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EEra manhã de sábado, acordei com a Nani, rindo de uma foto dela com as amigas, numa festinha de aniversario, quando crianças. Muito legal…! Que bom que alguém tirou aquela foto. A vida segue num ritmo loco, nos esquecemos do insubstituível valor da possibilidade de eternizar um momento qualquer. Tirar fotos de um rolê é um saco. É pior, bem pior, que abrir porteira. Maquinas fotográficas são “frágeis”. Motociclistas pilotam equipados. Estes “padrões” não têm a menor afinidade. Experimente. Saí determinado a “fazer história”, literalmente. Andamos no mesmo circuito há 25 anos! Lembro-me do primeiro rolê lá, numa DT180, em 1984. Pergunte-me quantas fotos tenho deste longo, período. Não mais que cinco, seria a resposta. Absurdo. Uma imensa e maravilhosa porção de nossas vidas, da qual não se tem registro.

Diz que o universo conspira a favor das boas iniciativas. E assim foi. Saí só. Com idéia de treinar, e fazer fotos desta “pista” que há gerações, serve de base para o desenvolvimento de dezenas de pilotos locais.

Por desencargo de consciência, passei no ponto de encontro e, por sorte (muita sorte!), me deparei com uma dezena de compadres que não via, nem andava junto, há meses. Sugeri que tentássemos fazer umas fotos, pra “imortalizar” este que é um enorme prazer, comum a todos.

O rolê no “circuitinho”!!

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O “enduro” na nossa terra, como em tantas outras, nasceu como um “passeio” pelo mato e evoluiu pra uma competição de velocidade.

Não somos treinados para a transposição de obstáculos. Não temos muitos por lá… Nosso negócio é fazer curvas na terra. De preferência, rápido, ou, o mais rápido possível. Só.

Não dá pra chamar de veloterra porque nosso circuito é uma “linha”. Não dá pra chamar de trilha porque é aberto, descampado e sem obstáculos. Não dá pra chamar de “MotoCross” (na concepção moderna do termo) porque são poucos os saltos.

São aproximadamente 35km de carreadores que já guarneceram plantações de laranja, de goiaba, de manga e hoje, guarnecem cana. A cana é “amiga” deste esporte. Onde tem cana, não tem cerca, não tem porteira, não tem animal, não tem casa, não tem gente. A cana não requer muita manutenção. Difícil trator ou caminhão no carreador. A cana tem duas ou três safras no ano (não sei…).

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Mas o fato é que, uma ou duas vezes por ano, ganhamos uma manutenção completa e uma temporada de visão panorâmica no nosso “play ground”. Se algo der errado e você “sobrar”, pro meio do canavial a 70km/h, grandes são as possibilidades disso não lhe trazer nada, além de arranhões e pequenos hematomas.

Temos um rolê que pode chegar a 40/50km, ininterruptos e bem “marcados”, dependendo do numero de laços agregados. Tudo isso, sem por primeira, sem por o pé no chão, sem cruzar nenhuma via principal.

Tirar fotografia é coisa pra fotografo e eu, definitivamente, não sou um. Requer intimidade com a lida, organização e equipamento. Nós, não tínhamos nada disso no sábado. Mas um dia, certamente, ficaremos felizes por termos tido o “saco”, de ficar ali, tirando fotos na hora de acelerar.

Ouça o que eu digo , faça isso!

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Você já reparou no equipamento dos fotógrafos profissionais? Cê ligou no tamanho dos canhões de lentes que estes caras usam? Legal. Então vai entender , quando observar a qualidade tupiniquim das fótinhos feitas com uma maquininha que cabe no bolso…

Um fato me chamou a atenção, enquanto via os caras passando pelo outro lado da lente. Todo mundo faz pose pra sair na foto. É claro. Mesmo os mais displicentes, acertam a postura e preparam um sorriso. O que eu vi, não foi muito diferente disso. Gente fazendo pose.

Até aí, nenhuma surpresa. A surpresa esta na constatação do quão relapsos somos, quando não estamos sendo fotografados. Se andássemos numa “passarela”, onde a possibilidade de uma foto fosse constante , andaríamos muito melhor!

Pra sair na foto , todo mundo se posiciona corretamente. Aplica a técnica. Da próxima vez que andar, ande como se tivesse um fotógrafo na saída da próxima curva.

Outra constatação curiosa. Em geral, quanto maior a velocidade (dentro do limite para a circunstância) , melhor a foto. As chances de sair bem na foto, na velô, são muito maiores do que na lerdeza. Na velô, o freguês vem focado, posicionado nos comandos, “atacando” a “pista”. Na lesera, o cara vem de bunda gorda, vacilando.

Deve ser fácil fotografar o Bubba….

Depois da pequena session fotográfica, me apartei dos “modelos”, que já estavam de saco cheio das duas paradas que fizemos (ninguém lá tá acostumado a parar no meio do rolê). Encostei minha bike numa arvore e saí a pé… , fotografando os infinitos “S´s” do circuito.

Malandro…. impossível gostar de curva e não adorar Taquaritinga… Também … , é bom que goste , pois além disso , não há mais nada…. São “infinitas” as curvas (pode contar uma a cada 20 ou 30 metros), de todos os ângulos e inclinações possíveis. Algumas com cavas de erosão , algumas com escoras perfeitas, de um palmo e meio…, moldadas por 25 anos de suor e cravos de borracha

Curvas de segunda, terceira, quarta… Sempre, com o que restou da mata nativa à esquerda e sugar cane, à direita!!! Três, quatro, cinco quilômetros seguidos de “S´s” do tipo 45 graus e “U turns”, como eles dizem lá na América!!

Um na seqüência do outro.

Taquaritinga não é um lugar único, nem tão pouco um lugar diferenciado. É só um imenso canavial. O que faz de lá, um lugar bom pra andar, é a velocidade. Só.

Nosso circuito é tedioso pra andar devagar. Nossos visuais estão longe de magnânimos. Nossa riqueza natural, há muito foi “dizimada”. O que faz de Taquá um lugar legal , além do carnaval e das mulheres bonitas, é personalidade dos caras. Diz à lenda que , no passado , nosso município era renomado paradeiro de ladrões de cavalo. Ladrões estão sempre em fuga. Ninguém foge devagar. Há traços desta herança genética, numa porção significativa, das novas gerações.

Hoje é muito pouco provável que alguém venha a lhe subtrair alguma coisa por lá. Pra quem gosta de motociclismo Off Road, Taquaritinga é lugar de somar, não subtrair.

Velocidade é algo relativo. Rápido pra uns, pode ser quase parado, pra outros. Mas , uma coisa é certa. É pouco provável que alguém tenha sono andando de moto por lá…

MOTOHEAD