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Público se envolveu nas discussões e deixou claro o bom nível do evento

Público se envolveu nas discussões e deixou claro o bom nível do evento

O III Workshop Abraciclo, que aconteceu na última sexta-feira, 18/5, em São Paulo (SP), abordou vários temas relativos à bicicleta e à motocicleta, mas os debates convergiram para um mesmo caminho: educação. Pedestres, ciclistas, motociclistas, motoristas e até (principalmente???) as autoridades que cuidam do trânsito precisam ser melhor educados. É bom esclarecer que o termo educação aqui se refere aos dois sentidos da palavra aplicada: o da formação específica e o de saber obedecer regras para o convívio social.

A bicicleta de bambu, parte do programa Escolas de Bicicleta, que incentiva crianças da rede pública a usar corretamente a bicicleta no dia-a-dia

A bicicleta de bambu, parte do programa Escolas de Bicicleta, que incentiva crianças da rede pública a usar corretamente a bicicleta no dia-a-dia

O evento teve o mérito de ter sido mais objetivo nas discussões e conseguiu manter o foco da audiência que superou as 150 pessoas presentes, entre jornalistas, integrantes de órgãos públicos, estudantes e profissionais que lidam com os temas. Foram ao todo 5 painéis com 50 minutos cada e os temas se dividiram assim:

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– Como viabilizar o uso da bicicleta em centros urbanos?

– Não é só acidente

– O papel da fiscalização de trânsito no comportamento dos condutores

– Alteração no processo de habilitação

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– Mudanças de comportamento para um trânsito mais seguro

Veja a seguir algumas declarações dos debatedores que merecem destaque.

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Evelyn Araripe

Evelyn Araripe

Evelyn Araripe, educadora ambiental e ciclista urbana:

“O estímulo ao uso da bicicleta vai muito além da infra-estrutura viária. Precisa vestiários, estacionamento…”, sobre a falta de estímulo para que os cidadãos usem mais a bicicleta como meio de transporte.

“Nos EUA as empresas dão benefícios reais aos funcionários que usam bicicleta”, dando uma boa ideia para estimular o uso da bicicleta como meio de transporte.

“A intermodalidade é um objetivo e uma boa solução”, sobre a necessidade de melhorar a infra-estrutura para os ciclistas nas estações de trem e metrô.

Eduardo Jorge

Eduardo Jorge

Eduardo Jorge, médico, ciclista e secretário do Verde e Meio Ambiente do município de São Paulo:

“Entre os meios de transporte, o sapato continuará sendo o principal”, sobre a importância de se cuidar dos direitos do pedestre.

“O ciclista não está isento de seguir regras e precisa se educar”, sobre a falta de educação que muitos ciclistas demonstram.

Reginaldo Paiva, engenheiro , presidente da Comissão de Bicicletas da ANTP e diretor da UCB – União dos Ciclistas Brasileiros:

“As viagens de bicicleta representam um volume de viagens 4 vezes maior que as viagens de táxi na cidade de São Paulo”, sobre a importância de se dar mais atenção aos ciclistas.

Reginaldo Paiva

Reginaldo Paiva

“Na Microsoft, nos EUA, quem desiste de usar carro ganha 190 dólares de bônus por mês”, sobre estímulos para não usar o carro.

“Quem deixa de usar transporte coletivo está usando moto ou bicicleta”, sobre o aumento de cidadãos nas ruas usando motos e bicicleta.

“O pedestre faz o gesto com a mão, mas não tem certeza de que foi visto e entendido”, sobre acenar com a mão para mostrar que deseja atravessar a rua na faixa de segurança.

“Pesquisar corretamente é a única forma de identificar os locais onde se deve implantar ciclovias e ciclofaixas”, sobre a falta de dados confiáveis para implantar espaços adequados e seguros aos ciclistas.

“Os políticos adoram falar de bicicleta porque sobre uma bicicleta tem um voto e se for criança ou mulher tem mais dois ou mais votos”, sobre o aumento do debate sobre o tema em ano de eleições.

“Escalonar a velocidade nas ruas das cidades é uma boa forma para reduzir o risco de acidentes e suas consequências”, sobre a ideia de reduzir as velocidades máximas por faixa em cada via.

Marcelo de Rezende

Marcelo de Rezende

Marcelo Rosa de Rezende, mestre e doutor em ortopedia e traumatologia, atua no Hospital das Clínicas de São Paulo:

“Uso moto todos os dias e trato dos acidentados de moto que chegam no PS do HC”, ilustrando seu completo conhecimento de causa sobre acidentes com moto.

“As regras para uma moto circular no trânsito são as mesmas que para um carro, mas a moto é totalmente diferente”, sobre a necessidade de se criar regras específicas para a circulação de motos.

“Não há equipamento que possa proteger um motociclista de um ônibus que passa sobre sua perna”, sobre os limites de proteção que os equipamentos de segurança oferecem.

“Precisamos saber as causas reais dos acidentes e para isso outras pessoas devem atender o acidente para coletar estes dados. De posse destes dados reais sobre as causas dos acidentes com motos, poderemos cobrar das autoridades as medidas certas para corrigir e eliminar o problema”, sobre o grupo interdisciplinar que está formado para elaborar o plano de coleta de dados sobre os acidentes com moto.

Julia Greve

Julia Greve

“O motociclista pára ao meu lado e fala: você é novato né!” sobre o fato de ele andar de moto de forma mais cautelosa do que a maioria.

“Hoje o maior doador de órgãos é o motociclista”, sobre a quantidade de mortes de motociclistas.

Julia Greve, médica fisiatra e professora associada à Faculdade de Medicina da USP:

“O maior volume de acidentados já não é o motoboy, mas o motociclista novato”, ilustrando o fato de que a experiência e a preparação contam muito para o uso correto da motocicleta.

“Os grandes acidentados sofrem traumas em sua maioria na cabeça e nas pernas”, ilustrando a importância de se usar corretamente os equipamentos de proteção.

“Há 10 anos os números já apontavam a tendência de que a motocicleta estaria entre os veículos que mais vítimas faria no trânsito das grandes cidades, mas nada foi feito para evitar isso”, sobre o fato de os governos estarem sempre a reboque dos problemas e raramente atuando preventivamente.

Julyver Modesto

Julyver Modesto

“Não existe acidente de moto. Existe acidente de trânsito”, sobre as falhas nos dados estatísticos.

“A moto está sempre em evidência porque o acidente de moto, por menor que seja, causa vítima”, sobre os erros nas análises que se faz sobre os dados estatísticos.

Julyver Modesto de Araujo, capitão da Polícia Militar do Estado de São Paulo, mestre em Direito e chefe do Gabinete de Treinamento do Comando de Policiamento de Trânsito:

“Fiscalização faz parte do processo educacional dos motociclistas”, sobre a intensificação das ações de fiscalização das motos e dos motociclistas nas ruas.

“De todas as motos fiscalizadas em 2011, 25% tinham alguma irregularidade e 10% foram recolhidas”, justificando a necessidade de intensificar as ações de fiscalização.

“O CTB (Código de Trânsito Brasileiro) prevê 244 infrações de trânsito e o que precisa mudar é a gravidade aplicada para cada uma delas”, sobre a necessidade de revisão do CTB,

“Está no artigo 56A da revisão do CTB a indicação de que a moto só pode circular no corredor entre os carros quando o tráfego estiver parado”, defendendo a necessidade de regulamentar, mas jamais proibir a circulação das motos nos corredores formados entre os carros.

Magnelson Carlos de Souza, formado em direito e presidente da Feneauto – Federação Nacional das Auto Escolas:

“Há quem defenda o fim da venda de motocicletas; é como se alguém está com um problema no dedo e decida cortar o braço”, sobre jogar a culpa de todos os problemas na formação dos motociclistas.

“Se cumprirmos o que está aí, já daremos um passo gigantesco para melhorar o processo de formação”, sobre a resolução 285 publicada em 2008, que regulamenta o serviço de formação de condutores.

“A motocicleta faz o exame praticamente sozinha, basta o aluno ter equilíbrio”, sobre os truques aplicados nas motos para os alunos passarem no exame prático.

“O banco de questões do Detran-SP não aborda a motocicleta”, sobre o exame teórico estar também inadequado para quem vai habilitar-se na categoria A.

“O problema todo resume-se no fato de que o trânsito no Brasil não é prioridade do Estado em nenhuma esfera”, sobre a necessidade de mobilização nacional para o tema.

A partir da esquerda: Simiramis Lima, Ryo Harada, Magnelson de Souza e Wilson Yasuda

A partir da esquerda: Simiramis Lima, Ryo Harada, Magnelson de Souza e Wilson Yasuda

Simiramis G. de Queiróz Lima, cientista jurídica, presidente do Cetran de Pernambuco e membro da Câmara Temática de Formação e Habilitação de Condutores do CONTRAN:

“Hoje a realidade é: não instruo devidamente e não examino devidamente”, sobre o processo de formação de condutores.

“Existe a cultura enraizada do jeitinho, de que se é otário se não burlar as regras”, sobre as inúmeras formas que existem para encontrar uma maneira de facilitar algo no processo de formação de condutores.

“Precisamos do simulador de motos”, sugerindo uma mudança no processo de formação de condutores.

“Muitos instrutores de motocicleta hoje já não andam de moto no trânsito há mais de 20 anos”, sobre a necessidade da reciclagem de instrutores.

Wilson Yasuda, coordenador da Comissão de Segurança Viária da Abraciclo, implantou o primeiro Centro de Treinamento para motos e a primeira moto-escola em 1978 e 1980 respectivamente:

Nancy Schneider

Nancy Schneider

“A carteira é nacional, mas o exame é municipal”, sobre as graves diferenças no formato das pistas para exame de formação de condutores.

“Das 180 horas que tem o curso para formação de instrutores, apenas 2 horas são dedicadas para o instrutor saber sobre a motocicleta”, sobre a precariedade na formação dos instrutores de moto.

“A Honda vendeu em 2011, um milhão de sapatas de freio traseiro e 100 mil sapatas de freio dianteiro para o mercado de reposição”, mostrando como é fácil perceber que muitos motociclistas não aprendem a frear corretamente.

Nancy Reis Schneider, arquiteta, é superintendente de Educação e Segurança da CET-SP:

“Não adianta achar que é o órgão público de trânsito que deve educar; a educação vem de casa. Se o cidadão não tem boa educação no trânsito é porque ele não tem boa educação em lugar nenhum”, sobre a necessidade de reforçar nos cidadãos a ideia de que a mudança é de comportamento das pessoas no trânsito.

Nereide Tolentino

Nereide Tolentino

Nereide Emília B. Tolentino, pedagoga, implantou o projeto Transitando em escolas do ensino médio em parceira com vários estados e municípios:

“Não acredito em educação no trânsito no nosso País, pois educação não é prioridade para nada aqui”, justificando o uso da palavra comportamento para evidenciar o que deve mudar nas pessoas em relação ao trânsito.

“A via pública é o espaço mais democrático onde a cidadania deve ser exercida, pois se eu não sei respeitar o outro neste espaço, claramente indica que não sei respeitar nada nem ninguém em lugar algum”, reforçando a tese de que o comportamento das pessoas deve mudar para que se tenha mais segurança no trânsito.

“Nós acreditamos que Deus é brasileiro e que tudo será resolvido pelos outros para nós”, sobre o caráter passivo de boa parte da população que espera o Governo fazer e resolver todas as coisas.

Obs.: Para facilitar a discussão sobre esse assunto, criamos um tópico no fórum para os motonliners. Clique aqui para acessar o tópico.