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Ricardo Nogueira, headhunter paulistano, fez uma descoberta: a motocicleta pode revelar muito sobre o profissional a ser contratado.

Texto: M. Barthô – Ilustração: Ricardo Sá

Há cerca de dez anos, o paulistano Ricardo Nogueira, 44 anos, um caçador de talentos profissionais (um “headhunter”, ou “caçador de cabeças”), descobriu uma pérola: uma boa motocicleta pode ajudar a abrir as portas das grandes companhias e dos melhores empregos. Sim: isso acontece no restrito meio por onde gravitam os altos executivos.

Se não abre a porta, a moto dá um belo empurrão. “A motocicleta faz a diferença”, diz Nogueira. “E isso acontece tanto na hora de contratar como de ser contratado.”

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Segundo esse caçador de profissionais, que agregou a descoberta a seu trabalho, a motocicleta motiva o bate-papo, aproxima as pessoas e revela detalhes preciosos sobre o caráter de seu dono.

Isso é uma inversão de valores radical. Os cinquentões de plantão com certeza se recordam dos áureos tempos do pátio interno do Parque

Ibirapuera, nos anos setenta. Na época, as grandes motocicletas importadas eram consideradas uns ‘brinquedões’ de playboys endinheirados.

Eram, mas não são mais. Atualmente, possuir uma grande motocicleta significa ter nas mãos um símbolo de status e de conquista pessoal. E isso só acontece — tirando as exceções — graças ao avanço profissional.

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Atualmente, uma Harley-Davidson ou uma BMW podem determinar a escolha do executivo. Exagero? Nem tanto. Quem trabalha recolocando executivos pensa o contrário. “Sem a menor sombra de dúvida, essas máquinas ajudam a abrir as portas de grandes corporações”, afirma o headhunter Ricardo Nogueira.

Ele ousa avançar em sua tese: “Se o cão é a cara do dono, com as motos se dá o mesmo”, compara. “Pode reparar: a moto, ou até mesmo os carros, têm a cara do dono. E vice-versa.”

Será verdade? Atualmente, o headhunter tem uma superesportiva Yamaha R1. Seu carro é um Hyundai Santa Fé. Ou seja, de acordo com a cartilha que desenvolveu, seu perfil mescla altas doses de arrojo e adrenalina com conforto e estabilidade.

Suas ‘presas’ podem ser tanto homens quanto mulheres executivas. Sim, mulheres. De uns anos pra cá, elas estão cada vez mais apegadas às grandes motocicletas. Aquela garota que pilota uma grande superesportiva é chamada por Nogueira de ‘mulher gato’. “Essas mulheres pertencem à nova safra de executivas. São casadas ou namoram com executivos e profissionais liberais que têm sua motocicleta. Elas acompanham a onda, os namorados, saem nas baladas estradeiras e deixam muito marmanjo de boca aberta…”, diz.

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Isso explicado, vamos ao que interessa.

Na mesa ou na garagem De cara, quem pilota uma boa motocicleta e sua tocada tem a preferência do headhunter nessa abordagem profissional. Quando sai à caça de profissionais, Nogueira busca detalhes para descobrir indícios que registrem a presença de duas rodas. “Uma simples miniatura sobre a mesa do escritório já é um sinal revelador. Com certeza, ali está um profissional que possui um diferencial, e já sei como abordá-lo. Não há como errar”, diz.

Para o lado da empresa que está buscando um profissional, a moto também é um um fator positivo. Sua presença quebra — ou acelera — várias etapas no relacionamento das partes, especialmente nos primeiros momentos. “As motocicletas ‘derrubam’ as paredes de algumas organizações”, argumenta o profissional.

No entanto, o processo não é assim tão simples. A moto, sua marca, cilindrada ou característica não revelam o retrato acabado do profissional. Dão apenas alguns sinais, que devem ser interpretados — e aí entra o talento do headhunter.

“O presidente de uma grande empresa , por exemplo, pode ter uma impecável e luxuosa BMW. Mas ele também pode surgir de repente no meio do mato pilotando uma trail toda enlameada. Por que não?”

Certo mesmo é que o motociclista é mais enturmado, participa de encontros ou reuniões, frequenta ‘points’ diferenciados e é apegado à uma marca, estilo ou tribo.

Nogueira explica que há algumas certezas. Na maioria das vezes, o profissional que é proprietário de uma motocicleta pode ser um executivo formal, que fica no escritório durante a semana, com a foto de sua família sobre a mesa de trabalho. Mas que, no primeiro final de semana ensolarado, poderá ser encontrado trajado como um piloto, numa curva de estrada acelerando esportivamente sua Honda Fireblade. “A motocicleta é o oxigênio que esse engravato respira no fim de semana.”

Segundo o headhunter, o fato do executivo ter uma moto também pode revelar que ele gosta de sair com os amigos. Assim, não é um ser individualista. “Quer dizer, ele chegou ao topo e conquistou seu objeto de desejo, mas está enturmado com outros profissionais do mesmo nível. Isso é um ótimo sinal.”

Outro detalhe descoberto é que o executivo-motociclista fica bem mais à vontade nas entrevistas. “Basta tocar no assunto motocicleta que o papo já muda”, revela o headhunter. No entanto, ele faz um alerta: em todos os casos citados acima, há excessões. Por isso, ensina, nunca se deve incluir apenas a moto como indício do perfil do profissional. A motocicleta ajuda a definir o perfil e algumas características do executivo, mas ela é apenas uma grande aliada.

Nogueira revela que, deixando as motocicletas, carros, jipes etc de lado, o profissional buscado pelo headhunter precisa se destacar em três aspectos básicos: ser atualizado e bem informado em vários campos, que abrangem desde tecnologias até o mercado financeiro; ter vários “gols” (conquistas) registrados em sua carreira; e possuir um carisma destacado, autocontrole e liderança naturais.

Aqui, ele compara duas e quatro rodas. “O contrário do que as motos indicam ocorre com os carros. O dono de uma Mercedes-Benz topo de linha nem tira sua ‘merça’ da garagem se estiver garoando. Ele sempre estará perfumado e com o cabelo engomado. Seu lazer habitual não é feito em turminhas ou baladas aventureiras, mas fica mais restrito à família, poucos amigos ou encontros formais e sociais em clubes fechados.”

Quando se trata de fazer a análise inicial a partir do carro, a questão fica menos complicada. “O carro é mais fácil para se delinear o perfil de seu dono. Só de você olhar para o carro, já dá pra tirar um perfil imediato de seu proprietário”, afirma.

Enfim, com sua fórmula mágica, Nogueira já colocou ou reposicionou vários executivos em grandes empresas. “Modéstia a parte, nunca errei. Os profissionais que conquisto chegam, inclusive a ultrapassar as expectativas!”, conclui. Evidentemente, ele agrega a isso seu talento natural de public relations, muitos contatos e uma boa dose de experiência.