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Amigos, gosto de escrever colunas tendo um tema central como base, mas dessa vez vou abrir uma exceção e fazer algo mais aberto, mais “bate papo” mesmo. Nos últimos 30 dias vivi algumas experiências que merecem ser contadas aqui, pois nos ajudam a refletir. Uma delas foi a compra de um carro zero km, algo que não fazia desde 1989 (no século passado…), aliás, não tenho carro há quase 2 anos. Moro perto do metrô aqui no Rio de Janeiro, e em função do ritmo de trabalho quase não tenho tempo para viagens ou passeios, nos raros momentos que isso é possível eu uso a minha Harley. Só que minha mulher está precisando do carro, e muito provavelmente nos próximos meses nós vamos nos mudar para São Paulo, portanto a necessidade do carro se fez presente, então vamos às compras…

Mas o que me surpreendeu na compra do carro foi a tranqüilidade do processo inteiro. Quando comprei a Harley sofri como todos que fazem isso no Brasil: paguei a entrada adiantado pra receber a moto apenas 30 dias depois e só consegui emplacar depois de 60 dias, por cauda do tal do BIN que sempre demora. Paguei pelo menos duas prestações do financiamento “sem juros” (mentira, já mostrei aqui em outra coluna qual é o juros dessa promoção) que a concessionária ofereceu antes mesmo de emplacar a moto. Isso não é coisa que se faz com um cliente! Com a Yamaha, tanto com a Drag Star em 2005 quanto com a XTZ 125 da minha esposa, também foi um transtorno, essa última está detalhada na coluna Mulher e motos: casamento difícil!

Dessa vez, com um automóvel, a coisa foi completamente diferente e surpreendentemente tranqüila e profissional. Será que o mercado de automóveis está mais maduro que o de motos? Eu tenho certeza disso! É visível que, aos olhos das instituições participantes desse segmento, quem compra carro é boa gente, tem boa fé, é pai de família, etc, e quem compra moto, não importando muito qual modelo, é “muleque”, “trambiqueiro”, vai dar um cano no financiamento porque é safado, além de ser otário na visão dos lojistas, daí porque tudo é mais difícil, mais complicado, mais burocrático e cheio de informações escondidas. Quer fazer um teste? Tente comprar uma moto zero, fechar um financiamento justo sobre o preço à vista com desconto, fazer seguro com preços razoáveis e emplacar em 5 dias sem ter a sensação de que foi extorquido?

Uma moto solo, estilo Street Fighter, sempre foi meu sonho…

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Decidi comprar um Ford Focus 2.0 Sedan, já modelo 2008, pois apesar de ser um carro relativamente ultrapassado é sem dúvida o melhor custo benefício do mercado. O motor Duratec 2.0 16V com bloco de alumínio e 147 cavalos é o melhor da categoria, e as suspensões do carro são bem elogiadas (são boas mesmo, eu testei). O carro é grande, espaçoso, confortável e tem tudo que eu precisava incluindo dois airbags. Preço? Fechei por 49 mil redondos, com direito a tapete, protetor de carter e insulfilm. Os concorrentes similares estão todos na faixa de 60 mil reais…

Vejam a maravilha que é comprar um carro: o banco onde minha empresa tem conta já havia me oferecido um leasing com taxa de 1.18% ao mês para 24 meses, e para a concessionária a venda com leasing externo (não nos pacotes oferecidos nas concessionárias) é uma venda à vista, portanto tem desconto. Então dos 49 mil acertados paguei apenas 19 mil no ato direto à concessionária, depois paguei a TAC (500 reais) e o despachante (380 reais incluindo as taxas do Detran) em débito em conta com o banco que fez o leasing e simplesmente coloquei a gerente do banco pra falar com o vendedor da concessionária. Isso aconteceu em uma segunda feira à tarde, dia que iniciei também a cotação do seguro (cerca de 1800 reais, com franquia de 1100 reais, seguro novo, sem bônus…), na terça aprovei o seguro, na quarta fui informado que estava tudo certo para pegar o carro na quinta e na sexta emplaquei o veículo. Aborrecimento zero, atendimento exemplar do vendedor, da gerente do banco, do despachante, enfim, tudo certo. Só o Detran que é uma zona, que nos trata como débeis mentais desocupados dispostos a ficar horas na fila para licenciar um veículo, mas isso é outra história…

A primeira parcela do leasing (1.442 reais) só chegará ao final desse mês, e nós já fizemos um bom passeio com o carro, emplacado e segurado. Não há no mercado nenhuma moto que você consiga comprar e desenrolar em apenas uma semana, fazendo leasing e seguro simultaneamente com esses custos baixos. Triste, não é? Comprar moto é um sofrimento…

Entrando no palco de uma palestra de tecnologia com a Harley…

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Por outro lado, em meados de agosto tive uma experiência muito interessante com a minha Harley Electra Glide. Eu faço palestras regulares sobre tecnologia em várias capitais e em meados de agosto seria a vez de São Paulo. A anterior tinha sido Curitiba e naquela ocasião peguei um avião TAM no Rio de Janeiro no dia seguinte ao acidente em São Paulo, enfrentando o caos aéreo em sua plenitude. Embora tenha chegado ao aeroporto às 11 horas da manhã para embarcar no vôo das 13 horas, direto para Curitiba, só consegui chegar ao destino às 21:30 da noite depois de ter passado por Campinas (?), atrasadíssimo para a palestra. Não só o público ficou insatisfeito como a empresa que organiza a palestra foi duramente criticada. De quem é a culpa? De ninguém. Aqui no Brasil algumas coisas são erradas por que são mesmo e ponto final, ninguém é culpado. Relaxa e goza, companheiro!

Para evitar o mesmo problema em São Paulo, troquei as minhas passagens por diárias no hotel (ao invés de ficar apenas um dia, quarta feira, passei a semana inteira em São Paulo) e fui no início da semana de moto pela Dutra e Carvalho Pinto, feliz da vida. Viagem ótima, sem stress, tempo bom, mas não muito quente, enfim, uma viagem dos sonhos para todo motociclista, tanto na ida quanto na volta.

O público que esteve presente na palestra em São Paulo. Cerca de 500 pessoas.

No dia da palestra soube que o roteiro havia mudado. Tipicamente nesses Road Shows de tecnologia os fabricantes do setor que patrocinam o evento fazem suas palestras no início e eu faço o encerramento para em seguida um coquetel entreter os convidados. Evidente que a lembrança do encerramento é sempre maior do que a abertura, razão pela qual nas avaliações dos participantes a minha palestra sempre se sai bem. Dessa vez o espaço dos fabricantes foi movido para um show room na entrada, fora do palco, junto com o coquetel de boas vindas, e eu abriria a palestra para em seguida dar a vez para um show de humor da Cia da Comédia (que são ótimos). Pensei: “preciso fazer algo diferente para causar um impacto maior, senão minha palestra ficará perdida no meio de tantas coisas interessantes, e a avaliação não será tão boa quanto as anteriores”.

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Conversei com um dos organizadores sobre a possibilidade de entrar com a moto no palco (salão de convenções do World Trace Center, nas Nações Unidas), combinando com o pessoal do som e da iluminação uma seqüência de efeitos, e depois das devidas autorizações fomos em frente com a idéia. Incrível como o fato de ser uma Harley facilitou as coisas, sempre perguntavam “vai entrar com uma moto? Mas que moto é?” eu respondia “é uma Harley”, “aaahhh, vai ser show de bola!” e as portas iam se abrindo. No horário que decidimos trazer a moto estava acontecendo um outro evento no centro de convenções do hotel e para entrar com a moto seria necessário “atravessar” o outro evento, o que em tese não seria autorizado por causa do transtorno. “Mas é uma Harley” disse o organizador da minha palestra, então o outro respondeu “nesse caso, se você entrar com ela desligada podemos atravessar um corredor, ir pela cozinha até a área de vocês e de lá colocar atrás do palco”.

Nunca me interessei por motos solo até que vi essa Ducati nas ruas…

Na portaria a mesma coisa, o segurança tava cumprindo seu papel colocando objeções e alegando a falta de uma autorização por escrito até que ele viu a moto, com o som ligado e imediatamente deixou passar: “é pro show, né?” eu disse “sim” e ele “massa!”. No elevador de cargas um bombeiro que não tinha nada a ver com a história me acompanhou só pra perguntar da moto e me ajudar com as portas corrediças, chegando ao andar correto, um grupo não programado de funcionários da manutenção me ajudou em todas as manobras até passar pelo tal evento e entrar pela cozinha, tudo na boa vontade, sorriso estampado no rosto. Dentro da cozinha a turma gritava, batia palmas, um verdadeiro rebuliço enquanto a moto passava tocando em volume alto um jazz de Nina Simone, só pra turma se divertir e comentar. Me senti como uma dessas celebridades instantâneas!

Em menos de uma hora após ter decidido colocar a moto no palco, a dita cuja já estava lá e ensaiávamos as manobras, o áudio (a introdução de Satisfaction, na voz de Cássia Eller e Edson Cordeiro) e as luzes. Na hora da palestra, entrei acelerando a moto que o rondo tradicional fosse percebido pela platéia. Iniciei brincando justamente sobre o caos aéreo, e que era mais rápido e barato vir do Rio a SP de moto do que de avião. Foi um sucesso!

Certa vez em SP aproveitei para visitar a loja da Ducati e namorar a Monster…

Dois dias depois eu estava de volta à estrada, em direção ao Rio de Janeiro em uma linda tarde ensolarada ouvindo blues na Carvalho Pinto a 120Km/h, e pensando com meus botões se realmente valeria a pena ter uma moto “solo” do tipo Street Fighter, algo que nunca tive e sempre sonhei, ou se era melhor manter a Harley Electra Glide para passear com a esposa. Não que eu esteja pensando em vender a Harley, mas depois que decidimos ter um carro fiquei pensando se a Harley é mesmo a melhor opção para o nosso caso. A Claudia agora tem a moto dela, e a chance de viajarmos de moto juntos diminuiu com a vinda do carro. O sonho de varar as estradas a bordo de uma Bandit 1250, CB 1300F, uma Triumph Speed Triple ou ainda uma Ducati Monster ou Clássica, ainda faz parte do meu imaginário. Mas a Harley tem lá seu charme…

Não acham?

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