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Inúmeras circunstâncias na minha vida pessoal me permitiram viver de um trabalho que não depende de endereço fixo. É a mais pura verdade, 99% do meu trabalho é feito em um escritório pequeno dentro de casa, via Internet e telefone. Telefone aliás que uso muito pouco, já que temos Skype e outros tipos de VoIP muito econômicos hoje em dia. Só para vocês terem uma idéia, na minha última viagem aos EUA, experimentei um serviço de redirecionamento do Skype para meu celular nos EUA (um chip desses pré pagos, de 10 dólares) e falei quase que diariamente com minha esposa e funcionários gastando coisa de 5 dólares durante a semana inteira. Inacreditável como o mundo ficou pequeno!

A tecnologia permitiu essa facilidade e essa mobilidade incrível, e eu, por trabalhar justamente com tecnologia, posso me considerar um felizardo. Também por outras circunstâncias eu e minha esposa decidimos não ter filhos por enquanto, o que facilita ainda mais a nossa flexibilidade de se mudar para qualquer lugar que tenha um serviço de internet de boa qualidade. Apesar de morarmos e trabalharmos juntos por quase 10 anos, ainda não chegou a hora de cuidar de crianças. Tentamos um cachorro em 2005, mas não deu certo, pois nos faltava tempo pra passear, dar atenção ou levar a cadela ao veterinário. Trabalhamos demais e sempre falta tempo pra gente se divertir, portanto a prioridade nesses poucos momentos que podemos nos desligar do trabalho é o nosso lazer mesmo, pelo menos por enquanto. E em nome do lazer eu decidi que iria mudar de endereço.

No momento que escrevo essa coluna ainda estou no meu apartamento no Rio de Janeiro, sob uma intensa chuva e intensos ruídos de carros de polícia, obras no vizinho, ônibus passando na rua, e tudo mais que faz parte da paisagem carioca. Embora nascido no Rio, nunca tive muito apego por essa cidade. Realmente a cidade é linda, tem várias opções de lazer, mas ultimamente o que norteia nossas vidas é o caos da violência urbana, o descaso da sociedade e o abandono público. Achei que com as obras dos jogos Pan-americanos este ano a coisa iria melhorar, mas piorou. Chegou a hora de ir embora, pelo menos pra mim. Depois que vi o filme Tropa de Elite, uma história de bandidos e mocinhos onde não há mocinhos, percebi que meu lugar não é aqui. Nada contra os cariocas, mas pra mim já deu. Fui!

Tô indo embora, pra mim já deu…

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O ano de 2007 foi muito intenso aqui em casa, acho que nunca trabalhei tanto na vida. Vários projetos novos, várias palestras, viagens à pelo menos 14 cidades brasileiras e mais quatro internacionais (diga-se de passagem, 2007 não foi um bom ano para se viver em aeroportos… Fiquei mais tempo nas salas de embarque do que em cima de uma moto) e com isso o tempo livre foi ficando cada vez mais escasso. Temos três motos paradas na garagem por falta de tempo para usá-las. Lembro de um sábado de sol que pensei “vou dar uma volta de moto”, mas acabei desistindo porque eu teria um compromisso logo depois do almoço e não há como “sair” do Rio de Janeiro sem ao menos perder uma hora de viagem em qualquer direção. Ou seja, para pegar uma estrada boa e acelerar, é preciso viajar pelo menos uma hora em um transito intenso, perigoso, sob um sol escaldante e estradas péssimas até finalmente pegar “a estrada”. Não importa qual direção, seja para o sul (Av. Brasil na direção de Angra dos Reis), norte (Niterói e região dos lagos) ou para o oeste (Dutra ou Itaipava), em qualquer dessas direções perde-se no mínimo uma hora de sufoco até ter um mísero momento de prazer. Em outras palavras, uma voltinha com menos de 2 horas (ida e volta) não tem nada de prazer, só tráfego intenso, buracos e calor.

Uma vista das prateleiras do pico de Itatiaia, dá pra chegar lá de moto.

Em outubro passei uma semana em São Paulo trabalhando, algo que se tornou comum ao longo de 2007, e por isso acabei decidindo que iria me mudar para essa cidade, ou pelo menos para próximo dela. Conversa vai, conversa vem, e nada de encontrar um bom apartamento ou a região ideal em Sampa, especialmente porque ainda não conheço bem a cidade. E foi assim até que uma prima que mora em Penedo, ainda no estado do Rio de Janeiro, me convenceu a dar uma olhada em uns apartamentos em Resende. Foi tiro e queda, encontrei um ótimo apartamento, muito melhor do que o meu atual, com mais ofertas de banda larga de Internet (pasmem! O prédio tem 3 serviços diferentes e melhores do que eu tenho aqui no Rio!) e a uma distância de 2 horas e meia da marginal Tietê, e 1 hora e quarenta minutos do meu velho apartamento no Rio de Janeiro. Praticamente no meio do caminho entre Rio e São Paulo, e ainda por cima com aluguel mais barato do que eu pago aqui. A cidade de Resende em si não tem grandes atrativos, mas é arrumada, limpa, com bons mercados e bons serviços. Acho que é coisa de militar, já que a Academia das Agulhas Negras fica lá, está tudo sempre bem arrumado, tudo muito limpinho. A região cresceu muito com o avanço das indústrias automobilísticas no Vale do Paraíba, e com isso a vida urbana em Resende floresceu. Olhei Resende com outros olhos pela primeira vez na minha vida. Xô, preconceito!

As piscinas de Visconde de Mauá. Ótimas estradas de terra pela região!

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Enquanto estava na janela desse apartamento novo, comecei a imaginar meus próximos finais de semana: Penedo é praticamente ao lado, coisa de 5 minutos de moto, Mauá e as demais regiões daquela belíssima serra estão a menos de 40 km de distância, dá pra ir e voltar em uma manhã. Angra dos Reis, onde meus pais têm casa, ficou quase uma hora mais perto descendo por Barra Mansa, A serra de Itatiaia fica de frente para minha janela, dá até pra ver as famosas “prateleiras” (dá pra ir de moto até lá). O Parque de Bocaina e suas incríveis matas estão a poucos quilômetros de distância, e o melhor de tudo, a rodovia Presidente Dutra e todas as suas possibilidades de trajetos, fica a poucas quadras de casa. Dá pra ir almoçar em Campos do Jordão e voltar no mesmo dia, só pra passear. Encontrei o paraíso do motociclista?

A represa do Funil fica bem pertinho também.

Eu fiz essa simulação um dia desses dias ao sair de casa, portanto acreditem em mim! São duas curvas, uma ponte curta e um balão em frente a academia militar, tudo isso em mais ou menos 800 metros de casa, e antes mesmo de colocar a terceira marcha já estou na Dutra acelerando a moto a mais de 100 km/h. Já imaginou poder fazer isso a qualquer dia, qualquer hora? Não é a toa que no meu prédio tem pelo menos umas 8 motos, e todas acima de 600cc.

Se é mesmo o paraíso dos motociclistas só o tempo vai dizer, mas estou louco para me mudar pra lá. Se não fosse a chuva de hoje, já estaria na estrada levando as motos, uma de cada vez, para não perder nadinha dessa nova fase na minha vida. Graças a Internet e a tecnologia do mundo moderno, nossas raízes se tornaram virtuais e o mundo ficou pequeno, qualquer lugar é aqui do lado.

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Nos vemos na estrada, meus caros motonliners…

O parque de Bocaina reserva boas surpresas também.

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