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O evento foi promovido pelo CERTA (Centro de Referência Técnica Automotiva), um departamento do Cesvi, de São Paulo. Ele reuniu algumas dezenas de técnicos e executivos muito interessados na inserção das motos populares no mercado de seguros.

Na prática, as companhias seguradoras, que anteriormente achavam que segurar uma motocicleta era arriscado e não valia a pena, passaram a ver com outros olhos o crescente mercado de duas rodas — e, claro, sua total integração no cotidiano dos brasileiros.

De olho nesse milionário segmento, as maiores companhias de seguros do País já ensaiam os primeiros passos para criar medidas práticas, que tornarão acessíveis os seguros para motocicletas.

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O resultado é que os seguros ficarão ao alcance dos condutores que usam as motos no dia-a-dia. Pode-se prever que os primeiros produtos focados em duas rodas deverão surgir já em 2010.

Dois lados A tradicional lenga-lenga de que fazer seguro de motos é caro e arriscado afastou durante anos a fio as duas partes interessadas no négócio.

De um lado ficavam as seguradoras, temerosas de bancar um veículo que é facilmente furtado e desmanchado. De outro ficavam os motoqueiros e motociclistas, sem ter a garantia de que seu meio de transporte diário poderia ser protegido.

Entre os dois lados havia uma ponte dourada e inacessível, formada pelo preço absurdo de uma apólice de seguros para motocicletas. Ou, até mesmo, a falta de qualquer ponte — e um abismo.

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Note-se que a recusa de se fazer seguros para motos de média ou pequena cilindrada ainda é comum.

O impasse sempre se deu — e ainda se dá — na segurança passiva, ou seja, na segurança da motocicleta vista como um bem de consumo.

Já na segurança ativa — que diz respeito ao uso das motocicletas enquanto rodam — há bem mais investimentos dos fabricantes.

Nesse ponto, tanto a Honda como a Yamaha, as duas lideres do mercado nacional, aplicam sistematicamente a noção da pilotagem com segurança há muitos anos — pra falar a verdade, desde os anos 70.

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Os demais fabricantes nacionais associados à Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares), fazem isso isoladamente, em conjunto — ou simplesmente não fazem.

Além de ser patrocinada por algumas montadoras mais conscientes, a segurança ativa (da pilotagem) é explorada em iniciativas isoladas por órgãos governamentais ligados ao trânsito, entidades autônomas, ou mesmo por algumas concessionárias.

Sobre isso, destaca-se a atual propaganda do Governo Federal veículada na tv nos horários nobres, onde um senhor que leva a filha em seu carro vê uma moto se aproximando pelo retrovisor e lhe dá passagem, evitando um acidente. O simpático tiozão ganha um belo elogio da menina, e a propaganda mostra que a segurança ativa deve ser feita por todos os que circulam pelas ruas — sejam motos ou carros.

Futuro mais seguro Mas o ponto que interessa a todos nós, donos de motocicletas, é garantir de alguma forma que a nossa moto — paga em suadas prestações — fique estacionada na garagem.

Sobre isso, alguns executivos das seguradoras presentes ao seminário chegaram a uma série de conclusões práticas.

Os debates foram conduzidos por representantes de entidades, montadoras, companhias seguradoras e empresas que atuam no mercado brasileiro de motocicletas e de monitoramento eletrônico — o popular GPS.

Gustavo Travassos, da Maxtrack

Gustavo Travassos, da Maxtrack

Sobre isso, o executivo Gustavo Travassos deu uma pequena aula sobre os “Sistemas de rastreamento e bloqueio para motocicletas”. Sócio-diretor da Maxtrack, empresa de monitoramento eletrônico de veículos, Travassos revelou que os sistemas de rastreamento prometem entrar com tudo no mercado de duas rodas no ano de 2010.

“Esses sitemas ficarão acessíveis e serão procurados pelos donos de motos populares usadas no dia-a-dia, que representam 80% do mercado”, declarou.

Pode ser que por essa janela surja a tão procurada fórmula que viabilize os seguros para as motocicletas de menor cilindrada.

Para Sérgio de Oliveira, Gerente de Relacionamento da Abraciclo, o mercado de motocicletas cresceu muito rapidamente, mas a preparação das oficinas para fazer o reparo dessas motos não veio no mesmo ritmo.

Resultado: as motos mal conservadas, a imensa maioria de pequena cilindrada (as populares) causam ou se envolvem em acidentes, fazem vítimas e por isso não interessam ao mercado segurador.

Sérgio lembrou que um reparo mal feito pode custar a vida de uma pessoa. “A inspeção técnica veicular conseguiria tirar de circulação as motos sem condições. No recente `moto check-up’ feito pela Abraciclo, apenas 9% dos motociclistas apresentaram motos totalmente em ordem”, revelou.

Segundo o diretor da Abraciclo, o CESVI terá um papel importante junto aos órgãos de trânsito na elaboração de políticas de segurança viária que contemplem a moto, e também na elaboração de técnicas de reparo que insiram a moto no ambiente do seguro.

O DPVAT, seguro obrigatório do governo federal a que todos nós, motociclistas, motoristas, pedestres ou passageiros, temos direito após um acidente de trânsito, também foi abordado no encontro.

Márcio Norton, da Seguradora Líder

Márcio Norton, da Seguradora Líder

Sobre ele, Márcio Norton, executivo da Seguradora Líder, afirmou que “as motos representaram 57% das indenizações pagas através do DPVAT, enquanto sua participação na frota nacional é de 25%”.

Isso quer dizer que as motos consomem muito mais seguros obrigatórios do que pagam — isto é, se envolvem em muito mais acidentes do que outros veículos e pedestres – e por isso ainda não são vistas com olhos amáveis pelas seguradoras.

“Temos a intenção de incluir questões sobre o DPVAT na prova de habilitação, para as pessoas saberem que têm esse direito”, disse o executivo, mostrando que há ideias em andamento para contornar os problemas..

Pedro Calil, outro nome da área de seguros, que atua como gerente de atendimento a acidentes da Seguradora Sul América, declarou que “esse evento foi importante porque o mercado segurador tem muito a aprender sobre o mercado de motocicletas”. Ele destacou que esse aprendizado não deve ser somente sobre o equipamento, mas sobre os motociclistas.

“O perfil de quem está usando as motos precisa ser identificado corretamente por nós, do mercado segurador, para que possamos administrar também esta mutualidade no mercado”, disse. “Acredito na expansão do seguro para as motocicletas. Mas o poder público também teria que ajudar um pouco mais quanto ao roubo e ao furto”.

Leandro Kiss, gerente da Itaú Seguros, outra gigante do setor, avançou ainda mais: “O objetivo aqui foi acabar com alguns preconceitos que existem sobre o mercado de duas rodas. O que precisamos é diminuir o risco associado ao segmento, para que possamos fazer e vender mais seguros de motos”.

Domingos Rizzo, gerente de sinistros da Allianz Seguros, encerrou as declarações afirmando que um dos principais pontos desse evento foi a afirmação do mercado de motocicletas.

“Ele está em crescimento constante. Não há como o mercado segurador ficar longe disso. Foi muito interessante fixar alguns conceitos de processos que precisamos melhorar, como a reparação das motos, a rede de concessionárias, os tipos de acidentes e suas causas. Se não estudarmos com detalhes cada um desses pontos, continuará difícil ter um custo de seguros viável para o cliente final”.

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O CERTA (Centro de Referência Técnica Automotiva) é um órgão de estímulo ao debate e ao conhecimento técnico, ligado ao CESVI BRASIL (Centro de Experimentação e Segurança Viária). Desde sua criação, em 2008, o CERTA vem contribuindo para disseminação de informações técnicas para os setores da cadeia automotiva – fabricação, seguro e reparo.

O CESVI Brasil Fundado em 1994, o CESVI Brasil (Centro de Experimentação e Segurança Viária) é o único centro de pesquisa brasileiro dedicado à reparação automotiva e à segurança viária, e foi o primeiro da América Latina. Para conhecer as atividades do CESVI, acesse www.cesvibrasil.com.br