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Um vendedor de sapatos chegou a uma pequena cidade e voltou desapontado, explicando ao padrão que naquela cidade ninguém usava sapatos. O patrão mandou outro vendedor até a cidade, e este ligou todo animado: Mande mais um carregamento, aqui ninguém usa sapatos!

Essa história é famosa, mas é de autor desconhecido. Ela ilustra um problema de visão tão sério em marketing que é alvo de estudos até hoje nas matérias de planejamento estratégico. Se o produto não existe no mercado, como saber se o mercado o quer ou não o quer? Aqui no Brasil nós temos uma categoria de produtos que não existe, ou melhor dizendo, nós não temos tal categoria de produtos. São as motos Mid-Trails (versão menor das Big-Trails), tais como a Transalp, a nova Teneré, a V-Strom 650 e a recém lançada BMW GS800, pra citar apenas algumas. Por que não temos? Porque ninguém compra, é o que os fabricantes vão dizer… A V-STROM 650 é idêntica ao modelo 1000cc, compartilham o mesmo quadro e a maioria das peças. Por isso ela é tão pesada…

O Brasil é grande e é conhecido por suas estradas mal cuidadas, cheia de buracos e obstáculos e por isso mesmo acho incrível constatar o sucesso que as motos Custom têm nesse país apesar da grande reclamação quanto às suspensões dessas motos, especialmente a traseira. É o estilo que cativa? Ou é a faixa de potência seu maior atrativo? Não sei, afinal quase não existem motos estradeiras na faixa de 600cc a 800cc que não sejam as Customs. Não estou falando das esportivas e nem das naked (sem proteção aerodinâmica), só me lembro agora da Bandit 650S e da Fazer 600 carenada, e só. Em compensação temos Drag Star, Shadow, Boulevard, Harley Sportster nessa mesma faixa de potência e com preços muitas vezes mais atraentes. E vendem muito!

Muitos consideram o estilo da saudosa Teneré de dois faróis, finada em 1993, ou o da Super Teneré vendida até 1998, como o estilo mais indicado para o Brasil. São motos eficientes, rápidas, boas de estrada por causa da proteção aerodinâmica, boas de buraco ou quebra molas, e se for necessário pegar um trecho de terra não vão deixar ninguém na mão. Mas já faz 10 anos que essas motos acabaram, apesar do grande sucesso na época, e nunca mais vimos nada desse estilo por aqui. Eu tenho uma XT600E e sinceramente gosto mais dela do que da nova XT660R (e digo isso sem nenhuma inveja), mas na estrada não dá, a falta de proteção aerodinâmica e a vibração realmente incomodam. A Yamaha lançou a MT-03 com o motor da 660R buscando um público mais esportivo, que gosta de motos naked, mas o fato é que um cilindro só é pouco para andar na estrada por horas a fio. É da natureza desse motor vibrar, e essas vibrações incomodam mesmo.

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BMW 800 GS

A BMW lançou recentemente a F800 GS, uma irmã menor da famosa 1200GS mas usando a mecânica da série F800, de dois cilindros lado a lado. Uma 800cc com esse estilo não existe por aqui desde a também saudosa Suzuki DR800 (aliás, o “bico de pato” é bem parecido, não acham?), mas esta tinha um cilindro só e vibrava pacas. Essa BMW tem características para ser um sucesso por aqui, mas há dois problemas: ainda não está nas concessionárias (é apenas uma promessa) e o preço certamente será muito mais alto do que o razoável, haja vista que o modelo de 650cc com as mesmas características foi lançado no Brasil a 43 mil reais e já que a 1200GS pode ser encontrada um pouco acima dos 60 mil reais, tudo me leva a crer que a 800GS deva ficar um pouco acima dos 50 mil… Transalp 700 da Honda

E quanto a Transalp 700 da Honda? Beleza é questão de gosto, mas eu acho linda. É menor e mais leve que a Varadero e tem tudo para liderar o segmento se o preço for convidativo. Levando em conta os preços no mercado espanhol, que comercializam tanto a Varadero quanto a Transalp, e fazendo uma comparação com o preço da Varadero no Brasil, é de se estimar a Transalp por aqui na faixa de 34 mil reais. Não é barato, mas é bem mais em conta que a BMW. Quer uma?

A Honda tem uma estratégia estranha. Lançou aqui a imensa VTX1800 e a Shadow 750 para atender a linha custom, mas na minha opinião errou o alvo. A VTX 1800 encalhou, tanto é que recentemente uma concessionária me ofereceu um modelo 2006 ainda zero km (são os modelos que ainda existem a venda) com um desconto meio fajuto, como se fosse uma grande promoção (só louco pra pagar 63 mil reais – 40 mil dólares – em uma moto 2006 encalhada). A Shadow desagradou pelas linhas dos pára-lamas, e perdeu feio para a Drag Star na preferência do consumidor. Uma pena, porque há um outro modelo de Shadow a venda no EUA, a Shadow Sabre, que segue a linha da VTX 1800 com visual mais parecido com uma Harley Fat Boy, que teria agradado mais do que o nosso modelo, vendido lá como Shadow Aero. Ou mesmo a Shadow Spirit, mais parecida com a nossa Drag Star e seu pneu dianteiro mais fino. Porque não se testou o mercado colocando mais de uma opção a venda? Não apostou, ficou pra trás. E o fato de não trazer a Transalp pra cá é apenas mais uma das curiosas decisões de marketing da empresa.

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A Yamaha tem uma nova Teneré pra vender lá fora, alguns a acham linda, outros acham horrorosa, e eu só tenho uma ressalva: só tem um cilindro! Mas para muitos, se o preço compensar, tem tudo para ser um sucesso comercial, talvez até maior do que a atual XT660R. Falta trazer o produto e ver a reação do consumidor. O crédito está barato, nunca se vendeu tanta moto como agora, mas ainda assim não é suficiente para os fabricantes se envolverem na venda de um modelo novo, mesmo que seja basicamente uma roupagem nova sobre um modelo já existente. E porque não trouxeram a versão Motard? Custava ter duas opções de dianteira para mesma moto?

Sobra a Suzuki com a V-STROM 650, uma moto que faz sucesso por apresentar um bom equilíbrio entre as motos dessa categoria, mas pra mim trás um grave defeito: é exatamente igual ao modelo 1000cc, inclusive com todos os inconvenientes (peso apenas 18kg menor, tamanho igual, etc) só que menos potente. Diferente da Transalp, que é um projeto bem diferente da Varadero e com isso consegue ser quase 60 kg mais leve. Mas no fundo, na falta de opções, tanto a V-Strom quando a Teneré podem dar muito certo no Brasil. A V-Strom poderia custar menos de 30 mil reais, se as proporções de preços praticadas nos EUA se mantiverem aqui (lá, ela custa o mesmo que uma Drag Star).

E aí, entre essas quatro belas máquinas, com qual você fica?

Não fica!!! Nenhuma delas está a venda no Brasil, ou você compra uma XT660R e se agarra nos manetes para não voar na estrada, ou vai pra uma pesada V-STROM 1000. Não há opção! Caramba! Somos o 4º maior produtor de motos do mundo, mas não temos opções em uma categoria tão popular no mundo afora!

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Fabricantes e Montadoras, vocês querem que eu explique a história do vendedor de sapatos novamente?

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