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Fui um comerciante de motos compulsivo durante muitos anos. Naquela época, comprar, usar, experimentar e vender motocicletas, era uma… , “razão”. Vivia neste movimento. Foi legal. Uma fase importante na formação de uma…. , “cultura”….

Nunca fui de julgar uma bike por um rolê. É impossível conhecer uma moto sem tê-la de fato. Sem, usá-la.

Uma passagem, sempre me remete, à realidade daquela época. Quando me casei, fui morar num ap alugado. Muito pequeno. Naquela ocasião , tinha na garagem um Uno Mille, bem usado e… , uma BMW GS , nova. Este era o espírito. Comprar, andar, experimentar, conhecer motocicletas.

Evidentemente, “perdi” grana neste processo. Prefiro pensar que …. , “paguei pela experiência”… Andei com todas as marcas e modelos que, eventualmente, cruzaram meu caminho e, couberam no meu orçamento. Era um colecionador de “buyers guide”.

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Lembro-me de uma ocasião em que fui a um churrasco de lançamento de uma nova linha. Viajei 700km pro “evento”. Fui com uma HD que usava na época. Uma “Night”, toda preta com um up-hanger largo, um assento king and queen, um sissi na rabeta e um motorzão progressivo, delicioso. Minha mulher, ia encostada no sissi e eu, encostado nela, com braços ligeiramente altos e joelhos, levemente flexionados. Muito confortável…!!! Não tinha razão pra trocar de bike. Eventualmente, indo ou vindo de algum lugar pra um lugar qualquer, saia do asfalto e mandava vários quilômetros de uma estrada de terra, do nada pro lugar nenhum… Por incrível que pareça, se não houvesse barro, nem muitas pedras grandes… , ela até que ia bem. Transportava. Até as vacas paravam de pastar, pra ver a cena insólita…!!!!!

Naquela época, minha vida era assim. Não podia ver uma motocicleta diferente à venda. No ápice do evento , me dirigi ao vendedor (que era amigão meu (por razões obvias…) e, adquiri um dos modelos em exposição. Um canhão preto e amarelo, alemão, ultimo tipo! Evidentemente , isso não saiu barato. Quando a segunda feira chegou, uma enxurrada de grana saiu da minha modesta conta bancária e, adicionei mais um carimbo no passaporte. Carimbo este , que provou ser uma das piores bikes que já tive na vida.

Uma bike que não era uma turing, nem uma speed , nem uma custom , nem uma dual , nem nada… Uma “street-fighter” que, cozinhava ovos na cidade, não podia nem ver terra, e tinha uma posição de pilotagem que não acomodava ninguém por mais de 50km… Enfim, era assim. Tiros certeiros e furos na água. Experimentação. Pura experimentação. Nesse período, conheci e usei grandes bikes.

Noutra ocasião, lembro-me de ter comprado uma motocross daquelas, “diferenciadas”… Série especial de fábrica, com tudo o que tinha direito, mais, um monte de acessórios. O preço, era quase que um pecado, para os meus padrões. O dólar estava na cobertura e eu, paguei pra ver. A bike entrou pro “hall off fame” da minha vida. Um dos melhores conjuntos que já pude usar. Cento e tantas horas (de uso), depois, “precisei” vendê-la. Perdi uma moto no negócio… Teria feito tudo outra vez. Valeu cada centavo.

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Pra mim, motocicleta é igual a esporte, que é igual à saúde e bem estar. Que por sua vez, é igual a felicidade, que, em ultima análise, é tudo o que a gente quer. Entretanto, há de haver certa coerência neste processo, certo senso crítico, certa noção de prioridade. É lógico que eu gostaria de ter tido mais esta bike (esta “ultima”, que deixei de comprar…). Ela “vestiria” bem em mim….

Mas, tenho vivido um momento diferente. Isso não deve ser definitivo e, certamente, numa outra fase qualquer, fatalmente sucumbirei ao capitalismo e à vida “perdulária”, outra vez… Esse é o mundo que a gente vive. Faz parte. Não se pode negar. Porém, tenho estado com o foco em buscar alguma realização na evolução da pilotagem e no “descobrimento” de novas possibilidades, ao invés da simples aquisição do equipamento. Quero mais é usar e abusar do que tenho, antes de pensar em comprar algo novo. É impressionante como há uma fração significativa de pessoas que, simplesmente, não usam o que têm… Não usam o que têm e, vivem querendo o que não têm. Não adianta imaginar que, simplesmente, se cercando de toda a tecnologia, alguém ira evoluir no esporte. Isso é uma ilusão. Quem usa e precisa de equipamento realmente top, é pró, ou, aspirante a. Nossas bikes, na esmagadora maioria dos casos, andam muito mais do que a gente sabe andar, ou, de fato, anda.

Atualizar o equipamento é fundamental para o desenvolvimento. Acredito que, um dos principais fatores para a evolução, no nível de pilotagem, é o fator mental. Moto nova, equipamento novo, “amor novo” …. , são ótimos, “venenos anti monotonia”. Uma injeção de entusiasmo. Direto no cano! Proporcionam prazer, descoberta, novas possibilidades e, consequentemente, contribuem para a evolução de forma definitiva. Mas, não adianta se iludir. Preencher cheque, normalmente, é mais fácil do que se disciplinar.

Comer direito, treinar, dormir direito, treinar, malhar, treinar, conhecer as possibilidades técnicas do equipamento, treinar, estudar a teoria, treinar. Estas sim, são verdades absolutas. Set up, customizações e a alternância de terrenos e condições de pilotagem, normalmente, agregam muito mais a um piloto do que, simplesmente, um novo equipamento.

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Em época de instabilidade financeira e, indefinição de cenário econômico, é sempre bom lançar mão de recursos poucos explorados e de uma conduta racional, para garantir alguma continuidade ao processo evolutivo da pilotagem.

Há poucos dias, experimentei as suspas “novas” de uma bike que tenho usado. Nada muito “pró”. Só uma troca de óleo e um pequeno “acerto”. Impressionante o que uma simples troca de óleo e alguma revalvulação, podem fazer….!!! A motinho ficou um espetácolo….! Tenho me divertido muito com ela.

Não tô aqui dizendo que o certo e criar um enorme escorpião preto peludo no bolso e, sair por aí montado numa ratoeira amarrada com arames. Não, não é essa a idéia. Ninguém consegue aplicar a técnica e se divertir num equipamento “zoado”. Nem tão pouco acho sensato pagar 40 e tantas pilas, num canhão top pró. Com esta grana, bem administrada, dá para ter e fazer uma bike pra duas, ou três temporadas.

Com um pouco de conhecimento, pesquisa e disciplina, é possível estar muito bem montado, com um orçamento “mundano”. É claro, se você ganhou na loteria…. , go for it! Who cares…!?!?!?!?! Mas, se você é um “cara comum”, pense na continuidade. Pense em racionalizar o uso da verba. Pense em manutenção periódica. Pense em acertos específicos.

Tá cheio de moto usada por aí … , muitas delas ainda dão um bom caldo. Certeza! Não pense em “firula”. Não pense em aparência. Não pense em nada que não seja absolutamente necessário. Se te bater uma vontade incontrolável de coçar o borso, pense em prioridades: 1) O que me garantirá o equipamento em bom funcionamento por mais tempo? 2) O que me fará mais rápido, ou, mais seguro? Necessário é ter uma moto em perfeitas condições de funcionamento (qualquer que seja ela). Necessário é treinar. Andar. Malhar. Aprender. Concentrar. E, porque não, economizar. A regra é clara: quem guarda tem. Tem rolê garantido. Tem condição de evoluir. Tem diversão certa. Da próxima vez que pintar uma possibilidade ou um simples desejo de trocar de bike, analise as condições de forma racional. Volte os olhos para o que realmente está te incomodando em sua moto. Questione-se, a respeito das eventuais soluções. Seja honesto com você mesmo e analise as reais necessidades e possibilidades.

Trocar de bike é sempre bom. Por simples desejo, ou necessidade, é sempre bom. Porém não se iluda, se o seu objetivo for maior do que simplesmente, uma moto nova. Nada substitui o prazer de usar, ou, o esforço necessário para evoluir. Preencher um cheque é, normalmente, muito mais fácil do que, por exemplo, se dispor a tentar evoluir tecnicamente, ou, ir à academia todos os dias… Fique bem claro, adoro motos novas. Mas, o que eu gosto mesmo, é de usá-las Este sim, é o maior propósito de qualquer brinquedo. Brincar, não, simplesmente tê-lo.

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