Tema conhecido, problemas expostos e soluções indicadas. Mas pouca coisa mudou. As estatísticas e a opinião pública continuam apontando o dedo para os culpados por quase todos os problemas e as mortes no trânsito: a motocicleta – veículo perigoso – e o motociclista – mal educado. As autoridades ainda demonstram pouco ou nenhum conhecimento sobre o veículo e a forma de conduzí-lo. O resultado é uma mescla de ações práticas que resultam vazias e que essencialmente, vão no sentido contrário do que seria o mais indicado: educar, fiscalizar e punir.
É por isso que acertadamente a Abraciclo – Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares – realiza eventos para debater, expor e apontar caminhos sobre o mesmo tema: Segurança. Em sete meses, a Abraciclo já realizou dois grandes eventos para a mesma finalidade.
O primeiro aconteceu em novembro de 2010 e na última sexta-feira, 20 de maio de 2011, aconteceu o II Workshop Abraciclo. Desta vez foi uma reunião de especialistas em diversos temas relacionados direta ou indiretamente à segurança do motociclista que, uma vez mais, debateram os problemas e apresentaram caminhos. Alguns foram mais enfáticos e apontaram culpados: o poder público, esta “entidade” que atende por diversos nomes e que pode ser encontrada em locais diferentes e espalhados por todo o País, nos três Poderes da República – Legislativo, Executivo e Judiciário – e nas três esferas de Governo – municipais, estaduais e federal.
O II Workshop Abraciclo teve formato dinâmico, com os vários convidados divididos em painéis de três temas: Pilotagem Segura, Equipamentos e Evolução Tecnológica. Além dos debates, duas palestras entremearam os debates para falar sobre Seguros e Segurança Viária. Os 14 especialistas em maior ou menor grau e ênfase convergiram para uma mesma conclusão: este tal de “poder público” tem culpa, mas todos os envolvidos devem pressionar para que as coisas aconteçam efetivamente e apresentem os resultados esperados: mais segurança para o motociclista e menos mortes no trânsito.
De todos os debates e exposições feitas, destacam-se algumas citações e opiniões que acrescentaram novas informações ao assunto e despertaram o interesse do público que compareceu. Veja a seguir os autores e alguns destes destaques.
Magnelson Carlos de Souza, presidente da Feneauto – Federação Nacional das Autoescolas, disse:
“Não há formação. Há adestramento.”, sobre o que fazem as autoescolas em relação aos motociclistas.
“Temos legislação que foi atualizada, mas o poder público não cumpre, não faz cumprir e não fiscaliza. Ele é omisso e negligente.”, sobre o papel do orgãos responsáveis pelo trânsito.
“Existe uma norma vigente para que os fiscais examinadores dos Detrans passem por reciclagem para atualização, mas ela não é cumprida.”, sobre treinamento e formação de fiscais e examinadores.
“Imprudência, imperícia e negligência.”, sobre a causa dos acidentes e da mortes de motociclistas no trânsito.
“O Governo Federal trata o tema trânsito com descaso, sem prioridade nenhuma.”, ilustrando o fato de que desde o final do ano passado o Contran e o Denatran estão sem presidente e poderá ser nomeado para acumular o cargo um político sem qualquer experiência com assunto.
“Na Espanha, por exemplo, o exame é feito em duas fases: primeiro em circuito fechado e depois na via pública.”, sobre os bons exemplos que deveriam ser seguidos no Brasil.
Walter Kauffman Neto, engenheiro, consultor e perito especialista em acidentes de trânsito, disse:
“O trânsito no Brasil é planejado e executado por amadores.”, conclusão a que chegou após circular pelo Brasil e observar os mais variados defeitos nas vias públicas.
“Educação, fiscalização, punição.”, sobre o fundamento do caminho a ser seguido para solucionar os problemas de acidentes no trânsito.
“Protege-se o poste e não quem vai se chocar com ele,” sobre o uso de proteção de aço colocada na base dos postes ao invés de utilizarem pneus, por exemplo.
“26% da frota circulante é de motocicletas e 69% dos acidentes envolvem motocicletas. Tem-se a impressão que motociclistas e motocicletas caem sozinhos na via pública.”, sobre as falhas nas estatísticas brasileiras.
José Luiz Terwak, Gerente dos Centros Educacionais de Trânsito Honda – CETH, disse:
“Hoje nosso foco principal é formar instrutores.”, sobre a importância de disseminar a educação de motociclistas.
“Postura viciosa e mal posicionamento sobre a motocicleta leva o piloto a retardar suas reações,” sobre um dos maiores problemas que se encontra nos cursos de reciclagem de motociclistas.
“Respeitar é o verbo mais praticado quando se usa uma motocicleta: respeitar as leis, os outros veículos e todos os limites.”, dando uma única dica para todos os motociclistas.
Sandro Esgolmin, engenheiro especialista em segurança do trabalho na AMBEV, disse:
“Treinamento e reciclagem é fundamento.”, sobre seu trabalho básico com o contingente de 4 mil motociclistas que trabalham na Ambev.
“Na fase pré-admissional, 30% dos candidatos são reprovados no exame motociclístico.”, ilustrando o despreparo com segurança que os motociclistas habilitados possuem.
“Síndrome do pole-position.”, sobre o pior vício dos motociclistas treinados pela Ambev, que querem sair na frente na hora que o semáforo fica verde.
Rolf Epp, diretor de vendas e marketing da BMW Motorrad Brasil, disse:
“A educação não termina quando se sai da escola e assim deve ser com o motociclista.”, referindo-se à importância dos cursos de reciclagem.
“O uso correto e permanente de todos os equipamentos de segurança é fundamental.”, sobre roupas, calçados, luvas e capacetes de boa qualidade que devem ser utilizados mesmo em pequenos trajetos.