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Na nossa turma tinha um cara chamado Vilmar, dono de uma Yamaha 100cc que ele usava diariamente para ir ao trabalho e também para o lazer à noite e nos finais de semana. O detalhe é que o Vilmar foi atropelado por um caminhão ainda quando criança e nesse acidente, lamentavelmente, perdeu a perna direita, bem no meio da coxa o que o obrigava a usar uma perna mecânica.

Yamaha 100 LS3 ano 1972 , 2 tempos, andava muito

Yamaha 100 LS3 ano 1972 , 2 tempos, andava muito

Mas o Vilmar, apesar da prótese, que era fixada ao que restou da perna através de correias afiveladas nos quadris, pilotava que nem gente grande. Andava muito e fazia curvas como ninguém, mesmo contando apenas com o freio dianteiro, que era de lona, nada de disco, requinte que só tinha nas motos grandes.

Numa bela noite, dando uns rolés de moto pela cidade, bem em frente a uma loja de motos aqui de Curitiba, o Vilmar vinha todo feliz com a sua “cenzinha” quando foi fechado por um carro dirigido por uma mulher. O choque não foi lá grande coisa, apenas um esbarrão, mas o Vilmar acabou “tomando um chão”. Com a queda a cinta se desprendeu da cintura e a perna mecânica escorregou pela calça jeans sem sair totalmente.

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A mulher, motorista do carro, quando viu a perna – que ela não sabia que era postiça -, toda torcida e desproporcional à outra original, entrou em pânico e começou a gritar.

– Ai meu Deus, o que foi que eu fiz … Meu Deus, me ajude … e outras coisas mais.

O Vilmar vendo que a mulher estava quase em choque, levantou-se, pegou a perna postiça com as mãos e foi até à mulher, saltitando na perna boa, incorporando o próprio Saci Pererê. Pegava a mão dela, batia na perna mecânica e dizia que não era a perna dele. Mas a mulher não voltava à real, até que ela foi se acalmando e entendeu o que tinha acontecido e tudo ficou bem. Depois ela pagou todo o conserto da moto, apenas o mata-cachorro, manete, espelho e piscas.

Rimos muito desse acontecimento, foi o assunto preferido no nosso grupo durante algum tempo, rendendo muitas e muitas risadas, principalmente quando o ocorrido era contado pelo próprio Vilmar, que nunca demonstrou qualquer sinal de frustração pelo seu infortúnio. Grande sujeito, grande amigo.

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PS: Naquela época, 1976 e 1977, costumávamos nos reunir em Curitiba num local especial mandado construir pelo prefeito, cujo nome não me recordo mais, que também era motociclista, na famosa “Boca Maldita”. Era um grande círculo em baixo relevo na calçada da rua com uma pequena entrada por onde só transitavam motos. Éramos motociclistas não por necessidade e sim, simplesmente, pelo espírito de liberdade que a moto inspira. E éramos muito discriminados; naquele tempo motoqueiro – não se usava o termo motociclista – era visto com mais preconceito que nos dias de hoje.

Mário Sérgio Figueredo
Motociclista apaixonado por motos há 42 anos, começou a escrever sobre motos como hobby em um blog para tentar transmitir à nova geração a experiência acumulada durante esses tantos anos. Sua primeira moto foi a primeira fabricada no Brasil, a Yamaha RD 50.