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Em 1992 eu comprei uma Honda NX 350 Sahara zero e fiquei com ela até 2005, um total de 13 anos com a mesma moto. Rodei pouco, cerca de 35 mil quilômetros, e devo ter gasto em manutenção e peças não mais do que R$ 1.000,00 em todo esse período. Seguro eu nunca fiz, também nunca cai com ela, e por causa do baixo valor o IPVA nunca foi um problema.

Vendi a moto por cerca de R$ 4.500,00, cerca de 35% do preço de uma Honda NX 4 Falcon nova, que seria uma referência atual de preço para a Sahara se ela ainda estivesse sendo produzida. Em 13 anos podemos dizer que eu “perdi” 9 mil reais em depreciação, 3 mil reais em taxas de IPVA e mais uns 1.000 reais em peças e manutenção, fora o que eu gastei de gasolina, mas isso eu não vou considerar nessa conta.

Portanto foram 14 mil reais em 13 anos, cerca de 1.100 reais por ano para ter uma boa moto em casa. Valeu a pena? Muito!

Fiquei velho, a patroa começou a fazer pressão para uma moto maior e acabei me aventurando nas motos de grande cilindrada, e consequentemente as preocupações com seguro e demais custos para manter uma moto. Pouca gente sabe, mas o seguro de motos grandes não é tão proibitivo quanto já foi um dia. Hoje podemos dizer que é bastante próximo ao seguro de um carro de valor similar. Houve épocas que a taxa de seguro era de 40% ao ano, e a franquia altíssima, totalmente proibitiva, mas hoje a coisa é bem diferente.

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Conversei com um corretor de seguros especializado em motos de grande cilindrada (acima de 600cc, pois abaixo disso não costuma ser economicamente viável fazer um seguro), e apesar da taxa de seguro envolver aspectos como perfil do condutor, CEP da residência e outros fatores que vão alterar a análise de risco, chegamos a uma conclusão por faixa de modelos que podemos considerar adequada para avaliar as motos grandes disponíveis no Brasil. A idéia para essa coluna era avaliar aproximadamente quanto custaria manter uma moto grande por 3 anos, considerando o seguro médio e a depreciação média de modelos similares durante esse período. Com isso em mente, vamos em frente.

Vamos chamar de preço base o valor médio atual de cada modelo selecionado, sem relação direta com a tabela FIPE. A taxa de IPVA é padronizada em 2% do valor venal (tabela FIPE) para todas as motocicletas e ciclomotores, e o pagamento é devido anualmente. Para calcular a depreciação em 3 anos utilizei a tabela FIPE para modelos similares (nem sempre um modelo atual existia a 3 anos atrás) também por faixas de preços. Sei que alguns modelos “clássicos” e cultuados pouco perdem valor com o tempo, como algumas V-Max, Super Teneré 750 e a Suzuki DR 800, mas seria impossível avançar com esse estudo se eu fosse entrar em cada detalhe.

A última coluna representa o total gasto durante 3 anos com o IPVA e seguro, mais a depreciação acumulada no período. Essa conta não é exatamente precisa pois o IPVA tende a reduzir de acordo com a depreciação, e o seguro anual varia de acordo com as estatísticas daquele ano, mas serve para se ter uma idéia aproximada dos custos de manter uma moto durante 3 anos com seguro e IPVA pagos.

Vamos então à tabela que apurei, e os devidos comentários:

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Modelo

Tx. Seguro

Deprec

Total

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Harley

Preço Base

IPVA

anual

3 anos

3 anos

Sportster 883

$ 30.000,00

2%

3%

20%

10.500,00

Softail

$ 50.000,00

2%

3%

22%

18.500,00

Touring

$ 60.000,00

2%

3%

22%

22.200,00

V-Rod

$ 80.000,00

2%

3%

20%

28.000,00

BMW

R1200

$ 75.000,00

2%

5%

20%

30.750,00

K1200

$ 85.000,00

2%

5%

20%

34.850,00

K1200 LT

$ 110.000,00

2%

5%

20%

45.100,00

Custom

Yamaha Drag Star

$ 25.000,00

2%

7%

20%

11.750,00

Honda Shadow

$ 30.000,00

2%

7%

20%

14.100,00

Suzuki Boulevard 800

$ 33.000,00

2%

8%

22%

17.160,00

Suzuki Boulevard 1500

$ 45.000,00

2%

8%

22%

23.400,00

Big Trail

Suzuki V-STROM

$ 50.000,00

2%

10%

20%

28.000,00

Triumph Tiger 950

$ 55.000,00

2%

7%

25%

28.600,00

KTM 950

$ 56.000,00

2%

7%

22%

27.440,00

Yahama TDM 900

$ 54.000,00

2%

10%

20%

30.240,00

Naked/Street

Hornet 600

$ 33.000,00

2%

13%

20%

21.450,00

Bandit 650

$ 33.000,00

2%

10%

20%

18.480,00

Bandit 1200

$ 36.000,00

2%

10%

20%

20.160,00

Susuki GSX 750 F

$ 38.000,00

2%

13%

22%

25.460,00

Super Sport

CBR 600RR

$ 58.000,00

2%

15%

20%

41.180,00

Kawasaki ZX12

$ 65.000,00

2%

15%

35%

55.900,00

Sukuki GSX-R 1000

$ 71.000,00

2%

15%

35%

61.060,00

Yamaha R1

$ 66.000,00

2%

10%

35%

46.860,00

Algumas conclusões são bem obvias: motos como Harley Davidson e BMW tem menos riscos estatísticos e consequentemente uma taxa de seguro menor. Outra percepção é que o risco estatístico e a depreciação acumulada é muito associada com o estilo da moto; as esportivas, por exemplo, depreciam bem mais do que as custom.

Portanto após a Harley e a BMW seguem na lista das motos com menores custos as custom de outras marcas, depois as Big Trails e logo depois as motos chamadas de Naked ou Street. Por último, como não poderia deixar de ser, as motos super esportivas com altas taxas de seguro (e também as maiores taxas de franquias) o que as torna praticamente inviáveis de assegurar. Imagine depois de 3 ou 4 anos perceber que você já gastou/perdeu o equivalente ao que pagou pela sua Suzuki GSX-R 1000, caso tenha feito seguro?

Supondo que essa tabela reflete aproximadamente as regras de mercado para uma tomada de decisão de compra racional, no segmento de naked/street em torno de 35 mil reais a briga fica dura entre a Hornet 600, a Bandit 650 (N ou S), e a Bandit 1200 (N ou S). Os valores são próximos, mas as Bandit tem uma taxa de seguro menor, talvez em função da maior base estatística já que estão há muitos anos no mercado. Já a GSX 750F me parece uma má decisão (pra não falar um “mico”, me desculpem os fãs da moto) já que é mais cara, seu custo de seguro é maior e bem como sua depreciação. Muito dinheiro pode ser poupado antes de comprar uma moto grande fazendo uma análise bem simples dessas duas variáveis quase ignoradas: taxa de seguro e depreciação média.

Falando em depreciação, modelos Yamaha e Honda são os que menos desvalorizam seguidas pela Suzuki, mas isso não vale para as super esportivas, que seguem outra lógica. Já as Harley e BMW também têm baixa desvalorização, mas como a amostragem é pequena, a falta de liquidez acaba gerando distorções grandes, por isso vou considerá-las como um grupo em uma posição abaixo dessas três marcas mais populares, mas evidentemente que cada modelo tem uma história diferente de outro. Há modelos Honda, Yamaha e Suzuki que viraram “mico”, enquanto há outras Harley e BMW que são clássicas, praticamente dinheiro em caixa. Lembre-se de avaliar bem o modelo que pretende comprar, especialmente pelo valor de revenda, pois todos os fabricantes têm ao menos um “mico” em sua história no Brasil, motos que não se deram bem no nosso mercado e são difíceis de manter, de vender, de fazer seguro. Acredite, se bobear você vai ficar com uma dessas até o fim dos tempos.

Notem como é interessante a Harley Sportster 883: o valor base é similar ao das “custom” nacionais, mas ela se beneficia de um seguro mais baixo mantendo uma depreciação dentro da média das boas marcas. Em uma comparação direta com a Honda Shadow, em 3 anos você economiza pelo menos uns 4 mil em seguro. Isso sem contar que é um motor de quase 900cc contra um de 750cc. Mas gosto é gosto e nem todos se adaptam ao estilo da Sportster 883, embora eu tenha muita curiosidade em andar em uma XL 883R modificada para 1200cc (usando peças da mecânica Buell).

Enfim, moto é um prazer e como qualquer prazer tem seu custo. Antes de comprar qualquer moto, avalie as alternativas, compare taxas de seguro, faça uma projeção dos gastos pelos próximos anos para ver se realmente vale a pena, ou siga o conselho do tio Tite quando eu perguntei qual era a melhor moto do mercado, e ele me respondeu mais ou menos assim “a melhor moto são duas, uma pra fazer tal coisa e outra pra fazer outra coisa…”.

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