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A necessidade de estarmos conectados a uma rede social ultrapassa em muito o verdadeiro sentido e razão da nossa existência como seres sociáveis. O comportamento e presença nestas redes, em muitos e muitos casos, beiram o estado inicial de insanidade e de dependência pseudo-social.

O fato é que elas são criteriosamente construídas dia-a-dia por gênios, profundos conhecedores do comportamento humano e seu psíquico, além lógico de complexas equações matemáticas. As redes sociais nos entorpecem sorrateiramente, nos transformando num viciado delas, dando a falsa impressão de estarmos completamente e ativamente nos socializando.

As armadilhas para nos manter conectados e entorpecidos são muitas, que passam pelas facilidades de acesso via celular, smartphone, tablet e smart tv, pela forma amigável que se pode configurar a página do usuário e enviar mensagens, fotografias e filmes, pela boa distribuição de recursos no lay-out da página, pelo visual “clean”, por poder “socializar” com muita gente sem sair do lugar e muitas outras.

Nos tupiniquins destas ensolaradas terras, as redes sociais potencializam o feitiço de aprisionar usuários de forma muito mais contundente que em outras sociedades. E não é de hoje.

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Sabem quem é Orkut Buyukkokten?

Calma, este não é o nome de um brasileiro pobre coitado que o pai na sua simplicidade quis deixá-lo bem conhecido pelo resto da vida, utilizando o nome do conhecido site e a discutível criatividade para o sobrenome. Na realidade, é simplesmente o próprio, o engenheiro do Google criador do site e desta rede social, que antes do Facebook não tinha concorrente.

Pois então, na época de crescimento e domínio total do Orkut, ele ficou assustado com a grande e rápida aceitação dos usuários no Brasil, a ponto deles precisarem reprojetar toda infraestrutura para suportar o volume de acesso. Pra se ter uma ideia de números, quando o Orkut atingiu o seu auge no mundo, 75% dos usuários desta rede eram brasileiros. Entenderam?

Simplesmente ¾ de todos os acessos no mundo eram feitos por brasileiros. Ele ficou tão impressionado que resolveu tentar encontrar a resposta pra pergunta que não quer calar. Porque o Brasil?

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Mesmo agora em tempo de Facebook, o Brasil se tornou o país com páginas mais ativas (outubro 2012). Onde o número brasileiro está muito distante dos outros participantes, com 85 mil posts. O Egito está em segundo lugar com cerca de 54 mil posts no mesmo período de tempo, e o Estados Unidos em terceiro lugar com cerca de 53 mil.

De volta ao Orkut e a pergunta. Porque o Brasil? Uma resposta que pode ser mais fácil pra gente, mas imagine pra um nerd turco funcionário do Google. Mas assim mesmo ele chegou numa resposta, que é mais ou menos a de que faz parte da cultura brasileira ser amistoso, gostar de sair e fazer amigos.

Me atrevo a ir além, e com exemplo.

Todo mundo certamente já passou por aquela situação de estar esperando um transporte coletivo num ponto de ônibus ou numa rodoviária qualquer, e do lado está aquele “sinhorzinho” nunca dantes visto, que sem deixar a gente nem esquentar o assento e se apresentar, começa contar a história da vida dele. Conta que é do cafundó do judas, que tem 10 filhos, que um já foi morto e outro está preso, que uma se perdeu e virou prostituta e assim segue ladeira abaixo.

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Durante aqueles 5 minutos ele faz um resumo impressionante da vida dele. E de graça. Na sua simplicidade, ele sente uma necessidade enorme de se socializar e como grande parte da sociedade brasileira, o faz com uma certa ingenuidade e despudor.

Pois é, os bancos de ponto de ônibus e rodoviária já não estão sendo mais tão ocupados e estão sofrendo a concorrência de outros meios para os “sinhorzinhos”, “sinhórinhas” e todos se sentirem socializados. O início do tema acima pode dar a nítida impressão que sou mais um daqueles radicais que são contra mudanças e formas globais insurgentes que nos influenciam e às nossas relações e viver. Que sou contra as redes sociais.

Ledo engano.

Aliás, muito deste meu pensar vem do latente incômodo de ter dedicado um progressivo e enorme tempo à elas neste último ano. Onde e quando um tema inteligente e provocativo surgiu no decorrer dele, sintetizado por um lema que diz: Desconectar para Conectar (Disconnect to Connect).

Sem entrar muito nesta polêmica, pretendo neste novo ano me dedicar mais às coisas palpáveis e menos nas subjetivas, não privilegiar a quantidade em detrimento da qualidade no tempo e relações nas redes, fazê-lo do mesmo jeito em relação aos encontros e eventos de motociclistas, e viajar muito, mas muito de motocicleta. Muito mais do que o fiz em 2012.

Boas emoções amigos, nas estradas com irmãos de fé e destino.