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Fonte: http://www.heise.de/tr/artikel/mail/78030

No artigo passado sobre o mesmo assunto, Adeus Filamento, aprendemos como surgiu o led e seus princípios básicos de funcionamento. Mas as luzinhas mequetrefes lá da década de setenta não chegam nem perto dos potentes led´s atuais.

Foi em 1993 que Nakamura embasbacou a comunidade científica mostrando o primeiro led azul. Ele não estava abrigado dentro de uma grande universidade nem tampouco trabalhava para uma grande multinacional. Aliás, nem PhD possuía. Mas a teimosia falou mais alto. Utilizando o Nitreto de Gálio (GaN), ele conseguiu o que parecia impossível, um aproveitamento enorme da eletricidade para gerar luz. Atualmente é chamado de sucessor de Thomas Edison.

Depois da invenção de Nakamura, já laureado pelo Millenium Technology Prize, prêmio disputadíssimo do governo finlandês, no valor de 1 milhão de euros, o desenvolvimento tecnológico dos leds a partir de 1993 não parou mais. Um mundo mais limpo, onde lâmpadas consomem menos e DVD´s com capacidade de até 30Gb (blu-ray) que serão o padrão daqui por diante, justificam a fama dessa interessante figura.

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Mas algumas fronteiras ainda pareciam intransponíveis e uma delas era utilizar o led para iluminação de alta performance, iluminação pública e principalmente faróis veiculares. Só recentemente a montadora alemã Audi mostrou ao público seu novo modelo, que dentre tantas traquitanas, possui faróis montados com leds. A imprensa especializada assinalou que o farol ilumina pra valer, mesmo no escuro. Ainda não vi um de perto para ter certeza. Fonte: http://www.ledsmagazine.com/news/3/10/23/AudiR82

Mas 15 dias antes da tal apresentação eu consegui proeza semelhante aqui na garagem de casa, o primeiro par de faróis de milha totalmente construído com leds. Não fiz coquetel de lançamento nem convidei um monte de jornalistas, se é que vocês me entendem.

No meu primeiro protótipo, instalado na minha própria moto, (ver artigo anterior sobre o assunto) eu consegui chegar quase lá, ultrapassando os piores faróis do mercado, mas ficando aquém de um farol responsável. Tinha certeza de que, se encontrasse a pessoa certa, que topasse a loucura, eu conseguiria fazer um farol de verdade. Certo dia, conversando com o Nelson, amigo meu também motociclista, disse ele que topava a idéia e cedia sua Shadow 750 como laboratório e bancada de testes. Amigo é pra essas coisas. E certamente o Nelson foi o primeiro (até onde sei) motociclista no mundo que viajou com sua moto e iluminou o seu caminho exclusivamente com leds! Claro que conheço esses faróis “day-light” que são vendidos por aí e que parecem um farol. Mas esse não é o caso, a idéia é um farol que substitua definitivamente o filamento mesmo no breu de uma estrada vicinal em dia de chuva. Primeiros testes ainda na bancada

Simples externamente…

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uma confusão eletrônica nos bastidores

O clímax antes do primeiro teste

Testes, confusões, problemas e fios.

Tudo sem esquecer a elegância dos comandos.

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Finalmente no seu lugar definitivo.

Mas ainda tem muito chão pela frente para se pesquisar.

É evidente que é um protótipo ainda em desenvolvimento, em breve vou debulhar tudo o que eu fiz para a primeira checagem e para sanar alguns pepinos. Utilizei para tanto 14 leds (7 para cada farol) de alta potência e lentes de foco fechado. O pior é que o “cliente” ainda queria que o led central funcionasse como estrobo. E tudo isso enfiado numa custom que não tem espaço sequer para um mísero alarme! Onde esconder a caixa com o circuito do estrobo? Foi um pega pra capar!

Mas os problemas são inúmeros e nem tudo são flores nessas maluquices. O primeiro problema é exclusivamente de design, como utilizar uma carcaça de farol comum para abrigar 7 leds? Optei por uma aparência de tambor de revólver. Mas isso foi a parte fácil…

A grande treta desses leds de alta potência é o aquecimento. A luz não aquece, mas o traseiro do led pode fritar um ovo. Ou seja, haja dissipação!

Outro problema foi transformar aquela zona que vem da bateria em uma tensão regulada. Até aí resolvi bem, porém ainda falta regular a corrente, pois no estágio em que está o projeto, a luz oscila de acordo com o batidão do motor em V. Seria enfadonho eu começar a desfiar o rosário de todas as dificuldades que encontrei e ainda encontro para fazer essa coisa toda funcionar. Mas devagar vou resolvendo os problemas. Testes, confusões, problemas e fios. Tudo sem esquecer a elegância dos comandos

A parte mecânica também foi complicada. Precisei cortar os suportes com laser, tudo projetado com antecedência no computador e construído com alumínio. Mas valeu à pena, vejam os resultados: O farol de milha convencional, com lâmpada de filamento de 55W, produz 830 lux, medido com luxímetro a distância de 2,5m. O farol com leds produz 810lux. O par de faróis com filamento é bem guloso, consome 110W, o farol com leds não chega a 15W.

Há um detalhe interessante que merece nossa atenção. À primeira vista a luz branca (não aquele azulão do xenon!) pode causar estranhamento. É que estamos acostumados a pintar as coisas de amarelo com os nossos faróis convencionais. Se iluminarmos um objeto com um farol comum, mudamos a cor do objeto iluminado. Agora quando utilizamos uma luz que se aproxima da temperatura de cor da luz do dia, apenas iluminamos, mas não pintamos tudo de amarelo (ou azul no caso de alguns xenon). Quando testei pela primeira vez no escurão de um aeroporto, iluminei uma caixa de força que estava distante uns 30 ou 40 metros. Achei que estava fraco, porém quando eu apaguei os leds, não vi mais nada. Aí sim eu notei uma diferença enorme!

A boa notícia é que faróis como esse serão comercializados em breve, talvez no início do próximo ano, sem os estrobos, pois isso é “meio irregular”, ora pois! A notícia mais chata fica por conta do preço dessas eventuais belezinhas, que ultrapassarão folgado o preço dos milhas atuais.

Mas para quem está com pressa e quer tunar a motoca com leds, felizmente já há no mercado lanternas traseiras com piscas integrados bem interessantes, e que não são exclusividade dos proprietários de canhões! Há modelos para Titan, YBR, Twister, Falcon, enfim, moto de gente normal, meros mortais da classe média! Ler o Motonline é estar um passo adiante no futuro. Podem começar a registrar as mudanças no quesito iluminação em motos nos próximos anos. Algumas montadoras precisam repensar paradigmas, inclusive dos ultrapassados sistemas elétricos (coisa que a BMW já se adiantou com seu sistema CAN-Bus) que em muitos casos são verdadeiras trolhas que só servem para desperdiçar energia e gastar metros e metros de fios. Sem contar que atualmente é fundamental sobrar uns bons volts para o computador que tudo controla. E economizando de um lado, sobra de outro, fator importante quando pensamos que no futuro motocicletas elétricas serão normais nos grandes centros. Vale anotar aqui o absurdo que algumas montadoras constroem e que, na falta de palavra melhor (ou pior), costumam classificar de motocicleta. Não bastasse o preço assustador, venda uma 125 aqui e compre uma 400 na Europa, a ineficiência dessas máquinas acabam engrossando as estatísticas de criaturas que já lamberam o asfalto.

Além do paleolítico freio à tambor que muitos precisam engolir pois não tem algumas centenas de reais a mais para “inteirar” o luxuoso opcional, as montadoras insistem em fabricar motos com faróis deficientes, usando as lâmpadas de 35/35w. Ora, entendo que a Audi está léguas adiantada em termos técnicos (a comparação com a garagem de casa foi mero cinismo), portanto não podemos cobrar que as pequenas motocas venham com uma tecnologia que acabou de ser parida.

Mas já poderiam ter adotado tranquilamente o led no restante da moto, e numa conta de cabeça rápida, seria fácil sobrar uns 15w, sem contar o freio e as setas acionadas, só levando em consideração a lanterna e o painel. E a potência de sobra seria aproveitada em uma lâmpada mais eficiente. Em um país onde a iluminação das vias públicas é uma esculhambação, um farol mais luminoso cai muito bem. E os leds traseiros poderiam ser vantajosos para o público das médias e pequenas que, por enquanto, só possuem uma lâmpada na traseira. Se essa pobre coitada pifar, lá se vai o motociclista apagado. E eu já vi vários acidentes graves em conseqüência de falhas como essa. E claro, ao perceber a lâmpada queimada, o indigitado muquirana resolve que a lâmpada da marca Xengh Xanhxi será tão duradoura e eficiente quanto a original de fábrica. E assim o remendo fica pior que o rasgo.

Já os leds demoram muito mais tempo para queimar, economizam energia e consequentemente são mais seguros. Oras bolas, observem os sumo-sacerdotes das leis e da ordem “nêifte paíff” que, entre uma embromação e outra esculacham o cara que comprou um capacete alemão certificado DOT só porque casco de 1000 euros não tem uma porcaria de selinho e com a maior cara de pau permitem que se comercialize todo tipo de lixo como peça de reposição!

Eu sempre penso primeiro em minha integridade e segurança, depois me preocupo com as leis. Se as duas coisas coincidirem, muito bem. Caso contrário, prefiro ficar inteiro e seguir desobedecendo, no melhor estilo de Henry David Thoreau. Deixo aqui meus agradecimentos ao Nelson Filho, por acreditar na idéia, no Espingarda, que cedeu sua expertise em mecânica para que a coisa toda funcionasse e ao pessoal da Leds Light, que abraçou essas e outras idéias. Fico por aqui, um abraço iluminado a todos.

http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,160489