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Normalmente aprecio contar mais histórias vividas por brasileiros, tanto por amor ao Brasil como pela riqueza e abundância existentes nestas narrativas. No entanto existem pessoas que vieram ao nosso mundo com missões especiais de torná-lo melhor e que transcendem meros detalhes como nacionalidade, tornando-se patrimônio da humanidade através do heroísmo verificado em suas nobres realizações, verdadeiras lições de vida.

No caso em questão, me identifico bastante com esta lenda, que se firmou ainda em vida, para se consagrar ainda mais depois de sua ascensão ao mundo dos iluminados. Isso se deu não somente pelo seu inigualável desempenho nas pistas ou pela longevidade como piloto, mas principalmente pelas lições de humildade e amor ao próximo.

Estou falando de Willian Joseph, “Joey” Dunlop, que escolheu nascer em 25 de Fevereiro de 1952 em Ballymoney, Irlanda do Norte, para deixar seu nome gravado nos anais do motociclismo de competição em estradas e ruas, como o Tourist Trophy (TT) realizado na Ilha de Man.

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Considerado a Meca do motociclismo britânico, foi banido dos calendários da FIM (Federação Internacional de Motociclismo) na década de 60 pelo alto número de mortes e ferimentos verificados em seus participantes. Apesar dessa alta periculosidade comprovada e a falta de apoio dos órgãos representativos, a cada ano só se viu crescer o número de concorrentes, tornando-se a prova mais rústica do planeta.

Em 1969, levado pelos seus amigos Meroyn Robinson e Kennedy Frank, Joey Dunlop participa de sua primeira corrida no circuito de Maghaberry, fazendo notórias suas qualidades. Nesta ocasião, estes três pilotos formam a equipe de Arnoy com Jim Dunlop, seu irmão, que os auxiliava na preparação das motos.

Nos próximos oito anos, apesar de alguns acidentes que o deixaram longe das pistas, boas colocações e memoráveis duelos com os melhores pilotos de então, fizeram-no respeitado no meio. Só em 1977 aconteceu sua primeira vitória nas provas e justamente na sua preferida Ilha de Man, com uma Yamaha TZ 750 de motor dois tempos.

Graças ao seu ecletismo, disputou praticamente todas as categorias desde 125, 250, 350, 600, 750 até as de 1000 cc, construindo um imbatível plantel de mais de 160 vitórias, sendo 26 delas somente no TT da Ilha de Man e 5 campeonatos Mundiais de Fórmula 1 (categoria de motocicletas com provas de rua/estrada realizado na Europa).

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Apesar de todo seu sucesso, continuava simples e humilde, demonstrando abnegação e paciência a toda legião de fãs que o solicitava dentro e fora das pistas, perdendo tempo precioso no acerto das motos para seções intermináveis de fotos com admiradores.

Fora das pistas, fazia uso de sua fama tão somente para conseguir doações a campanhas de assistência social aos menos favorecidos. Lotava caminhões que dirigia pessoalmente às zonas de guerra como da antiga Iugoslávia, Bósnia, România e Albânia, com sério risco à sua sobrevivência. Totalmente dedicado a sua família, que formou a partir de 1972 ao casar-se com sua namorada de juventude Julie, que lhe deu 5 filhos, aos quais dava exclusividade nas folgas entre corridas.

Altamente competitivo aos 48 anos de idade, dava show nas pistas ao faturar 3 categorias (125, 250 e Fórmula 1) no ano de 2000 com suas Honda, marca que defendeu por mais de 10 anos. Pela sua simplicidade, não recusava convites para participar de provas nada famosas em qualquer tipo de circuito, pelo puro prazer de pilotar. Ao ser indagado sobre sua aposentadoria, por ocasião de ferimentos e perda de amigos em corridas, retornava com sua timidez dizendo: “É a única coisa que eu faço melhor. Por que parar?”

E foi dessa forma que Joey deu por cumprida sua missão. Logo após dar seu último espetáculo na sua querida Ilha de Man, aceitou correr nas ruas de Tallinn na Estônia para levantar aquela nação. Durante a prova das 125, quando disputava a ponta, caiu uma chuva torrencial de surpresa, ocasionando a perda de aderência de sua moto em alta velocidade, projetando-o de encontro às árvores, morrendo instantaneamente.

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Assim partia um dos últimos representantes do romantismo no motociclismo de competição, talvez o maior. Para se ter idéia, no seu funeral, na cidade que nasceu e viveu toda sua vida, compareceram quase 100 mil veneradores de todo o mundo, órfãos inconsoláveis pela perda do ídolo querido. Passamos algo semelhante com a perda do Ayrton Senna. Lembram-se?

Pois é. Quem sabe na sua próxima existência ele escolha o Brasil para continuar seus feitos? Bem ao nosso gosto, não?

  • Título no TT da Ilha de Man
  • 1977 Jubileo Classico
  • 1980 Classico
  • 1983 Fórmula 1
  • 1984 Fórmula 1
  • 1985 Fórmula 1, 250cc e Senior
  • 1986 Fórmula 1
  • 1987 Fórmula 1 e Senior
  • 1988 Fórmula 1, 250cc e Senior
  • 1992 125cc (Igualando 14 vitórias de Mike Hailwoods)
  • 1993 125cc (Quebrando recorde de Mike Hailwoods)
  • 1994 125cc e 250cc
  • 1995 250cc e Senior
  • 1996 125cc e 250cc
  • 1997 250cc
  • 1998 250cc
  • 2000  Fórmula 1, 125cc e 250cc