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Restaurar motos raras é uma arte feita por poucos, mas vale a pena. Conheça o maior desses endereços e suas histórias.

José Peloso Filho na Royal 38

A Recar Motos é uma grande loja e oficina especializada em motocicletas antigas. Ela fica na Rua dos Gusmões, 777, no bairro dos Campos Elíseos, centro velho de São Paulo.

A loja, que mais parece uma imensa garagem, está próxima da “boca das motos”, emaranhado de ruas que é considerado o maior centro comercial de serviços, peças e acessórios para motos duas rodas da América Latina.

Esse ateliê de preciosidades também fica próximo da antológica “Esquina do Veneno”, apelido do cruzamento da Al. Barão de Limeira com Rua General Osório. O local era ponto de encontro dos motociclistas nas décadas de 50 e 60.

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A esquina histórica esquina reuniu lojas e oficinas famosas, como a de Latorre, a dos irmãos Carmona e a de Egard Soares (esta ainda está lá), além de ser palco de memoráveis histórias.  Registra-se também que a Yamaha Motor do Brasil nasceu neste pedaço.

Hoje, ainda é ponto de encontro e de comércio de duas rodas, só que bem mais variado, colorido e atual. Mas a Recar mantém viva a aura perdida.

Mas, voltando à Recar Motos, basta entrar ali para viajar no tempo. Algumas das vistosas e pesadas máquinas dos anos 20, 30 e 40, como as estadunidenses Harley-Davidson e Indian, as italianas Ducati, Moto Guzzi, Gilera, Benelli e Lambretta podem ser vistas ali, silenciosamente estacionadas, lado a lado.

As alemãs BMW e NSU e as inglesas Norton, Boneville, Royal Enfield, AJS e Triumph também podem ser vistas, conhecidas ou relembradas. E as quatro grandes japonesas dos anos 60 e 70, que revolucionaram o perfil das motocicletas, também estão todas presentes: muitas Honda, Yamaha, Suzuki e Kawasaki. Todas raríssimas.

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Suzuki Street Fighter

Seu dono, José Peloso Filho, o Zezé, de 52 anos, conta que a loja existe há 28 anos.
– Eu já mexia com isso desde os anos 70. A época era das reuniões domingueiras no pátio interno do Parque Ibirapuera, do Café Concerto, das reuniões na Avenida Brigadeiro Faria Lima e na Rua Augusta – lembra ele.

Hoje em dia há muitas outras lojas que lidam com esse ramo específico, diz Zezé. Segundo ele, basta dar uma navegada pela internet e o motociclista-internauta encontrará muita coisa interessante.

A Recar nasceu pelo amor quer Zezé tinha – e tem – pelas antigas. E cresceu.

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Atualmente, a Recar é a maior do ramo no País. Além de reformar motos antigas e deixá-las originais, o local presta serviços de restauração de peças, bancos, oferece oficina, lava – rápido, compra e vende motos raras.

– Temos aqui mais de 60 motocicletas em perfeito estado – conta o proprietário.

Basta entrar no ambiente da grande loja e oficina para ficar hipnotizado. Isso vale especialmente para quem é apaixonado por motocicletas há 40 ou 50 anos. Aquilo ali é uma maravilha!

Ao lado de pequenas cinquentinha e ciclomotores, está estacionado grande, como a s da família CB 750 da Honda, as Suzuki GT com motor a dois tempos e três cilindros, Nortons, Harley-Davidsons, e muitas mini-motos, mini enduros, trail, fazendeiras e scooters de todos os tamanhos, tipos, cilindradas e anos imagináveis.

Há motocicletas raríssimas, como um exemplar de Harley-Davidson 1929 ou a NSU ano 1938. Há também as Honda nacionais CG 125 dos anos 70 e algumas Yamahas RD 50 e 75. E, claro, as viúvas-negras da Yamaha, RD 350.

Valores? Zezé explica que, para não haver especulação, ele prefere revelar os preços de cada exemplar pessoalmente a cada interessado.
– Cada preço é formado de acordo com o estado de conservação e originalidade da motocicleta. Uma Honda CB 750 Four pode variar entre R$ 10 e R$ 35 mil – diz.Segundo ele, na originalidade entram em conta desde o estado do banco até os piscas.

Outros colecionadores e restauradores consultados pela reportagem, que preferiram ou pe3diram para não ser identificados, afirmaram que já chegam a pagar R$ 200 por motos encostadas no fundo de celeiros, cobertas e penas de galinhas. Alguns esqueletos de motos que depois de restauradas pacientemente são revendidas por mais de R$ 20 mil – o que não é improvável.

Claro que além do aspecto da originalidade e do estado de conservação – o que inclui o  perfeito funcionamento do motor – cada moto e seu novo dono saem da Recar  impulsionados por uma boa dose de sentimentalismo.

– Não faltam histórias cercando cada uma dessas motocicletas – conta Zezé.

Ele cita uma delas: um comprador do Norte do país, de Manaus, no Amazonas, estava com seu casamento indo de mal a pior. Viajou até São Paulo, entrou na loja e comprou uma Honda CB 750 Four, dos anos 70. Depois, foi buscar a mulher.

– Ele viajou com ambas – com a esposa e a Honda CB 750, a “sete-galo” – algumas vezes até o Guarujá nuns finais de semana.

Graças à moto, o casal reviveu os bons momentos que passou nos anos 70, quando ainda namoravam – conta Zezé. Resultado: o amor renasceu, assim como o casamento, que estava estremecido.

Há muitas outras histórias contadas ali, entre guidões e tanques reluzentes. Como, por exemplo, a da “invasão” de colecionadores alemães, que levaram inúmeras Harley-Davidson para a Alemanha e países europeus no início dos anos 80.

BMW Café Racer

As histórias atuais e mais comuns dizem respeito a respeitáveis executivos, que entram na loja discretamente e compram motocicletas que sonhavam ter quando eram adolescentes – mas não tiveram porque na época eram uns “duros”!

– Hoje, bem situados na vida, esses senhores matam a saudade. Levam embora essas preciosidades – conta o restaurador.

Segundo ele, muitos desses saudosistas levam as motocicletas apenas para estacionarem nas garagens. Tudo isso faz parte da exclusiva arte de reparação de motocicletas antigas. Elas já se foram, mas sem dúvida deixaram rastros.

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