Publicidade

Uma viagem ao mundo dos desenhos animados que se moviam em duas rodas

Muito já foi dito sobre o papel das motos no cinema, TV e quadrinhos. Mas, até hoje, os desenhos animados que tem a moto como tema principal (ou como coadjuvante) nunca foram mencionados. Pra corrigir essa tremenda falha, eu trago a vocês 5 exemplos do quanto a moto é significativa no mundo dos desenhos. Boa leitura e boas recordações!

DEVLIN, O MOTOQUEIRO (1974)

Nos anos 70 a Hanna-Barbera (“mãe” do Scooby-Doo) lançou essa série que contava as aventuras de Ernie Devlin, um motociclista que ganhava o pão de cada dia com suas acrobacias e saltos mirabolantes num circo. Junto com os irmãos Tod e Sandy, Ernie tocava seu barco da melhor maneira possível, passando por cima das dificuldades do dia-a-dia sempre com garra, persistência e união. E sempre com sua moto, um modelo levemente semelhante as Honda CB daquela época.

Publicidade

COMENTÁRIO: Foi por causa dessa série que eu passei a gostar de motos. Era um desenho com uma temática mais séria, rompendo inclusive com o padrão vigente da Hanna-Barbera na época, que primava por desenhos de aventura ou humor. Os Devlin eram órfãos de pai e mãe (a morte do pai, num acidente de moto, foi mostrada num dos episódios) e Ernie, por ser o mais velho, era o “chefe da casa”. Entre brigas familiares, problemas do circo e mesmo uma queda numa das apresentações (o que rendeu o melhor e mais emocionante episódio da série), Devlin se tornou o herói animado daquele tempo para muitos garotos – inclusive eu.

CURIOSIDADE: Ernie Devlin teve como inspiração o saudoso Evel Knievel. Nada mais justo, visto que na época Knievel era o rei das “loucuras” com moto.

CARANGOS E MOTOCAS (1974)

“Eu te disse, eu te disse! Mas eu te disse, eu te disse!”. Essa frase certamente vive na memória de todos que acompanhavam as confusões e aventuras de Wheelie, o fusquinha vermelho protagonista de “Carangos e Motocas”, uma das muitas séries animadas que impulsionou a fama da Hanna-Barbera nos anos 70. Mas quem roubava mesmo a cena não era Wheelie, e sim a turma do Chapa. No melhor estilo “somos uma gangue de motoqueiros maus, porém somos burros pra dedéu”, Chapa e sua turma de motos – Risada (a moto do gorro azul), Avesso (o triciclo que sempre se confundia em suas frases – ex.: “ele é o famoso barro com lombriga… quer dizer, o famoso carro de corrida”) e Confuso (a motoquinha laranja, muito semelhante ao Honda Ruckus) armava as maiores encrencas para Wheelie e sua namorada Rotta. No fim tudo dava errado e a turma do Chapa, quando não amargava uma coleção de machucados, ia pra cadeia por cortesia da moto patrulheira Rabo-de-Peixe. Independente da situação, o episódio sempre acabava com a frase clássica do Confuso: “Eu te disse, eu te disse…” e Chapa, de saco e carburador cheios, respondia: “Ah, feche essa buzina… skatapah-pah!”.

Publicidade

COMENTÁRIO: A forma de Wheelie se comunicar – com toques de buzina – pode ser entendida como uma homenagem a Herbie, de Walt Disney, que se comunicava da mesma maneira.

CURIOSIDADE: Muitos anos depois a série entrou na grade do Boomerang, mas totalmente redublada. Entre as diversas aberrações, a mais notada (e lamentada) foi a mudança do nome do Chapa para… MOTOCÃO. Dai-me forças, Senhor!

M.A.S.K (1985)

No meio dos anos 80 o SBT comprou um pacote de novos desenhos para bater de frente com a programação infantil da Globo. No “bolo”, veio um desenho onde uma equipe de agentes usando máscaras com poderes especiais e veículos capazes de se transformar em barcos, tanques e aviões combatia uma organização criminosa com máscaras e veículos semelhantes. O desenho? M.A.S.K., um dos carros-chefes do canal na época. E dê-lhe moto! Os “mocinhos” contavam com Brad Turner e sua Condor, um modelo que lembrava as esportivas da época e se transformava num helicóptero, com direito a patins de aterragem nas laterais e um canhão de raio anti-matéria embutido no farol. Na última temporada da série a temática mudou para disputas em corridas ao redor do mundo entre heróis e vilões da série. Nesta mudança a Condor deu lugar a um stock car e o posto de motociclista foi ocupado por Ali Bombay e sua Bullet. O design da Bullet era interessante por dois motivos: era feia como moto e mais feia ainda como hovercraft de ataque… Os “bad boys”levavam vantagem em termos numéricos. Sly Rax atacava com a Piranha, cujo side car virava um mini-submarino e Floyd Malloy dava as caras com a Vampira, que se transformava num jato de combate. Na última temporada da série juntou-se a trupe do mal Lester Sludge com um quadriciclo chamado Iguana, equipado com serras e canhões.

Publicidade

COMENTÁRIO: Animação com padrão de qualidade variável, roteiros muitas vezes frouxos e situações forçadas… mas mesmo assim era ótimo! Pra quem desejar ver, procure no Youtube o acervo de um usuário chamado Shadowboro.

CURIOSIDADE: Como a maioria dos desenhos nos anos 80, M.A.S.K foi criado apenas para ser alavanca de vendas para a linha de brinquedos do mesmo nome. O exemplo mais famoso dessa tendência é He-Man.

C.O.P.S. (1988)

No fim da década de 80, a Globo começou a exibir esse desenho, que contava as aventuras de uma unidade especial da polícia de Empire City na luta contra o crime, mais especificamente contra a gangue do chefão Big Boss. Cada um dos oficiais tinha uma especialidade, fosse em táticas, armas ou veículos. O motociclista da COPS era o oficial David Harlson, codinome Andarilho. Montado em sua Bluestreak, Andarilho patrulhava as ruas da cidade e caçava os bandidos em alta velocidade. Não tinha pra ninguém quando ele estava nas ruas. A perícia de Andarilho na moto só na era páreo para o tamanho de seu ego, além de ser inversamente proporcional ao seu talento na cozinha…

COMENTÁRIO: O interessante nesse desenho era o começo e o fim: todo episódio era a leitura de um caso arquivado. “Arquivo C.O.P.S nº. 123466, o caso do fulano de tal”… e, no fim, repetia tudo e dizia “Caso encerrado”. Destaque para o episódio “O mais baixo dos crimes”, que une polícia e bandidos na caça a um traficante de drogas.

CURIOSIDADE: O desenho foi simplesmente jogado na programação do domingo de manhã da Globo, sem qualquer aviso. Depois esteve nas infinitas encarnações do programa da Xuxa e, por fim, encerrou sua carreira na Sessão Aventura.

MENÇÃO HONROSA: AKIRA (1988)

A mais famosa e venerada animação de todos os tempos merece uma menção honrosa. “Akira” é o responsável pela onde anime que tomou conta do Ocidente no começo da década de 90. Independente de qualquer outro fator, a animação certamente é mais lembrada pela famosa “moto do Akira”. O modelo futurista, de cor vermelha e cheio de adesivos, era o veículo com o qual o protagonista Kaneda se deslocava pelas ruas de Neo Tokyo em 2019 junto com sua gangue (os Capsules). A luta de Kaneda contra o ex-amigo Tetsuo, que se revela uma ameaça depois de perder o controle sobre seus poderes psíquicos, tornou-se um dos maiores sucessos jamais vistos em termos de animação. Katsuhiro Otomo, o autor do mangá de 2182 páginas (!) que deu origem a animação, dirigiu e co-roteirizou esse que é um marco e uma referência no gênero. COMENTÁRIO: Quando se fala em “Akira” é quase impossível não se lembrar de imediato da famosa moto. Certamente é um dos modelos mais reproduzidos em todos os materiais e escalas conhecidos, inclusive com unidades plenamente funcionais.

CURIOSIDADE: O ronco do motor da moto é resultado da combinação de dois sons totalmente distintos: o ronco de motor de uma Harley-Davidson 1929 combinado ao som da uma turbina de jato.