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Prima Electra: elétricas são o futuro?

Prima Electra: elétricas são o futuro?

Por James Right*

Nos últimos anos o Governo tem colocado em vigor uma política de incentivos e renúncia fiscal em estímulo à venda de motocicletas, que atingiram 1,8 milhões de unidades vendidas em 2010. Esta é uma política equivocada, que anda na contramão do bem estar ambiental, da saúde, da segurança e da competitividade do País. Além do custo social e econômico desta política, perde-se uma oportunidade de ouro para estimular o empreendedorismo local e o surgimento de tecnologia nacional numa nova área de negócios, pois nosso Governo não sabe pensar o futuro; só toma medidas politicamente convenientes, sem saber avaliar conseqüências e oportunidades de médio e longo prazo. Incentivar motocicletas e “scooters” elétricas seria uma opção muito mais inteligente e alinhada com as necessidades futuras de nossas  cidades.

Motocicletas convencionais de pequeno porte movidas a gasolina normalmente poluem mais do que o dobro de um automóvel, de acordo com estudos da Cetesb. Contribuem  assim para agravar a poluição atmosférica nas grandes cidades, agravando doenças respiratórias que causam perda de dias de trabalho, gastos em hospitais públicos, aposentadorias precoces e sofrimento humano.

No Brasil as motos estão envolvidas em 25% dos acidentes fatais, segundo dados do Ministério da Justiça. A taxa de óbitos em acidentes com motocicletas subiu 83% entre 2002 e 2006; é uma epidemia que está dizimando a nossa juventude. Mata em especial os “motoboys”, na sua maioria jovens trabalhadores que se esforçam para ganhar o dia entregando encomendas pela cidade, arriscando suas vidas em uma corrida frenética todo dia. Como rodam em média mais de 200 km por  dia, um veículo deste gera cerca de cerca de oito vezes mais poluição atmosférica do que um carro de passeio que rode 50 km por dia!

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Um acidente gera custos de atendimento emergencial, internação hospitalar, perda de rendimentos e custos previdenciários. A sociedade perde ainda com o desperdício de todo o potencial produtivo daquele jovem trabalhador, e a sua família sofre a perda de um ente querido.  Nas grandes metrópoles, o corpo do motoqueiro estendido no chão gera, além do custo direto de atendimento medico e hospitalar, filas e engarrafamentos de vários quilômetros, em muitos casos com duração de uma hora ou mais.  O engarrafamento e a lentidão  do transito  geram  mais consumo de combustível nos carros parados,  horas de trabalho perdidas e ainda mais poluição atmosférica dos automóveis parados. Esta triste  combinação de efeitos  resulta em custos elevados para a sociedade, tanto em custos  econômicos diretos como indiretos.

Mas há soluções, desde que olhemos para o futuro e analisemos erros e acertos dos outros. Estávamos na  China  em 2007, em plena viagem de estudos com executivos brasileiros, quando o governo proibiu peremptoriamente a circulação de motos movidas a gasolina nas cidades de Beijing, Shanghai e Guangzhou. A medida autoritária criou grandes transtornos para milhões de usuários de motos, que de imediato tiveram que reverter para o deficiente sistema de transporte público urbano. Mas já nas viagens de estudos de 2009 e 2010, nos deparamos com milhões de pequenas motos e “Scooters” elétricas, circulando de maneira silenciosa e segura, a velocidades de 30 a 40 km por hora. São produzidas por empresas chinesas, a preços populares, e criaram toda uma nova área de negócios para empresários locais, que venderam algo como 20 milhões de unidades no ano passado. Melhor ainda, em 2010 a poluição atmosférica estava sensivelmente menor, em todas estas cidades, não só em Beijing, sede das olimpíadas, mas também em Shanghai e Guangzhou. Nesta última, o governo municipal anunciou uma redução de 40% nos acidentes de transito!

No Brasil, podemos aprender com esta experiência. Podemos evitar medidas autoritárias que causem prejuízos para o público e para as indústrias estabelecidas, mas se tivermos uma visão abrangente de planejamento para criar o futuro, podemos criar políticas que induzam ao desenvolvimento na direção desejada. Basta sair da contramão em que o governo se colocou, e criar uma legislação com impostos crescentes nos próximos 5 anos sobre o registro e circulação destes veículos poluidores e perigosos, e em paralelo criar fortes incentivos para o desenvolvimento tecnológico e o uso de motocicletas elétricas, com velocidade limitada a cerca de 50 km por hora. Os impostos crescentes permitem recuperar seus custos incorridos pelo conjunto da sociedade, e os incentivos induziriam a oferta e a compra de uma nova geração de motos elétricas. As motos esportivas, de maior porte e custo mais elevado, poderão incorporar equipamentos antipoluição mais sofisticados e caros, similar ao dos automóveis, e coerentemente com seu maior porte, deverão submeter-se no transito às mesmas regras dos automóveis, tornando-se assim mais seguras.

O resultado desta nova política será o surgimento de uma indústria local de veículos elétricos simples, que trará uma oportunidade única de desenvolver este setor sob novo paradigma tecnológico, ainda não dominado pelas grandes empresas internacionais. Com sua matriz energética com forte participação hidrelétrica, grandes conglomerados urbanos, novas tecnologias de redes inteligentes e uma população que carece de transporte individual de custo accessível, o Brasil é o país ideal para ser o líder mundial nesta área, mas já estamos deixando escapar mais esta oportunidade.

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Poderíamos ter daqui a 5 anos um cenário de cidades com atmosfera menos poluída, menos barulho e stress, mais segurança para a população, e forte redução dos custos sociais do uso de motos. Teríamos novas indústrias nacionais de motocicletas elétricas, baterias e peças adequadas ao nosso contexto, disputando um novo mercado global em condições mais favoráveis. Desenvolver a tecnologia de pequenas motos elétricas será mais accessível aos novos empreendedores brasileiros do que competir no sofisticado mercado global de automóveis.  É a chamada “Estratégia do Oceano Azul” aplicada à política pública; encontrar e oportunidades de atuar de maneira inovadora em novos espaços competitivos não disputados. Para isso, nossos governantes precisam aprender a prospectar o futuro, analisar tendências sociais e tecnológicas, formular cenários alternativos e avaliar e selecionar as políticas mais eficazes.

Obs.: Para facilitar a discussão sobre esse assunto, criamos um tópico no fórum para os motonliners. Clique aqui para acessar o tópico.