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Parece óbvio, mas o capacete ideal deve seguir normas para sua fabricação e ele deve ter a forma arredondada, o casco rígido e ao mesmo tempo bem liso. Antes que você pare de ler por achar que esta reportagem é a coisa mais idiota que você já leu, é bom você saber que a Arai foi um pouco além e descobriu o que se pode chamar de “redondo ideal” para capacetes e que a empresa japonesa chama de R75 Shape e aplica em toda a sua linha de capacetes para motociclistas, utilizados em todo o mundo e cobiçados por muitos de nós.

A vida real é bem diferente do que especifica qualquer uma das normas internacionais que regulamentam a fabricação de capacetes

A vida real é bem diferente do que especifica qualquer uma das normas internacionais que regulamentam a fabricação de capacetes

Aguente um pouco mais antes de desistir de uma vez e registre que a Arai é a marca que fabrica os capacetes considerados pela J.D.Power como o “Melhor Capacete de Motocicleta do Mundo”, escolhido por 13 vezes seguidas numa pesquisa anual onde nunca houve outro vencedor. A J.D. Power é uma instituição global considerada referência quando o assunto avaliação de desempenho de produtos e serviços e tem por base sempre a satisfação dos clientes e resultados reais de mercado para definir a qualidade destas empresas e seus respectivos produtos.

Brian Weston: casco rígido, liso e...... redondo

Brian Weston: casco rígido, liso e…… redondo

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Se você está convencido que deve continuar lendo, então vamos ao que interessa, que é a vinda de engenheiros da Arai ao Brasil para explicar este tal de R75 Shape – “redondo perfeito” – e abordar o tema das normas para fabricação de capacetes e outras questões relativas ao assunto. No meio das conversas, os dois aproveitaram para derrubar alguns mitos que cercam essas normas. Brian Weston (Arai Americas) e Tomoharu Abe (Arai Japão) explicaram a importância do que a Arai define como “gerenciamento da energia do impacto” e falaram com clareza sobre as normas (Sharp, Snell, D.O.T., Inmetro…) que regulamentam a fabricação de capacetes em todo o mundo dizendo que elas não representam o mundo real.

Para demonstrar esta fato, os engenheiros da Arai mencionaram que poderiam aprovar em qualquer norma do mundo um capacete quadrado que receberia selo de certificação “e até seria premiado em concursos de design”, enfatizou Brian, mas que mataria seu usuário no primeiro impacto. “Ele simplesmente não desliza e acaba torcendo o pescoço do piloto ao encontrar um pequeno obstáculo no piso” demonstrou.

E continuou: “Os padrões internacionais de segurança para fabricação de capacetes, por mais rígidos que sejam, passam longe de um acidente real onde a energia cinética que precisa ser dissipada se eleva proporcionalmente ao quadrado da velocidade. Ou seja, a cabeça de um piloto a 100 km/h carrega mais de 12 vezes a quantidade de energia se comparado aos testes de laboratório”, explicou Brian. Veja o vídeo em inglês, mas é bem fácil de entender.

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Este número está comparado com o teste mais rígido realizado pela norma Snell (européia), cujos testes de impacto são realizados a uma velocidade de 28 km/h. “A norma brasileira do Inmetro realiza os testes de impacto à velocidade de 25,2 km/h e a D.O.T. norte-americana a 21,6 km/h”, informou Brian, enfatizando que a diferença entre as normas não são importantes. “As normas apenas estabelecem um padrão mínimo, nada além disso”, complementou.

Apesar de ser aprovado em qualquer norma, um capacete quadrado mataria seu usuário na primeira enroscada em qualquer obstáculo

Apesar de ser aprovado em qualquer norma, um capacete quadrado mataria seu usuário na primeira enroscada em qualquer obstáculo

Os engenheiros da Arai explicaram que no mundo real, dificilmente o impacto do capacete no asfalto ou em algum obstáculo é perfeitamente alinhado e preciso como acontece nos testes. Ao contrário, o impacto ou impactos podem ser em qualquer lugar do capacete, vindo de qualquer direção e em variadas velocidades e ângulos. “Por isso o casco construído da maneira certa e com o formato correto tem a possibilidade de resistir e dissipar a energia do impacto.

Rígido, redondo e liso deve estar nas normas

Estas três palavras resumem como deve ser o casco de um capacete: redondo e liso para não enroscar nas imperfeições do piso e rígido para suportar a carga de energia do impacto e ter capacidade de dissipar esta energia. “Quando o capacete bate ou enrosca em obstáculos ele pode fazer uma rotação que pode causar traumas ao piloto. Mas se ele desliza, a energia é dissipada gradualmente”. falou Brian. Mas apenas ser rígido não basta. O capacete precisa ter o casco construído da forma correta para espalhar a energia do impacto igualmente por toda sua extensão.

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Uma questão muito comum em relação aos capacetes são aquelas muitas peças que compõem o acabamento do capacete e ajuda em itens relacionados com a aerodinâmica. Segundo os especialistas da Arai, aquelas peças são feitas de material bem leve e se desprendem do capacete facilmente em caso de qualquer impacto, sem causar qualquer problema em caso de deslizamento.

A parte interna do capacete em diferentes densidades: resistência adequada

A parte interna do capacete em diferentes densidades: resistência adequada

Além do casco, os engenheiros da Arai explicaram que a parte interna do casco tem papel importante na tarefa de dissipar e absorver esta energia, mas deve seguir diferentes densidades para áreas mais e menos suscetíveis a danos na cabeça. “Por isso se recomenda usar isopor com múltiplas densidades, mas fundidos numa única peça para oferecer a capacidade de absorção de impacto correta em cada região da cabeça e sem prejudicar o conforto”, falou Brian.

Ao contrário do que se imagina, a Arai não utiliza fibra de carbono na fabricação dos seus capacetes. Segundo o engenheiro Abe, a fibra de carbono é leve e muito resistente, mas de difícil moldagem para o casco. Por isso a Arai desenvolveu e utiliza vários tipos de fibras de vidro para compor os cascos que utiliza na fabricação de seus capacetes. “Seguimos nossos padrões para rigidez e curvatura do casco e por isso usamos nossas próprias fibras de vidro”, explicou Abe.

A curvatura perfeita

Para demonstrar as explicações sobre o desenvolvimento desta tal de ‘R75 Shape”, os engenheiros da Arai apresentaram o que eles chamam de “a ciência por trás da segurança”. Trata-se de uma fórmula matemática, onde um raio mínimo de 75mm é o formato ideal para a anatomia da cabeça humana no que se refere a integridade, resistência e capacidade de deslizamento do casco durante a queda.

Este pedaço de plástico indica o tal "R75 Shape", o redondo ideal para capacetes poderem deslizar e superar obstáculos no momento de um tombo

Este pedaço de plástico indica o tal “R75 Shape”, o redondo ideal para capacetes poderem deslizar e superar obstáculos no momento de um tombo

Para isso, utiliza-se um pequeno pedaço de plástico que demonstra esta curvatura ideal. “Se os dois pontos na extremidade do gabarito R75 Shape não encostarem no casco, neste ponto a curvatura não é ideal para encontrar e superar obstáculos durante o deslizamento”, explicou Abe.

Se você chegou até aqui, deve estar se perguntando: Então os capacetes Arai são os melhores?

Esta reportagem não tem o objetivo de apontar se esta ou aquela marca faz os melhores capacetes. Contudo, seria um desperdício não aproveitar a presença no Brasil de especialistas que atuam num fabricante de capacetes dos mais respeitados e conceituados do mundo para oferecer novas informações sobre este tema que, todos nós sabemos, nunca deve sair de nossas cabeças.

Claro que comprar o capacete “A” ou “B” envolve diversos fatores e esta é uma decisão individual. Entretanto, os temas em torno do capacete para motociclistas são muitos e as discussões férteis e saudáveis. Qualidade dos capacetes, validade do selo do Inmetro, importação e uso de capacete importado, tributação sobre itens de segurança são apenas alguns temas e estas informações ajudam a esclarecer os consumidores que podem tirar suas próprias conclusões.

Como é possível perceber, gostemos ou não das normas e dos selos nos nossos capacetes, estão aí apenas para estabelecer requisitos mínimos para fabricação e venda de capacetes. Mas elas não garantem nossas vidas!

Sidney Levy
Motociclista e jornalista paulistano, une na atividade profissional a paixão pelo mundo das motos e a larga experiência na indústria e na imprensa. Acredita que a moto é a cura para muitos males da sociedade moderna.