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Paulo Roberto Araújo, especial para o Motonline

Ele é o típico motociclista estradeiro. Desde os 16 anos de idade, quando ganhou sua primeira moto, uma lambreta, saiu pra estrada. Também é um exemplo de superação, um exemplo para os mais idosos e experientes. Em 2001, o pernambucano Augusto Lins e Silva, de 71 anos, fez o percurso Rio-Alasca-Rio, percorrendo 39 mil km, mas não ficou satisfeito. Montou o Projeto Eurásia e está embarcando para uma nova aventura. Vai percorrer 45 mil km na Europa e Ásia.

Presença constante nos principais eventos de motociclistas no Estado do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, Augusto não consegue ficar em casa por muito tempo. Calcula que roda 90 mil quilômetros por ano. Advogado aposentado, morador de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, Lins e Silva bateu na porta das grandes montadoras de motocicletas para pedir patrocínio, mas ninguém o ajudou.

Não esmoreceu. Foi conseguir ajuda em Lisboa, onde uma empresa de aluguel de motos apostou na sua aventura e decidiu ajudá-lo. Casado e pai de quatro filhos, embarca para Portugal contando com o apoio de parentes e amigos. Mas viaja em companhia apenas de sua “garupa”, Nossa Senhora de Fátima, que até agora o ajudou a enfrentar tempestades, a encarar ursos e bisões e a nunca usar seu estojo de primeiros socorros. Augusto curte um bom rock and roll e prevê que terá muita história para contar daqui a três meses, quando voltar ao Brasil. No seu sítio em Nova Friburgo, ele concedeu esta entrevista ao Motonline.

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Como surgiu a ideia do projeto?

Havia estabelecido um recorde mundial de motociclismo estradeiro de longa distância, na  categoria terceira idade, indo do Rio ao Alasca, em 2001, ida e volta, e resolvi quebrá-lo e estabelecer um novo.

Qual era o recorde antigo?

Cortei as três Américas, ida e volta, solitariamente, rodando 39.800 km em 116 dias ininterruptamente aos 70 anos.

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E qual foi a maior dificuldade?

As maiores dificuldades foram o clima hostil e as intempéries, além de conviver proximamente  com animais selvagens, como ursos e bisões, que fazem parte da paisagem local, sempre pastando nos acostamentos das rodovias.

Esse projeto Eurásia é seu ou existe alguém que já tenha feito a viagem?

É ideia minha, até o roteiro, que abrange 35 países e dois principados. Se alguém fez essa  viagem, com certeza não tinha 71 anos.

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Quais são os países, pelo menos os principais, pelos quais você vai passar?

A viagem se iniciará em Lisboa e terá como destaque toda a Europa Oriental. Vou atravessar o deserto da Capadócia, a Rússia, o Cazaquistão. E também toda a Europa Ocidental, incluindo os países da Escandinávia. Vai acabar de volta a Portugal, após rápida passagem pelo Marrocos, na África.

Sem patrocínio, Augusto vai gastar cerca de R$30.000,00 no projeto Eurasia

Sem patrocínio, Augusto vai gastar cerca de R$30.000,00 no projeto Eurasia

Você recebeu patrocínio?

Aluguei a moto na empresa portuguesa Moto Explorers, pela metade do preço. Em troca, farei propaganda dela, que me fornece também seguro e assistência técnica e mecânica. Fora isso, nenhum patrocínio, só a ajuda de parentes e amigos leais, como, aliás, acontece em todas as  minhas jornadas internacionais. No Brasil, o laboratório Eurofarma tentou me patrocinar, mas o Ministério dos Esportes exigiu que eu criasse uma firma. O que eu gastaria para abrir e depois fechar a empresa seria mais do que o patrocínio. Estive em todas as montadoras brasileiras, mas nenhuma quis ajudar.

Qual o modelo da moto que você vai usar? Algum cuidado especial?

A moto será uma BMW de 650 cilindradas, bicilíndrica,  com motor de 800 e outras adaptações específicas  para o tipo de viagem. Em face dos altos custos de transporte e da burocracia, não levarei  minha moto, que, aliás, tive de vender para ajudar nas despesas da viagem, já que não tive  ajuda oficial ou privada, além da já citada.

Essa viagem é um exemplo para os idosos?

Além de representar 25 milhões de idosos brasileiros, vou divulgar no outro lado do mundo  a nossa crescente longevidade e dar um exemplo muito significativo para os jovens que pretendem se iniciar no motociclismo estradeiro de longa distância.

Há pontos de apoio, como num rali? O que mais o preocupa? Você leva remédios para primeiros socorros?

Minha nova jornada será absolutamente solitária, como todas as outras. Levarei apenas minha  garupa, Nossa Senhora de Fátima, minha eterna protetora, cuja gruta e morada pretendo visitar no percurso. Quanto aos itens de primeiros socorros, sempre carrego, apesar de nunca  terem sido usados até o presente momento.

Quanto vai custar essa aventura?

O que consegui amealhar, além do pagamento da locação da moto, dará para cobrir uma despesa de 110 euros (280 reais) por dia, o que inclui combustível e alimentação. O que significa se alimentar de sanduíches e dormir em hotéis sem estrelas e casas de amigos durante os próximos três meses, tempo estimado para rodar os 45 mil km. Estimo gastar, com muita economia, cerca de R$ 30 mil sem contar as passagens aéreas.

O viajante solitário é exemplo para jovens de 8 a 80 anos

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Você anda de moto há quanto tempo? Como você define o amor pelas duas rodas?

Sou motociclista há 56 anos e sempre com prioridade para o motociclismo estradeiro. O amor e a paixão por duas rodas eu defino como absolutamente incondicionais e começaram aos 15 anos, quando ganhei uma lambreta.

Será possível acompanhar sua aventura pela internet?

Tenho um site, www.projetoeurasia.com, além de uma página no Facebook, que pretendo preencher com comentários diários durante toda a jornada.

Você tem ideia de quantos quilômetros já andou de moto? Conhece todo o Brasil? Quando pretende parar?

Ando uma média de 90 mil km por ano, o que representa, nos últimos anos, pelo menos um  milhão e meio de quilômetros. Quanto ao Brasil, já rodei todas as regiões do país participando de eventos ou jornadas independentes. Continuarei fazendo minhas viagens nacionais e internacionais, enquanto gozar de saúde plena e capacidade de pilotagem com absoluta segurança.

A quantidade de motos está explodindo nas grandes cidades e até no interior. O que você acha que deve ser feito para dar segurança a tanta gente que trocou o carro pela moto para fugir dos engarrafamentos nos grandes centros?

Acho que o caminho é o da educação dos atuais e futuros usuários. O governo terá uma séria  responsabilidade na formação desse novo contingente de motociclistas que está surgindo em face das dificuldades cada vez maiores de circulação nas grandes cidades.

Você já sofreu acidentes de moto?

Tive um único acidente sério e com sequelas. Após duas cirurgias, perdi 20% do movimento do joelho direito. Tenho uma prótese de titânio, que substituiu parte da cartilagem, mas isso não me impede de pilotar. O curioso é que andei 39.800 km e caí no momento em que  era rebocado por uma caminhonete, durante a madrugada, de volta para Friburgo, logo após meu regresso da viagem ao Alasca. Gostaria de enfatizar minha conquista como o  único motociclista estradeiro sul-americano a participar, até o presente momento, do evento internacional de Sturgis, em Dakota do Sul (EUA), o maior do mundo, pilotando a própria moto desde a cidade de origem, além de ser premiado como o participante mais rodado do evento, superando a marca de milhares de outros presentes oriundos de vários países.