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Já vivemos a era do cérebro global, e ele é representado pela internet e todos que a utilizam. O filósofo da cultura da internet, o tunisiano Pierre Lévy, abordou o assunto na conferência “Horizontes do conhecimento na era digital”, realizada na noite de sexta, na 14ª Jornada Nacional de Literatura. Autor do conceito de inteligência coletiva, ele é um defensor ferrenho da internet como uma forma de democratização da cultura.

Durante a conferência, Pierre apresentou mapas e esquemas didáticos que mostram a sua concepção de uma nova linguagem para nortear e avaliar o sentido dos dados trocados pela rede. “Trata-se de uma utopia linguística, mas que pode se tornar real e mudar a maneira como lemos e escrevemos”, disse em um inglês temperado pelo sotaque francês. Essa língua seria capaz de categorizar dados como se quiser, incorporando significados. “Esses significados não são absolutos, por isso costumo chamar isso de jogos de interpretação coletiva.”

Relacionando o universo material e espiritual (da cultura simbólica), ele reforçou que estamos explorando novas relações mentais a partir do uso extensivo dos computadores e da internet. Isso estaria transformando a nossa habilidade cognitiva. “O aumento da capacidade de gravar e armazenar dados continua crescendo, e podemos transmitir informações de qualquer lugar para outro”, disse. “Estamos apenas no começo desse processo e precisamos refletir sobre isso. Ainda não sabemos como usar todo esse potencial.”
Para ele, a exploração das mídias digitais deveria estar a serviço do processo de recepção e transmissão de cultura. “Estamos vivendo um grande momento de transformação, que considero tão importante quanto a transição da cultura oral para a escrita”, destacou.

Expoente do estudo da cibercultura, aos 54 anos Pierre Lévy é titular da cadeira de pesquisa em inteligência coletiva da Universidade de Ottawa, no Canadá. Seu trajeto acadêmico inclui a formação da Universidade de Sorbonne: cursou um mestrado em História da Ciência e doutorado em Sociologia e Ciência da Informação e da Comunicação.
Suas teorias sobre a inteligência coletiva são descritas em seus livros, 12 dos quais foram publicados no Brasil. Entre eles, destacam-se “Cibercultura” (Editora 34, 1999), “O que é o virtual?” (Editora 34, 1996) e “A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço” (Loyola, 2000).

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Sobre a Jornada de Passo Fundo
A Jornada Literária de Passo Fundo completa 30 anos de existência e chega à sua 14ª edição. O evento ocorre até o próximo dia 26 no Circo da Literatura, Campus I da Universidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Com o tema “Leitura entre nós: redes, linguagens e mídias”, a programação inclui palestras, conversa com autores, cursos, espetáculos musicais, teatrais e de dança, oficinas, filmes e exposições. Tradicionalmente participam da Jornada Literária escritores de todo o mundo. Neste ano, estão na Jornada os portugueses Gonçalo Tavares e Tatiana Salem Lévy; o tunisiano Pierre Lévy; os argentinos Alberto Manguel e Beatriz Sarlo; além dos brasileiros Maurício de Sousa, Elisa Lucinda, Edney Silvestre, Eliane Brum, entre outros.