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A moto é “nova”, mas, tem problema de incontinência urinária. Compreensível.

Se pára de cuba cheia…. , se mija toda….

O lance é, quando estiver quase chegando em casa, fechar o gás e dar uma volta na pracinha, antes de entrar na garagem. Só. A metragem é suficiente pra esgotar a cuba. Posso conviver com isso por toda vida…. Tranquilamente…!!!!!

Dia destes, um irmão me ligou na eminência de comprar uma bike. Já fazia tempo que ele tava procurando, com o dinheiro na mão. Tomado de assalto, numa armação paranormal, recebi uma entidade. Uma entidade que, aparentemente, saca alguma coisa de moto. Minha voz foi usada por este “espírito”.

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Um cheiro forte de gasolina se instaurou, manchas de óleo brotaram do chão, virei o grobo do zóio e mandei na testa do caboclo a receita pra tomar a decisão.

O cara, que tava já transando com uma velha BM GS às escondidas, se casou com uma VStrom virgem, e estão vivendo um amor adolescente! Encheu a japonesinha nova de presentinhos e nem fala mais na velha alemoa…

Quando “sarei” do transe psicótico, pude perceber. Pro tamanho do budget e pro uso pretendido, era a decisão mais acertada. Deve ter sido a tal “providencia divina”. Este cara merecia.

Em contra-partida, eu fiz exatamente o contrário do que sempre disse pra todo mundo fazer, inclusive pra esse meu amigo. Montei num “conjunto eletro mecânico exótico não concluído” e… , tô aí … , pagando meu karma , na romaria de peças e oficinas… Se acho ruim?? De jeito nenhum! “Faz parte”. Faz parte mesmo. Parte da vivencia, do aprendizado. Nada como viver pra aprender. Nada como ter um problema, pra aprender a resolvê-lo.

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Quem já conviveu com um “conjunto eletro mecânico exótico não concluído”, aprendeu coisas que, jamais teria tido a oportunidade de saber, caso não houvesse tido que passar por elas.

Resumindo, se você só anda montado num projeto bom, que não quebra e nem requer acertos constantes, que diabos você terá aprendido a respeito de projetos mecânicos ideais ao final da sua vida?!?!

Esse mesmo irmão, o do episódio sobrenatural, andou montado numa jaca durante anos. A porra da moto dava (na verdade ainda dá e dará, enquanto funcionar) tudo quanto é tipo de problema que se pode imaginar. Isso foi ótimo. Na minha opinião, este convívio (com a jaca), foi justamente o que de melhor poderia ter acontecido na vida deste cara.

O cara amarrou com arame, moldou com epóxi, consultou a internet, explorou os limites da criatividade, aprendeu italiano, contratou um cartão de crédito internacional, usou centenas de enforca gato (cable ties), refez projetos, reforçou soldas, e improvisou soluções, durante… , sei lá…. , talvez 6 ou 8 anos. Isto deu uma vivência enorme pro sujeito.

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No caminho pra resolver toda (literalmente toda) a sorte de problemas, o cara se afiliou ao moto clube dos proprietários (de jacas), conheceu soluções, teve contato com algumas mentes brilhantes, viveu grandes aventuras, conheceu quase todas as oficinas e torneiros do Brasil (alguns do estrangeiro tb) e, por fim, acumulou um conhecimento que pouquíssimos caras que conheço (mesmo os melhores e mais experientes) podem se gabar:

O sujeito conhece, e já soltou cada parafuso da moto que anda …! Sabe o que é isso? Tem noção?

A ultima (e única) vez que possui uma motocicleta que conhecia cada parafuso, foi no início da década de 80, uma DT180. Diga-se de passagem, uma motocicleta muito mais simples do que a referida “jaca” e, muito menos susceptível a problemas. Imagina você poder rodar só, no interior do Acre, com a confiança de saber que sua moto pode falhar, mas, que você saberá exatamente o que falhou e mais, saberá exatamente o que fazer para continuar a viajem.

Eu, parabenizo e respeito todo o cara que sabe consertar sua moto, em qualquer lugar, a qualquer tempo. Mecânicos e técnicos à parte , este é um privilégio para poucos. E, mais que um privilégio, uma vivencia incrível pelo mundo que nos fascina e nos oferece um enorme prazer, o mundo dos conjuntos eletro/mecânicos.

Bom, lembrei de toda esta epopéia, por conta do rolê deste findê. Fui pra Pardinho-SP. Pardinho é velha conhecida. Parece assim, uma ex namorada, para a qual, o tempo não passa. Lembro-me da primeira vez que estive lá…. , quase morri. Ontem , não foi diferente. Não consigo me acostumar com esse negócio de andar sobre pedras, grandes, soltas. Sei que faz parte do esporte. Mas , sei lá…. , pra mim é que nem espinafre: tem que comer, deixa forte, mas ….. , prefiro outros pratos. Manja? O pico tem alguns trechos de pedra solta, cruéis.

São sessions longas, usualmente molhadas, na mata quase fechada, em declive (ou aclive) acentuado, delimitadas por barrancos respeitáveis e, pontilhadas por outras infinitas pedras. Tenho me servido de um cardápio de trilhas relativamente diversificado, mas, Pardinho, sempre me põe de volta ao início da fila do aprendizado: Mané. A parada é punk…

Confesso que o que pega não é nem tanto a técnica, experiência ou preparo necessários pra atravessar aqueles “rock gardens”. O que mói os nervos e os músculos do peão, é a constante possibilidade de se machucar ou machucar o equipamento. Ali, se você cair, ileso não permanecerá. Certeza!

São tantas pedras grandes soltas que, se alguma coisa der errado… Cotovelos, radiadores, mãos, discos, joelhos, manetes, tornozelos, escapes, ombros, blocos de motor… Alguém irá pagar caro. Isso vai me deixando numa tensão que tira a concentração e faz sair do ritmo. Como bem disse meu guru para assuntos ligados à Cuesta: “Sr Edu, é melhor andar mais lançado, parece que as suspensões trabalham melhor na velocidade”. Ainda bem que ele mesmo, um rock máster, acrescentou: “O problema é quando dá errado. Mas aí….” Nem ele soube precisar o que pode acontecer, “se der errado”…

Acabei o rolê com câimbras até nas pálpebras…. Carreguei, tomei um analgésico e vazei! Já não é a primeira vez que faço isso. Vazei com dor e com um sorriso no rosto. Poderia ter sido melhor, mas, não foi tão ruim assim… Meu anfitrião ficou preocupado. Eu não. Tá valendo. Ajoelhou tem que rezar. Um “piloto”, tem que andar em qualquer lugar.

(Chama o cara aí !!!!!! Rsrsrsrsrs!!!!!)

Não tem essa de “eu não gosto” ou “eu não vou”. Sessions diversas, são muito importantes para se manter, ao menos, um contato com a técnica utilizada. Já tô agendando um retorno pra lá. Logo! Da-lhe espinafre!!!!

No rolê, outro velho amigo. Treieiro. Gente finíssima. Um dos caras mais sérios que conheço. Difícil achar motociclista “sério”. Esse é. Esse compadre é daqueles caras organizados. Quando “encanou” que era chegada a hora, fez um curso, comprou um puta equipamento e treinou. Treinou numero que não cabe em horímetro…. Treinou com a nata do esporte local. Tudo isso, o levou à outra dimensão. Porém, esta jornada tem sido “dificultada” e a “culpa” atribui-se ao equipamento. Como já disse, pra mim, isto não é um problema. Muito pelo contrário, é uma excelente oportunidade de aprendizado.

Ele, talvez ainda não tenha tido a serenidade de atentar pra este fato. É claro que não era esta a idéia. Sei bem como é isso. Não é pra menos … , ninguém consegue ficar “sereno” com uma moto que insiste em “dar pau” no sábado, com certa freqüência. Eu entendo… Mas, certamente, colherá os frutos deste aprendizado, num futuro próximo.

Você tem que ter uma moto que ferve, pra aprender a não abusar da embreagem e achar um ponto morto a qualquer hora… Você tem que ter uma moto sem suspensões, pra aprender que elas existem e do que são capazes de fazer por você. Você tem que ter uma moto com freios borrachudos, pra reconhecer freios “digitais” quando tiver uns… Você tem que ter um motor “fraco”, pra aprender a manter e usar a faixa de potência disponível. Você tem que ter um motor forte, pra aprender a controlar tração e, descobrir novos horizontes… Você tem que ter uma moto que “dá pau”, pra aprender como se conserta uma e, mais importante, aprender do que elas são feitas e como funcionam. Você tem que aprender que projetos são únicos, que métodos de controle de qualidade são variáveis, que “lucros passados não garantem lucros futuros” e depois, conhecer a satisfação de “corrigir” pequenos “defeitos” (ou características ruins).

Corrigir pequenos problemas das bikes que curtimos, tornando-as ideais ao nosso propósito, é como uma vitória. Um pequeno troféu. Continuo achando que não existe moto ruim. A grande maioria delas funciona muito bem. As que não são “perfeitas”, são excelentes escolas. Mesmo as piores, circunstancialmente, podem se revelar úteis, divertidas e até… perfeitas, para determinada utilização.

O grande barato continua sendo: usá-las!

MOTOHEAD