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Quem viaja de moto sabe: talvez não haja prazer igual na vida! E para ter esta experiência, muitas vezes, basta rodar curtas distâncias em um bate-volta. Este é o caso de uma viagem de moto para o Viaduto 13, ou V13, situado no interior do Rio Grande do Sul, em uma cidadezinha de 1,9 mil habitantes chamada Vespasiano Corrêa, distante 175 quilômetros de Porto Alegre.

No roteiro, há belas subidas por serras rodeadas de belezas naturais, curvas em declive ao lado de videiras e bons trechos de terra. Na chegada uma vista estonteante sobre o viaduto ferroviário mais alto das Américas aguarda os viajantes, que encontram belezas em cada trecho do caminho. São, ao todo, 143 metros de altura e 509 de extensão.

O imponente Viaduto 13, em Vespasiano Corrêa, é o destino escolhido para nossa viagem de moto

O imponente Viaduto 13, em Vespasiano Corrêa, é o destino escolhido para nossa viagem de moto

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Depois do início poético, vamos à viagem. Esta foi uma daquelas que demoram para sair, pois todos temos agendas cada vez mais lotadas e sempre há aqueles que desistem na última hora – ou ao ver no mapa a distância a ser percorrida. Depois de muitas semanas – ou alguns meses – programando, quem acabou acordando às 6h de um domingo de dezembro para encarar o passeio foram os amigos Vinícius e o casal Andrews e Paola, além, claro, de mim e minha digníssima companheira, Bruna Lenize. Preparamos nossas motocas (CG 125 ‘Porquinho’ 1982, XRE 300 e CBX 200 Strada, respectivamente) e saímos do Vale do Paranhana em direção ao Viaduto 13, prontos para percorrer algo na casa de 440 quilômetros, contando ida e volta.

Até mesmo de imagens de satélite é possível ter uma noção da grandiosidade do V13. Imagens: Google

Até mesmo de imagens de satélite é possível ter uma noção da grandiosidade do V13. Imagens: Google

Viagem de moto ao Viaduto 13

Decidimos ir por uma rota e voltar por outra, optando pela mais prazerosa para ir pela mais rápida para o retorno. Assim, começamos nossa viagem pela ERS-239 até Novo Hamburgo, sendo a rodovia neste trecho um verdadeiro tapete cinza, duplicada e com canteiro central entre as pistas. Ali pegamos a ERS-122 (igualmente bem conservada) e seguimos até Bento Gonçalves, onde já é preciso rodar pelas ERS 446 e 470, tudo com asfalto lisinho. O caminho até esta cidade é morro acima e muito belo, passando por diversos vales e vinícolas, e a região também conta com inúmeros pontos turísticos que, com certeza, valem um registro aqui em uma futura ocasião.

As companheiras de viagem repousando na sobra durante a parada para almoço

As companheiras de viagem repousando na sobra durante a parada para almoço

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Vespasiano Corrêa é uma cidadezinha com menos de 2 mil habitantes, e como todo pequeno município que se preze, tem uma bela igreja

Vespasiano Corrêa é uma cidadezinha com menos de 2 mil habitantes, e como todo pequeno município que se preze, tem uma bela igreja

De Bento Gonçalves em direção a Vespasiano, um grande barato. Segue-se pela ERS-431 até o entroncamento com a 129, rodando uns 40 quilômetros na via. É um trecho abençoado. Oras se está admirando a paisagem enquanto pilota ao lado do Rio das Antas (nota: o nome é feio, mas o lugar é bonito), enquanto noutros momentos atravessamos sobre trilhos de trem. Com sorte, podemos rodar com o belo rio à nossa direita e os trens cruzando à esquerda da rodovia. Em outro ponto da pista, há um extenso declive que proporciona uma série de curvas, alternando entre abertas e fechadas, para a direita e esquerda, enquanto podemos nos maravilhar com belas vistas de vales repletos de videiras. Também há alguns curtos trechos de estrada de terra. É um belo pedaço para encher os olhos!

Da área central de Vespasiano Corrêa até o Viaduto 13 são cerca de 10 quilômetros de terra, e aí vem “O barato parte II”. A estrada é totalmente inabitada, rodeada apenas por vastas plantações e galpões para animais (incluindo chiqueiros, afinal em viagens de terra nem tudo são flores), e muito verde. Na totalidade do trecho, a estrada é de terra revestida com camadas de pedregulhos, cascalho, desníveis e doses de aclives relativamente íngremes. Nada que você precise de uma trail para suportar (mas se tiver uma na garagem, use-a), apenas um toque de aventura à viagem. Cabe lembrar, também, que todos os cruzamentos são bem sinalizados, afinal o Viaduto 13 é o principal ponto turístico da cidade.

A estrada acaba levando até os pés do V13 (ou suas enormes sapatas de concreto, no caso), onde também há um riacho disponível para banho. O local conta com uma pequena estrutura com banheiros e bar. Dali uma estradinha de terra leva até a parte superior da edificação, no local onde passam os trilhos e também onde é possível apreciar a linda paisagem natural até onde a vista alcança. Há, claro, rotineiramente, muitos turistas no local.

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Para voltar, seguimos 14 quilômetros por outra estrada de chão (em ótimas condições e sem sobe e desce) até o centro de Muçum, cidade vizinha de Vespasiano. Dali seguimos pelas ERS 129 e 130 até Lajeado, onde pegamos a 386 até Montenegro, já bem perto de Novo Hamburgo. Apesar de ser quase a mesma distância, é praticamente um caminho expresso, dando a sensação de chegar muito mais rápido ao destino, sem serras, paisagens ou ‘baratos’.

Curiosidades do passeio de moto

1 – Nada como umas peculiaridades para ‘incrementar’ a viagem de moto ao Viaduto 13. Ao chegarmos no centro de Vespesiano Corrêa fomos informados de que há apenas um restaurante na cidade, e que ele não abre em domingos! É, leve frutas na mochila.

Vista geral do centro de Vespasiano Corrêa, cidade que abriga o famoso Viaduto 13

Vista geral do centro de Vespasiano Corrêa, cidade que abriga o famoso Viaduto 13

2 – Ainda no aspecto gastronômico da viagem, há algumas opções de onde comer já bem próximo ao V13. Comemos em um local bastante simples, que serve lanches e almoços, mas com bom custo x benefício e atendimento familiar. Não recordo o nome do estabelecimento, mas é o primeiro a ser avistado na estrada que chega ao Viaduto, e fica na margem esquerda da via. Também há outro um pouco adiante, bem abaixo da edificação onde, curiosamente, havia uma dupla sertaneja tocando modas de viola e clássicos sertanejos – das coisas que só o interior proporciona.

3 – Aos pés do Viaduto, há um pequeno espaço onde são vendidas bebidas. O interessante é que também há acesso à internet ali, através de uma rede wi-fi, onde é possível fazer um check-in ou postar suas fotos da viagem em redes sociais. Talvez seja bom para simplesmente avisar à família que você chegou bem, pois não há rede de celular na região.

Um pequeno terraço no ponto central do Viaduto 13, onde você pode se abrigar se o trem passar

Um pequeno terraço no ponto central do Viaduto 13, onde você pode se abrigar se o trem passar

4 – Vespasiano Corrêa e Muçum não são os únicos nomes, digamos, curiosos, da região. Ao redor, outros municípios foram batizados de Doutor Ricardo, Vinte e Oito de Setembro, Relvado e Anta Gorda, por exemplo.

5 – O trem pode passar pelo viaduto enquanto você estiver nele. É, pode mesmo, mas as chances são pequenas, afinal passam apenas trens de carga no local e, geralmente, os turistas visitam o atrativo em finais de semana. Se isso acontecer, você pode correr para os vários recuos laterais presentes no viaduto, onde é possível se abrigar para não ser arrastado pelo veículo sobre trilhos.

A história do V13

Hoje, leva-se menos de quatro horas para ir de Passo Fundo a Porto Alegre trafegando pelas rodovias gaúchas, porém há quase 100 anos era necessário bem mais tempo para ir de uma cidade a outra, principalmente se fosse preciso transportar toneladas de determinado produto. Foi para reduzir o tempo de viagem de 36 para 12 horas que fora concebida a malha ferroviária hoje existente, incluindo a Ferrovia do Trigo, idealizada por volta de 1910 e construída ao longo dos anos 1970.

O monumental Viaduto 13, também chamado de Viaduto do Exército, é a maior obra da EF-491. Para ganhar vida, foram empregadas 1500 toneladas de aço e 120 mil sacos de cimento, e seus pilares, enterrados 21 metros dentro do solo e cada um com quatro paredes de 80 centímetros de espessura, foram testados, em tamanho reduzido, em túneis de vento.

O V13 foi construído durante os Governos Militares pelo 1º Batalhão Ferroviário do Exército Brasileiro e na época fora considerado o segundo maior viaduto ferroviário do mundo, hoje se mantendo na terceira colocação e ainda como o mais alto das Américas. Sua inauguração aconteceu no dia 19 de agosto de 1978, contando com a presença do então presidente da República, o general gaúcho Ernesto Geisel, na cidade de Guaporé.

A Ferrovia do Trigo liga os municípios de Rocasalles e Passo Fundo e foi projetada para o escoamento das grandes safras de soja e trigo, produzidas nas regiões norte e nordeste do Rio Grande do Sul, em direção ao mar. Ao todo, são 158 km de extensão, 22 viadutos, 33 tuneis e 26 pontes.

Fotos: Augusto de Souza, Lenize Reis, Andrews Souza e Paola Graci

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Fotos: Augusto de Souza, Lenize Reis, Andrews Souza e Paola Graci

Guilherme Augusto
@guilhermeaugusto.rp>> Jornalista e formado em Relações Públicas pela Universidade Feevale. Amante de motos em todas suas formas e sons. Estabanado por natureza