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A estratégia ficou clara desde o último lançamento da Traxx, a Fly 250. A marca chinesa vem com uma linha de produtos com uma cilindrada superior, para concorrer no mercado onde o preço praticado pelos concorrentes corresponde a um produto de cilindrada menor e com menos requintes. Traduzindo para o mundo real, as duas motos Traxx, a Fly 250 e agora essa que avaliamos, a TSS 250, trazem no nome o tamanho do motor – 250 -, mas o preço fica acima das motos da categoria menor, de 150 cc ou 160 cc: R$10.220,00 (FIPE).

Moto mais adequada para novos mercados: empresa quer expandir negócios para o Sul e Sudeste

Moto mais adequada para novos mercados: empresa quer expandir negócios para o Sul e Sudeste

Apresentada no Salão Duas Rodas de 2013, a TSS 250 é peça fundamental na estratégia da marca para abordar e tentar ter sucesso nos mercados do Sudeste e Sul do País, a exemplo do que já acontece com a Traxx na região Nordeste. “Ate hoje não tínhamos o produto certo para este mercado e por isso estávamos praticamente ausentes do Sul e do Sudeste do Brasil”, fala Zoghby Koury, principal executivo da empresa, que tem sede em Fortaleza (CE) e monta suas motos no PIM, em Manaus (AM).

A moto exibida no Salão Duas Rodas em 2013: plano antigo

A moto exibida no Salão Duas Rodas em 2013: plano antigo

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Koury informa que a chegada destes produtos já surte efeito positivo nas vendas da marca, pois seus próprios consumidores passam a ter opção de troca “dentro de casa”. “Queremos expandir nossas vendas para novos mercados onde ainda não atuamos e tanto a TSS 250 quanto a Fly 250 estão mais adequadas ao alto nível de exigência do consumidor das regiões Sul e Sudeste do Brasil”, explica Koury.

Independente do desempenho futuro, vale lembrar que a Traxx é uma das únicas marcas de motocicletas que apresenta crescimento em 2015 e uma das duas únicas marcas chinesas que conseguiram sobreviver no mercado brasileiro – a outra é a Shineray – após a proliferação de novas marcas oriundas da Ásia que aconteceu nos últimos 15 anos. Além dela, só restou a Shineray que representam o imenso universo de marcas chinesas no Brasil. Apesar dos números modestos, são fatores favoráveis que indicam alguma competência e boa capacidade de adaptação ao exigente mercado consumidor brasileiro.

Koury e a Traxx TSS 250 no Salão Duas Rodas 2015: expansão para novos mercados

Koury e a Traxx TSS 250 no Salão Duas Rodas 2015: expansão para novos mercados

E já que falamos do consumidor brasileiro, se há vantagem de um lado, sempre vem uma desvantagem de outro. Se o preço é mais baixo – R$12.995,00 para a Fazer, R$12.997,00 para a Next e R$13.050,00 para a nova CB Twister -, o desempenho é inferior à todas elas, concorrentes da mesma categoria. E nossa avaliação na Traxx TSS 250 comprova a estratégia da fábrica. Com os mesmos 233 cc da Fly 250, ela oferece desempenho acima de uma moto de 150 ou 160 cc, com preço pouco superior a estas. Porém, cabe salientar ao consumidor: não espere o mesmo desempenho de uma 250 cc ou 300 cc.

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A TSS 250 tem o porte de uma 250 e seu design é bem atraente, com pintura em duas cores, carenagens envolventes no tanque de combustível, piscas dianteiros embutidos nas laterais, luz de posição na dianteira junto ao farol, lanterna e piscas traseiros, tudo em LED  que representa baixo consumo de energia e se traduz em modernidade.

A frente se destaca com o grande farol em design agressivo e o conjunto das laterais incorporando as lanternas de pisca

A frente se destaca com o grande farol em design agressivo e o conjunto das laterais incorporando as lanternas de pisca. Carenagem sob o motor feita em três peças demonstra o capricho

As rodas são em liga leve com um filete vermelho destacado. A frente ficou bonita e a pintura bem acabada, com o grande farol afixado na direção. Na traseira as grandes alças em alumínio fundido realçam as formas afiladas e ajudam na segurança do garupa, que recebe uma boa acomodação no banco mais alto para ele. Realmente, a TSS 250 demonstra capricho na escolha dos materiais e no acabamento.

Posição do piloto é confortável e permite uma boa dose de agressividade sem penalizar o corpo; pode-se rodar bastante sem cansar

Posição do piloto é confortável e permite uma boa dose de agressividade sem penalizar o corpo; pode-se rodar bastante sem cansar

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Conforto é um dos pontos altos desse modelo, reforçado pelos detalhes como lampejador de farol e indicador de marcha em uso. Esses itens vão ajudar no conforto porque também diminuem o esforço na pilotagem. O banco também reforça essa questão com o bom posicionamento das pedaleiras que determinam uma posição confortável e condizente com o posicionamento do guidão, bastante relaxada para o piloto.

Ao acelerar a moto você já percebe que não se trata de uma 160 cc, mas fica a desejar para uma 250 cc. Porém, o motor cresce com firmeza e sem pontos de baixa resposta na aceleração. Percebe-se uma leve variação que pode se relacionar com uma variação da pressão de combustível sobre a válvula injetora, um pouco intrigante, mas sem consequências maiores e o consumo varia bastante, com a melhor média em 26,3 km/litro e a pior em 18,9 km/litro. Se andar com “cabo enrolado”, o consumo sobe muito.

Geometria coerente com a proposta da moto; limitações dos pneus de segunda linha impediram de realizar testes mais avançados

Geometria coerente com a proposta da moto; limitações dos pneus de segunda linha impediram de realizar testes mais avançados

Quanto à dirigibilidade pudemos verificar que tem grande potencial, mas os pneus de certa forma prejudicaram bastante o teste. Na traseira observou-se grande vibração ao passar por algum buraco. A suspensão trabalhou bem em reter a vibração enquanto o pneu repicava com a elasticidade excessiva da carcaça, provavelmente consequência de um grave desbalanceamento da roda. Motos dessa cilindrada, que atingem velocidades menores, com pneus de boa qualidade não devem apresentar vibração na roda, mesmo sem balanceamento.

A Traxx precisa rever a qualidade dos pneus que usa. Na unidade testada a consequência foi grave, não houve estabilidade suficiente para arriscarmos uma tocada mais agressiva nas curvas, pois qualquer ondulação tirava o pneu traseiro do contato com o solo e mesmo nas retas em maiores velocidades a vibração incomodava bastante e além disso implica em um desgaste prematuro do amortecedor, uma pena. Pneus de primeira linha com certeza resolvem esse problema e vão resultar em uma moto muito mais segura e que vai oferecer muito prazer na pilotagem, pois o conjunto é homogêneo em todo resto. Vale a pena investir nisso.

Um problema no pneu deixou a traseira muito instável, que vibrava quando passávamos em buracos ou a velocidade maiores; escapamento cônico valoriza a esportividade da moto, assim como o freio traseiro à disco

Um problema no pneu deixou a traseira muito instável, que vibrava quando passávamos em buracos ou a velocidade maiores; escapamento cônico valoriza a esportividade da moto, assim como o freio traseiro à disco

Em baixas velocidades deu para perceber uma ciclística bem resolvida, com respostas rápidas para as curvas e mantendo boa estabilidade em retas, apenas com um pouco de peso excessivo no movimento da direção, consequência do grande farol, afixado no conjunto móvel, típico nesse tipo de moto. A suspensão dianteira está condizente com o resto do conjunto, com boas ações em absorver os impactos na roda. Os freios são muito bons para uso normal e se mostram eficazes, mas o dianteiro provoca um pouco de mergulho excessivo. Um pouco mais de progressividade na mola seria desejável.

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Enfim, a moto mostra potencial, tem qualidades em um projeto inteligente que determina um preço competitivo com inserções de itens importantes, mas a escolha dos pneus ainda está comprometendo a boa qualidade do conjunto. Já existem no mercado até pneus radiais na medida utilizada e para o consumidor não complica muito trocá-los por outros de qualidade melhor, coisa que para a fábrica deve ser mais fácil ainda. Precisa ser feito.

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Bitenca
Pioneiro no Motocross e no off-road com motos no Brasil, fundou em 1985 o TCP (Trail Clube Paulista). Desbravou trilhas em torno da capital paulista enquanto testava motos para revistas especializadas.