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Você é daqueles que não quer nem pensar em utilizar um scooter? Acha que scooter é coisa de quem não sabe andar de moto? Recomenda que scooter é para mulheres? Defende que scooter é perigoso por causa das rodinhas e daquele “balanço” incômodo? Acha que scooter anda menos que moto e gasta mais? No fim, se as respostas a todas estas questões te convencerem do contrário, você definitivamente vai dizer que “scooter não é moto” e ponto final.

Na moto o piloto está montado enquanto que no scooter está sentado. Isto define tudo?

Na moto o piloto está montado enquanto que no scooter está sentado. Isto define tudo?

Este texto tem o objetivo de jogar um pouco de luz no tema para tentar esclarecer estas questões que surgem cotidianamente nas discussões entre motociclistas sempre que o scooter entra na conversa ou alguém que tenha um participe do bate papo. Muitas destas afirmações são mitos que foram alimentados pela “OSCARA”, entidade que atua junto a todos os grupos de motociclistas e muito conhecida do jornalista e instrutor de pilotagem Geraldo Tite Simões. Tite explica que a entidade costuma ser unanimidade nas discussões quando alguém afirma algo e é indagado sobre a fonte da informação. “Ah, OSCARA por aí que estão dizendo”.

Ou seja, essas “verdades” espalhadas pela OSCARA acabam sendo aceitas sem qualquer base e muitos as utilizam para definir escolhas e emitir opiniões. Por isso queremos oferecer argumentos racionais e técnicos sobre todos estes pontos e mais alguns outros ainda, como aquele que informa sobre a melhor adequação do scooter para as mulheres “pois é possível pilotá-los usando saia e sapato com salto”, justifica OSCARA. Ah, então tá. Vamos começar por aí.

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Adequado a mulheres? Com certeza não desta forma

Adequado a mulheres? Com certeza não desta forma

Saia e salto alto

Não foram poucas vezes que já ouvimos (e vimos) mulheres de saia e salto alto pilotando scooters. De fato é possível pilotar um scooter usando saia e sapato com salto alto sem passar constrangimentos. Mas entre ser possível e ser seguro há uma distância muito grande. No campo das possibilidades, quase tudo pode acontecer, mas nada disso significa que é correto ou seguro para quem está diretamente envolvido. Dizer que scooter é adequado a mulheres pilotarem usando saia e sapato com salto alto equivale a dizer que o tombo nestas condições está imune à abrasão do asfalto e aos impactos com obstáculos diversos, podendo ela abrir mão dos equipamentos de segurança. Não, e neste caso o scooter é moto.

Para quem não sabe andar de moto

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Essa é outra afirmação comum. É verdade que acelerar com a mão direita e frear com as duas mãos é bem mais simples do que apertar a embreagem com a mão esquerda, engatar a marcha no pé esquerdo, acelerar com a mão direita e frear com o pé e a mão direita. Mas todo o resto é igual. Equilíbrio, atenção ao trânsito, à via, aos próprios limites e aos da moto ou scooter que se está pilotando. Contudo, as rodas pequenas, as características ciclísticas como a distribuição do peso e a altura livre do solo do scooter limitam velocidades maiores e alguma esportividade. E claro, como já mencionado, é bem mais fácil de pilotar. Portanto, neste caso scooter não é moto.

Só para mulheres

Já ouvi em rodas de conversas essa “informação”. E os argumentos passam pelo já abordado tema da “saia e salto”, passa pelo peso do scooter e chega até na anatomia feminina. Sejamos objetivos: o fato de estar montado ou sentado num veículo não significa ser ele mais ou menos adequado para homens ou mulheres. O que há no meio das pernas (ou não há) nada tem a ver com a capacidade ou a comodidade de montar numa motocicleta ou sentar num scooter. Há milênios homens e mulheres montam cavalos e mais recentemente montam motocicletas e nada aconteceu de significativo com a humanidade que tenha relação a isso.

Instabilidade em alta velocidades e limitação nas curvas torna o scooter diferente das motos

Instabilidade em alta velocidades e limitação nas curvas torna o scooter diferente das motos

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Ah, scooter é mais leve e, portanto, mais fácil para mulheres. Vejamos alguns exemplos: Honda PCX 150 (124 kg) e Honda NXR 150 Bros (121 kg); Suzuki Burgman 400 (216 kg) e Honda NX400i Falcon (158 kg);  Dafra Citycom 300i (171 kg) e Honda CB 300 (151 kg). Todos os scooters de mesma cilindrada que motocicletas são mais pesados. Há ainda argumentos que beiram o puro preconceito, como o do amplo espaço sob o banco que permite “às mulheres” fazerem compras e levarem coisas, como se os homens não fizessem isso. Bobagem pura. Scooters e motos são adequados tanto para homens quanto para mulheres e, portanto, scooter é moto.

Rodinhas e balanços

Aqui não tem muita discussão. Basta olhar e verificar que scooter não é moto. Será? Mas qual a definição de moto? Segundo Wikipédia, Motocicleta ou Motociclo é um veículo de duas rodas e tração traseira com um motor que propicia sua auto-locomoção capaz de desenvolver velocidade de cruzeiro com segurança e conforto. Já o dicionário Michaelis define: Veículo, semelhante à bicicleta, mas bem mais reforçado que esta e movido por motor de explosão. Bem, pelo que se nota, até aqui um scooter também é uma motocicleta, segundo estas definições leigas sobre o assunto.

Chassi completamente diferente determina comportamento distinto do scooter em relação às motos

Chassi completamente diferente determina comportamento distinto do scooter em relação às motos

No entanto, quem anda com um e outro, sabe que são diferentes. Pelas características do chassi e da construção, o scooter tem seu peso concentrado mais abaixo e atrás em relação a qualquer motocicleta. Isso porque o motor é junto à roda traseira e todo esse conjunto se movimentando junto com a suspensão torna o funcionamento das suspensões bem diferente das motocicletas, com curso menor e maior rigidez. Toda essa massa tem que se mover junto com a rodinha e isso atrapalha o funcionamento da suspensão. As rodas dos scooters são menores porque elas dividem espaço junto ao motor.

Evidentemente que tudo isso cobra um preço alto do comportamento do scooter. E isso se traduz em certa instabilidade em velocidades maiores, incômodos balanços laterais e menor capacidade de inclinação em curvas. Como já foi mencionado também, a forma de pilotar – sentado e com os pés apoiados na plataforma – e acelerando com a mão direita e freando com as duas mãos, sem precisar trocar marchas, torna o scooter bem diferente da motocicleta. Assim, pela ciclística, scooter não é moto.

Anda menos e gasta mais

Comparar o desempenho de um scooter e uma motocicleta, ambos com a mesma cilindrada, indica que de fato o scooter alcança velocidades máximas menores. Motonline não realizou medições exatas, mas por tudo o que já foi mencionado aqui isso fica quase evidente. Além de ter maior arrasto aerodinâmico, todos os scooters carregam mais peso que seus equivalentes motocicletas de mesma cilindrada. Claro que essa não é uma diferença muito grande, mas ela existe. Então pelas mesma razões o consumo de combustível deveria ser maior. Mas isso não é necessariamente verdadeiro. Para tirar a prova disso, comparamos alguns casos de avaliações realizadas pelo Motonline.

O Suzuki Burgman i e a Yamaha YBR 125 Factor, ambos com 125 cc de cilindrada, consumiram em média e respectivamente, 31,6 km/l e 36,9 km/l, uma diferença considerável a favor da motocicleta.  Mas há o caso inverso da Dafra Citycom 300 i e da Honda CB 300, onde o scooter consumiu média de 31,9 km/l e a moto 24,3 km/l, também uma diferença enorme. Isto quer dizer que ser scooter ou moto no caso do consumo de combustível, o que é determinante é o projeto todo e não apenas o estilo. Portanto, no caso de velocidade máxima e consumo, scooter é moto.

Como nosso objetivo não é convencer ninguém de que scooter é moto (ou será que não é????), definir por uma ou outra coisa é sempre muito perigoso. Os fatos estão aí e as análises tem base neles para concluir se o veículo de duas rodas conhecido por scooter é ou não moto. E como se vê, ora ele é moto, ora não é moto. Da próxima vez que você encontrar OSCARA, conte pra eles.

Sidney Levy
Motociclista e jornalista paulistano, une na atividade profissional a paixão pelo mundo das motos e a larga experiência na indústria e na imprensa. Acredita que a moto é a cura para muitos males da sociedade moderna.