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Texto: M. Barthô – Ilustração: Ricardo Sá

No Brasil, o movimento “Chega de Acidentes”, que teve início oficial em 18 de setembro último, pretende chamar a atenção da sociedade e das autoridades para essa data. E, principalmente, para o grande número de acidentes e a emergência da criação de um Plano Nacional de Segurança Viária no Brasil. As motos fazem parte desses números tristes. Essa contabilidade sinistra mostra que os acidentes envolvendo motociclistas que entraram em óbito nos últimos dois meses podem estar por volta de 2,5 mil.

Prejuízo financeiro

Todo esse material foi divulgado pelo Cesvi-SP. O Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária — www.cesvi.org.br ) é a entidade criada e mantida pelas seguradoras para avaliar os acidentes com veículos automotores e diminuir os sinistros e suas causas. A existência da entidade leva em conta o prejuizo financeiro que as seguradoras (de carros e as poucas que seguram motos) têm ao reparar veículos acidentados e pagar seguros às vítimas. Por outro lado, o Cesvi também se preocupa com o fator humano. Afinal, é por causa do homem (no caso, dos motoristas e afins), de sua má conduta e da formação completamente errada para tirar a desejada Carteira Nacional de Habilitação que os acidentes ocorrem. O resultado é que os leitos nos hospitais e as oficinas ficam cheios, os velórios funcionam a todo vapor e a caixa registradora das seguradoras é constantemente esvaziada. Na mentalidade do motorista brasileiro — e, por extensão, da imensa maioria das montadoras de carros e de motos, dos comerciantes, reparadores, empresas de financiamento e das companhias seguradoras — o item “direção segura” têm uma importância muito menor que as preocupações para facilitar a aquisição da moto ou do carro novo. Nas lojas e concessionárias, ninguém pergunta se os carros ou as motos novas são seguras, mas apenas quanto custam e como pagá-las. Nas auto e motos-escolas todos estudam apenas para passar no exame de habilitação e obter a CNH. Depois, queo carro ou moto sai da loja, todos esquecem muito do que existe nas leis de trânsito. Ou não é assim? Os usuários de motocicletas, a indústria, o comércio e os prestadores de serviços do setor de duas rodas também têm sua parcela de responsabilidade na formação dessas “listas de cadáveres” ou de acidentados graves.

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Relógio de acidentes

Note-se que não estão na lista de mortos em acidentes são os aleijados e os que ficam com sequelas permanentes — inclusive as psicológicas, que atingem amigos próximos e familiares. Pelos cálculos dos especialistas, nos últimos dois meses foram quase 20 mil motociclistas acidentados, que sobreviveram mas ficaram com sequelas. No site www.chegadeacidentes.com.br , um relógio virtual estima a evolução da quantidade de vítimas fatais e não fatais no Brasil, e o impacto econômico dos acidentes e suas vítimas. Desde que o relógio iniciou a estimativa, em 18 de setembro último, o trânsito já provocou a morte de 5.685 pessoas e outras 18.011 foram hospitalizadas. De acordo com dados levantados pelo movimento, o impacto econômico desses acidentes corresponde a cerca de R$ 5 bilhões. Esse valor equivaleria ao investimento em 35 km de linha de metrô em São Paulo; 101 hospitais de reabilitação; 144.332 casas populares; e cerca de 21 milhões de cestas básicas. Um dado adiciona o tempero final a essa sopa de letrinhas: o Cesvi informa que o Brasil ocupa o 5º lugar no mundo na quantidade total de fatalidades no trânsito, atrás apenas da Índia, China, Estados Unidos e Rússia, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Esse cenário de insegurança no trânsito brasileiro somente poderá ser mudado com a implantação de um Plano Nacional de Segurança Viária, fundamentado em estatísticas e informações adequadas, e com ações coordenadas em todo o território nacional. Para isso, basta você, Motonliner, assinar sua participação, seguindo as instruções divulgadas através desta reportagem.

Como participar do movimento

No mesmo endereço eletrônico do Chega de Acidentes (acesse www.chegadeacidentes.com.br ) é possível participar de um abaixo-assinado eletrônico, para que a sociedade possa engajar-se em prol dessa iniciativa. Nós, Motonliners, sempre ativos, podemos contribuir muito para atingir essa meta. A sociedade civil têm se manifestado, mas até o momento apenas pouco mais de cem pessoas colocaram seus nomes no abaixo-assinado. Os interessados em apoiar ou divulgar esta ação podem entrar em contato por meio do próprio site, que permanecerá ativo até que um Plano Nacional de Segurança Viária seja implantado. Bem mais atuantes que nós, motociclistas, o número de entidades e empresas que existem e já aderiram ao movimento têm crescido nesses dois meses de existência. Atualmente estão engajadas as seguintes entidades: * CESVI BRASIL (Centro de Experimentação e Segurança Viária); * Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego); * ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos); * Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro; * Trânsito Amigo (Associação de Parentes, Amigos e Vítimas de Trânsito); * ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias e Rodovias); * NTC & Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística); * ABPTRAN (Associação Brasileira de Profissionais de Trânsito); * Criança Segura (ONG com foco em prevenção de acidentes com crianças e adolescentes); * ABRASPE (Associação Brasileira de Pedestres); * Feneauto (Federação Nacional das Auto Escolas/ Centro de Formação de Condutores); * Sindicato das Auto Moto Escolas e Centros de Formação de Condutores no Estado de São Paulo; * PRO TESTE – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor; * SINDSEG SP (Sindicato das Seguradoras, Previdência e Capitalização do Estado de São Paulo); * ABETRAN (Associação Brasileira de Educação de Trânsito); * Perkons S.A. – empresa participante.

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Em SP, grupos auxiliam vítimas de duas rodas

Enquanto autoridades de trânsito, entidades, associações e fabricantes tentam diminuir a quantidade de acidentes envolvendo motos, alguns grupos seguem prestando auxílio gratuito aos motociclistas e motoqueiros acidentados e suas famílias. Uma das entidades, surgida há anos atrás, foi o grupo “Almas de Aço”, de São Paulo. O grupo nasceu pela inicativa de três amigos, o escrivão de polícia Wallace Pinheiro, o psicólogo Uildon Calixto e a advogada Andréa Rodrigues “O grupo surgiu por causa dos muitos casos que eu via nos Distritos Policiais onde trabalhei”, diz Wallace. “Ajudamos as vítimas na base da solidariedade”, explicou. O que motivou a criação do grupo foi a constatação de que os motoqueiros acidentados e suas famílias ficavam traumatizadas e sem auxílio. Os amigos então criaram o grupo, e na época conseguiram o apoio da empresária Fabiana Domingos, da UPP, empresa de uniformes para motoboys. O “Almas de Aço” procurava os motoqueiros acidentados e suas famílias. Prestava apoio jurídico, psicológico e trabalhista. O objetivo sempre foi o de reerguer a estima dessas pessoas. Entre os projetos da equipe estava a aplicação de jogos temáticos para acidentados, além de testes de capacidade e reavaliação profissional. Tudo sempre foi feito de graça — e na raça. “Gostaríamos de contar com pessoas e empresas que acreditem nesse trabalho para podermos ampliar nossa atuação”, diz Wallace.

Resultados

Um dos muitos auxiliados pelo “Almas de Aço”, há quatro anos, foi o aposentado Julio Nascimento. Seu filho, Carlos Eduardo, faleceu após a colisão de sua Honda Twister 250 com um caminhão que cruzou a avenida Rebouças na contra-mão. “O aparecimento desse grupo foi uma benção. Eles reergueram minha estima e nos tornamos amigos. Agora, colaboro ajudando outras famílias que enfrentam o mesmo problema”, disse. Outro grupo que atua nessa linha foi formado pela ONG Centro de Defesa das Vítimas de Trânsito – CDVT. A entidade, presidida por Lucio Machado, atua internando e requalificando motoqueiros que ficaram tetraplégicos, paraplégicos ou com problemas neurológicos para que se tratem e voltem ao mercado de trabalho. Ela também auxilia os acidentados com apoio jurídico, além de facilitar o recebimento do DPVAT (seguro obrigatório). “Nós auxiliamos as pessoas e também os órgãos públicos, agilizando o desembaraço de cada caso”, explica Machado.

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ONG Avitran

Já a ONG Avitran (Associação das Vítimas de Trânsito), primeira entidade América Latina a atuar na área de auxílio às vítimas de trânsito, permanece ativa. Essa ONG é outra entidade que luta por medidas capazes de reverter o quadro mostrado nas estatísticas de acidentes. A organização não tem fins lucrativos. Ela desenvolve seus trabalhos com base técnica e científica sustentada pelo CEPAT – Centro de Psicologia Aplicada ao Trânsito , que tem cerca de 30 anos de atividade. Com pesquisas, estudos e serviços focados nessa área, a Avitran preocupa-se em aprimorar constantemente suas práticas para amparar as vítimas e atender os envolvidos com um trabalho eficiente e responsável. “Com a criação do Centro de Reintegração de Vítimas de Trânsito, nós damos da apoio psicológico às pessoas afetadas com o objetivo de reintegrá-las a vida útil e profissional, diminuindo possíveis seqüelas traumáticas e redirecionando-as a novas atividades”, explica seu fundador, o Dr. Salomão Rabinovich, de São Paulo (SP). Rabinovich é Presidente da Comissão de Ética, Cidadania e Direitos Humanos da Academia Paulista de Psicologia. Membro da Academia Paulista de Psicologia. Elçe conta com 36 anos de especialização em comportamento no trânsito e 20 anos de trabalho ininterrupto, com apoio do Cepat — Centro de Psicologia Aplicada ao Trânsito. Em 1999, fundou a Avitran, cujos contatos são pelo tel. (11) 11 3057-0244 e pelo site www.salomao.psc.br.

RETRATO DE UMA TRISTE REALIDADE

Confira os dados que o Cesvi disponibiliza no Normas e Números (pesquisa de levantamento de dados oficiais).Obtenha mais informações acessando o link http://www.cesvibrasil.com.br/seguranca/biblioteca_dados.shtm#veiculos.

Tipos de acidentes (1999 – 2006)

A tabela disponível para download apresenta dados de 1999 até 2006 dos tipos de acidentes com vítimas.

ANO 2004 2005 2006 Total 348.583 383.371 320.333 Colisao/Abalroamento 182.020 205.131 167.104 Tombamento/Capotamento 35.664 39.882 30.178 Atropelamento 65.279 66.936 52.781 Choque com objeto fixo 27.041 31.405 27.234 Outros 23.263 29.757 28.566 Não informado 15.316 10.260 14.470

*Fonte: DENATRAN