começo: a motocicleta Harley-Davidson não é voltada para esportividade, sua maior vocação é o turismo. A linha Touring foi a que recebeu a maior parte das inovações e ganhou o nome de Projeto Rushmore, que realizou uma extensa pesquisa junto aos proprietários de H-D no mundo todo e mostrou as inovações mais desejadas pelos usuários das motocicletas. Em 2014 essas inovações foram implementadas e pode-se destacar entre elas, o novo sistema elétrico HD-LAN instalado em toda linha Touring.
farois em LED entregam muita potência de iluminação com baixo consumo
Os novos módulos de comutadores dos punhos são independentes do chicote e respondem com um sinal para a central LAN que identifica a função e executa o comando. Por exemplo: ao se acionar o pisca para a esquerda, o sinal chega para ser processado nessa central e a consequência é a emissão de energia para a lanterna para que pisque.
Assim é para todas as funções da motocicleta. Ao acionar o freio por exemplo, o processamento é prioritário para ele, ficando funções como o pisca, buzina e controles do som para serem executados posteriormente. Quer dizer que além de todas as funções serem processadas pelo “cérebro” da motocicleta, há uma prioridade, de forma que as funções prioritárias nunca se atrasem por causa de algum congestionamento nos canais de processamento.
Os freios combinados Reflex são gerenciados pela H-D LAN e permite o uso combinado mas mantendo grande independência para uma boa modulação da frenagem
Esse processamento permitiu também a administração do freio Reflex, em que ao acionar o traseiro somente, uma parcela da pressão do sistema vai para a pinça esquerda do freio dianteiro para que de forma cruzada, os dois freios sejam acionados, mas a prioridade é do traseiro que é o dono do comando.
Com o dianteiro também é assim. Ao se acionar o manete de freio, uma pequena parcela da pressão do sistema vai para a pinça traseira, mantendo o equilíbrio da motocicleta e o ABS continua o seu controle sobre o travamento das rodas normalmente.
Nos motores há ainda mais tecnologia aplicada. Os novos comandos de válvulas provocam a situação de “overlap” onde as válvulas de exaustão continuam abertas no momento em que as válvulas de admissão começam a abrir. Essa condição permite o resfriamento das bordas da válvula de exaustão, porque elas recebem o jato de mistura ainda fria.
Sistema de arrefecimento a líquido da Harley-Davidson
Adicionalmente o sistema de arrefecimento a líquido foi implementado na configuração clássica do novo motor 103 HD a 45°. São dois radiadores com uma bomba elétrica que circula o líquido entre as válvulas de escape dos dois cabeçotes. Esse sistema, além de permitir a homologação do Promot4, segunda fase que exige uma mistura mais limpa, com menos combustível, também diminui o calor sob o banco, no cilindro traseiro.
Mas para esse problema específico há outra solução ainda mais importante. Um comando permite que na marcha lenta, quando em longo espaço de tempo, nas grandes cidades, se possa desligar o cilindro traseiro, mantendo mínimo o aquecimento sob o banco.
Todo fluxo de ar foi reprojetado para favorecer o conforto do piloto e passageiro e o sistema de entretenimento foi integrado aos comandos do H-D LAN. O novo Boom Box 6.5 agora tem tela touch screen e funciona também pelos comandos dos punhos.
Pintura é feita nos EUA por um processo especial que leva sete camadas de verniz
Muita coisa da tecnologia atualmente aplicada nos modelos da Harley-Davidson está sob o manto do reluzente acabamento da pintura com sete camadas de verniz. A apresentação que fez o Alexandre Gonçalves da Silva na última quarta feira, 19 de agosto, serviu bem para quebrar o estigma que ainda restou da herança da época dos representantes e importadores da marca.
“Agora temos a comunicação e a atenção de Milwaukee ligada diretamente com nossa rede de computadores internos que são atualizados constantemente com as informações mais relevantes para o nosso mercado”, comentou o Alexandre quando perguntado como as demandas dos clientes brasileiros estão sendo tratadas pela matriz.
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