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Por Mário Sérgio Figueredo

Eu tive o privilégio de conhecer de pertinho um dos maiores incentivadores do motocross no Brasil. O nome dele: NIVANOR BERNARDI. Na época ele era o nosso Ayrton Senna das motos, isso entre os anos 70 e 80.

Nivanor Bernardi, o Touro do Paraná - foto de César Caldas

Nivanor Bernardi, o Touro do Paraná - foto de César Caldas

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Quando Nivanor despertou para o motocross, lá pelos idos do início da década de 70, foi pioneiro, pelo menos no Estado do Paraná e, de forma autodidata começou a treinar apoiado apenas por revistas ou filmes (em Super 8, que era tipo filme de cinema adaptado para uso em filmadoras portáteis, e se assistia com um projetor que mostrava as imagens em um fundo branco) que conseguia trazidos por amigos que viajavam para o exterior.

Claro que tentando aprender sozinho, Nivanor cometeu alguns erros (errando é a melhor forma de aprender). Chegou até a construir uma pista particular dentro da propriedade que a família tinha, um posto de gasolina às margens da BR-116, no município de Quatro Barras, saída de Curitiba para São Paulo.

Reuníamo-nos com frequência lá para ver aquele “doido” praticar saltos inacreditáveis com as antigas Yamaha 125 e 250 idênticas às que víamos circulando pelas ruas da cidade; não haviam motos específicas para competição off-road naquela época.

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Certa vez ele confidenciou-nos que o seu principal erro foi a falta de referência no preparo físico. Ele acreditava que para ser um campeão tinha que malhar muito e por isso investia no fortalecimento do tórax e braços, descarregando os caminhões da família ou cortando lenha com machado – somente quando começou a competir em campeonatos internacionais é que descobriu que o motocross exigia maior força nas pernas, para suportar os saltos e o piso irregular – mas aí já era tarde porque estava quase em final de carreira e a desvantagem era muito grande por conta disso.

O Touro do Paraná tinha uma força descomunal, principalmente nos braços. Apos uma corrida na cidade de Ponta Grossa (PR), ganha por Ele, tinham 3 caras já meio altos pela cerveja, “azucrinando” o Nivanor – não existia a estrutura que cercam os pilotos de motocross de hoje – naquele tempo o piloto ia sozinho, no peito e na raça, mais um mérito dele. Algumas vezes contava com a ajuda dos fãs, que não eram poucos.

Nivanor Bernardi - foto de César Caldas

Nivanor Bernardi - foto de César Caldas

Os caras queriam confusão e o Nivanor falou para eles: “Peraí que só vou colocar a moto na picape e já brigo com vocês”. O Nivanor, sozinho, ergueu a Yamaha 250 do chão e a colocou sobre a caçamba da camionete, acho que uma Ford-Willis F-75, que é alta pra caramba. Não sei o por quê, mas os caras desistiram da briga. Nós como os caras ficamos impressionados com a força daquele sujeito que mais parecia um guarda-roupas de tanta largura nos ombros – Nivanor era um cara grande, muito grande, em todos os sentidos. Tente pegar uma CG 125 que pesa quase a metade do peso de uma Yamaha 250cc e colocar sozinho em cima de uma camionete, mesmo destas pequenas tipo Saveiro, mais baixas que a F-75. Em tempo: depois o pessoal deu uma lição nos engraçadinhos, nada sério, só uns carinhos.

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Mas o ponto quente das competições era quando o víamos dentro da mesma prova disputando curvas e saltos com Moronguinho e Paraguaio, outros grandes monstros do motocross brasileiro.

Outra passagem interessante aconteceu em Sorocaba, interior de São Paulo: placa de 5 min para a largada erguida, pilotos se alinhando no gate, duas belas garotas vestidas com uniforme da equipe a segurar guardas-sois sobre aquele piloto que já admirávamos. Uma das garotas observa o pneu dianteiro da moto e avisa ao Nivanor que o pneu estava baixo. Ele vê que realmente está e ameaça retornar aos boxes para corrigir o problema, mas como a pista era bem longa e os boxes distantes, e a largada estava próxima, Nivanor disse em voz alta: “que se dane o pneu, vai assim mesmo, é fé em D’us e mão no acelerador, e vamos pra corrida”. A corrida foi dominada de ponta a ponta e ganha por ele (essa passagem foi uma contribuição de Buddy Holly, assíduo frequentador das corridas de motocross).

PEQUENA BIOGRAFIA

Nivanor Bernardi nasceu em 30 de setembro de 1949 em Apiúna, Santa Catarina. Iniciou a sua carreira no motociclismo em 1971, levando aos quatro cantos do mundo o seu estilo próprio de pilotar, com muita técnica e garra, sempre buscando a vitória a qualquer custo. Competiu em várias categorias de velocidade, porém o motocross foi a sua especialidade.

Entre a longa lista de títulos conquistados durante a sua carreira, destacam-se:

No Motocross

► 7 Campeonatos Brasileiros (125 e 250 cc);
► Tetracampeão Paulista (125 e 250 cc)
► Bicampeão da Copa Hollywood, em 1985 e 1986;
► Copa Internacional da Argentina: 9 provas em 1975 (250 cc);
► 2 vezes vice-campeão Latino Americano (1975-1977);
► Campeão Latino Americano em 1978;
► Campeão das Américas;
► 2º lugar no Grande Prêmio Mundial, na Argentina (125 cc);
► 11º lugar no Grande Prêmio Mundial do Japão em 1977;
► Conquistou mais de 20 Grandes Prêmios Internacionais no motocross

Nivanor, chefe da equipe de Eduardo Saçaki - foto do arquivo pessoal do Japonês Voador

Nivanor, chefe da equipe de Eduardo Saçaki - foto do arquivo pessoal do Japonês Voador

Nas categorias de Velocidade

► 2º lugar nas 500 Milhas de Interlagos, em 1974 (especial 350cc);
► 1º lugar nas 24 horas de Interlagos, (500cc) em 1975. Nesta prova, Nivanor bateu  o Recorde Mundial de Velocidade em provas de 24 horas.
► Em 1992, quando já havia parado com as competições, conquistou o Vice-Campeonato de Velocidade na Terra.
► Entre centenas de troféus conquistados, Nivanor tinha orgulho especial do Capacete de Samurai que ganhou quando foi recebido pelo Príncipe Ayquito, pai do atual Imperador do Japão.

Após parar de correr, em meados de 1988, Nivanor foi convidado a ser chefe de equipe da Escuderia Oficial Yamaha, época em que teve como pupilo Eduardo Saçaki, o Japonês Voador

Nivanor Bernardi faleceu em 24 de abril de 1995, vítima de insuficiência hepática.

 

Fonte: Pesquisa, texto e imagens da época por Mário Sérgio Figueredo – dados obtidos com a família, amigos, fãs e o próprio piloto ainda em vida

NIVANOR BERNARDI SERÁ HOMENAGEADO NO BRASIL MOTORCYCLE SHOW
Evento acontece em Curitiba  de 22 a 24 de novembro

Brasil Motorcycle Show, salão premium de motociclismo que acontece dias 22, 23 e 24 de novembro no Expo Renault Barigui, já é o assunto mais comentado nas rodas de motociclistas na cidade. Depois de apresentar alguns patrocinadores e parceiros, a notícia da vez sobre o megaevento é uma bela homenagem que será concedida no local a um grande ícone na história do motociclismo.

Nivanor Bernardi foi um dos pais do motocross no Brasil

Nivanor Bernardi foi um dos pais do motocross no Brasil

Falamos do saudoso piloto Nivanor Bernardi, conhecido como “Touro do Paraná”. A paixão de Bernardi por moto começou desde cedo, aos 11 anos, e ainda menino já era um exímio admirador do veículo de duas rodas. Na década de 70, quando o motocross ainda era desconhecido no país, o piloto já mostrava a que veio, e cada vez mais se superava nas competições. Entre todos os anos que competiu, o Touro do Paraná ganhou inúmeros títulos paulistas e nacionais, teve grandes participações e importantes colocações em competições internacionais. Isso mesmo, no exterior Bernardi tinha outro apelido, ficou  conhecido como “El Tigre” após ganhar de forma incrível a prova “Motocross de las Américas”, no Uruguai.

Com 37 anos Bernardi parou de competir, pois o Motocross estava se alterando, se transformando em Supercross. Seu peso não contribuía para provas de salto e a idade também não o ajudava mais. Mesmo assim seria impossível sair do mundo do motociclismo. Muito ativo, o ex-piloto começou a chefiar equipes e logo após montou uma concessionária Yamaha em Curitiba.

De herança deixou uma carreira de 16 anos, com nove campeonatos brasileiros, quatro paulistas, um latino-americano, três Campeonatos das Américas, uma 24 horas de Interlagos, e o bicampeonato do Hollywood Motocross. Entre centenas de troféus conquistados, destaque para o Capacete de Samurai que o piloto ganhou ao ser recebido pelo Príncipe Ayquito, Imperador do Japão. Prova de que Bernardi merece ser lembrado e homenageado sempre.

Fonte: Loja de Notícias – Imagem de divulgação

Mário Sérgio Figueredo
Motociclista apaixonado por motos há 42 anos, começou a escrever sobre motos como hobby em um blog para tentar transmitir à nova geração a experiência acumulada durante esses tantos anos. Sua primeira moto foi a primeira fabricada no Brasil, a Yamaha RD 50.