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Cilindrada não é potência, isso já disse nosso amigo e colaborador do Motonline – Geraldo (Tite) Simões. Essas duas motos representam um bom exemplo dessa afirmação. Dificil comparar duas motos, com motores completamente diferentes, uma de 670 cm³ de deslocamento volumétrico e outra de 1585 cm³.  Mais que o dobro da cilindrada da CTX tem a Harley, e a Honda tem arrefecimento a líquido e a H-D a ar, mas em termos de desempenho elas se assemelham muito.

Honda CTX e Harley Fat Bob, Duas da classe "dark custom"

Honda CTX e Harley Fat Bob, duas motos “dark custom”

Além do volume dos motores a outra grande diferença está na forma de fazer o arrefecimento, ou a retirada do excesso de calor do motor, resultado das explosões. É que do resultado da combustão da mistura ar-gasolina, apenas uma parte da energia aparece como energia mecânica aproveitável, outra parte é dissipada como calor pelo sistema de arrefecimento. Em termos de eficiência energética, o motor a combustão interna está muito longe de ser eficiente porque não aproveita uma grande parte da energia produzida. Nessas duas motos esse problema se resolve de formas muito diferentes.

Guidão reto da H-D dá firmeza para acelerações, uma curva mais tradicional tem o guidão da CTX

Guidão reto da H-D dá firmeza para acelerações, uma curva mais tradicional tem o guidão da CTX

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Constatada a principal diferença, vamos às semelhanças e outras particularidades interessantes entre essas duas motos. As “dark custom” são essas motos de inspiração “escura”, em que o contraste com cromados ou cores berrantes, como o tanque da Fat Bob faz um destaque importante. Assim é a Honda que pode ser encontrada apenas em preto fosco, mas a Harley tem outras cores como a “café-com-leite” ou “Sand Cammo Denim”, por exemplo. Mas as mais desejadas e vendidas são mesmo as mais escuras.

CTX valoriza as linhas horizontais, parecendo mais longa do que é na realidade

CTX valoriza as linhas horizontais, parecendo mais longa do que é na realidade

Essas motos trazem a imagem rebelde, que também associa o espírito de liberdade e geralmente nem cogita da presença do garupa, o espaço está lá apenas porque manda a lei, mas seus consumidores preferem a solidão com suas motos. A Honda se dedicou a um trabalho profundo na criação da imagem e conceito das CTX, que conta com um modelo maior no exterior. Associou linhas horizontais como um tema que inspira confiança e controle. Coisas para neutralizar a imagem dos riscos que podem assustar o motociclista iniciante.

Fat Bob - A linha clássica de uma Bobber imortalizada pela fábrica Harley-Davidson

Fat Bob – A linha clássica de uma Bobber imortalizada pela fábrica Harley-Davidson

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A Harley, por sua vez, vem com a imagem tradicional das bobbers dos anos 60. Para lamas cortados na traseira e a frente imponente, remete às motos do cinema que consagraram essa imagem. Detalhes importantes como os faróis duplos redondos na frente são associados aos circulos luminosos da lanterna traseira embutida no para lama recortado.

Posição dos pés para frente, braços mais esticados do que na CTX

Posição dos pés para frente, braços mais esticados do que na CTX

Andar numa Harley sempre é uma experiência única. Na Fat Bob a posição é com os pés avançados e contrasta com a posição dos braços, que ficam retos e puxam o tronco um pouco à frente. É essa a postura que oferece o “drag bar”. Um guidão de barras retas que oferece boa pegada para arrancadas, sem perder nada no conforto. Você consegue bom controle sobre a motocicleta porque a posição dos braços permanece em um bom ângulo para manobras rápidas e também para segurar o vento frontal. Com as pernas relaxadas e o tronco reto o piloto da Harley fica em boa posição para andar um bom tempo e a baixa altura do banco aumenta bastante a confiança ao conduzir.

Postura mais clássica para uma custom na CTX

Postura mais clássica para uma custom na CTX

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A Honda CTX oferece uma posição de pilotagem mais clássica para uma custom. Guidão um pouco mais largo tem maior curvatura para trás, mas os pés ficam na mesma posição do que na H-D. Adiantados e com fácil acesso ao chão por causa da baixa altura do banco. A CTX compartilha motor e chassi com outros modelos da marca e por isso o DNA Honda é muito presente nesse modelo. Na posição de custom, na forma de conduzir, no ruido do motor e na maneira que a ciclística responde aos comandos do piloto.

Geometria da CTX tem a abordagem Custom por conta da suspensão traseira rebaixada em relação à NC700 X, que compartilha da mesma mecânica

Geometria da CTX obteve a abordagem Custom por conta da suspensão traseira rebaixada em relação à NC700 X, que compartilha da mesma mecânica – Respostas suaves da direção e boa estabilidade em retas

O centro de gravidade mais para trás do que os outros modelos Honda é claramente observado na CTX, mas também na H-D essa característica está presente até em maior escala, fazendo com que nas frenagens se possa utilizar mais do freio traseiro do que numa moto de outro estilo. Isso é interessante, particularmente aos motociclistas iniciantes ou que simplesmente preferem evitar o uso do freio dianteiro.

Nessas duas motos essa característica é bastante presente, onde grande parte do peso da moto se apoia sobre a roda traseira. A Harley tem quase 10 cm a mais na distância entre eixos, além disso também há mais de um centímetro de diferença para maior na medida do trail. Esses dois fatos explicam toda diferença entre as duas. A Honda tem manuseio mais fácil, entrando e saindo mais facilmente nas situações de inclinação e a Fat Bob, ao contrário,  tem uma preferência a se manter em linha reta, sendo mais lenta nas respostas aos comandos do guidão. Perto de dois graus a mais aproximadamente, na inclinação do canote da direção amplia mais ainda essa diferença. A mais custom das customs radicaliza nas suas características estradeiras e por isso andar nela se torna uma experiência única. A Honda CTX, mantém muitas peças em comum com os outros modelos da série 700, mesmo motor e chassi principal, portanto suas características na pilotagem não poderiam ser tão diferentes. Grande design com uma atitude custom mas que mantém o DNA da série.

Classicas medidas resultam em comportamento neutro e estabilidade para retas, mas não duvide da capacidade de fazer curvas, essa Harley também tem

Classicas medidas resultam em comportamento neutro e estabilidade para retas, mas não duvide da capacidade de fazer curvas, essa Harley também tem

Comparando os motores Motor de custom tem que ter torque e mostrar sua força com um som imponente do escapamento. Mas com as novas restrições nas emissões essa função está sendo passada gradualmente à entrada de ar. Nessas duas motos o ronco do escapamento é superado pelo grave som da caixa de ar nas maiores acelerações. A Honda tem um rodar mais suave, com menos vibração do que a Fat Bob. Essa, por sua vez confere o som mais tradicional da marca e maior potência.

Os dois motores tem dois cilindros - As semelhanças terminam ai, o resto é tudo diferente

Os dois motores tem dois cilindros – As semelhanças terminam ai, o resto é tudo diferente

Mesmo com quase 20 cv a mais, ainda assim a Harley parece que anda tanto quanto a Honda, de 47,6 cv. É o peso maior que ela tem que carregar que diminui a diferença no desempenho. A H-D deve carregar 4,7 kg por cv enquanto a Honda leva 5,1 kg por cv. Então, não é só impressão a maior leveza da Honda, mas a potência maior da Harley a coloca na frente em quase todas as situações, até por causa do menor giro necessário a extrair a potência de pico. Esse motor Honda tem limite de giro bastante baixo, mas ainda assim vira mais alto que a Harley.

Motor H-D Twin Cam 96 - Um V2 que produz perto de 60 cv

Motor H-D Twin Cam 96™ – Um V2 que produz perto de 60 cv

Os dois motores dessas motos são de dois cilindros, sendo que na Honda desloca 670 cm³ e estão paralelos em linha transversal na motocicleta e na H-D desloca 1.585 cm³ e fica em V no sentido longitudinal. As explosões na Honda se dão em 270° e 720° na rotação do virabrequim. Na Harley elas se dão em 315° e 405°. Isso faz com que o barulho e a forma de entrega de potência sejam parecidos, mas não iguais. A maior diferença está na proporção entre o diâmetro e curso dos pistões de cada uma, sendo que a Honda está mais próximo de ser quadrado (diâmetro = curso) do que a Harley. Além disso o comando das válvulas é único e está no cabeçote da Honda e na Harley são dois (twin cam) e estão na parte de baixo do motor, fazendo o acionamento das válvulas por meio de varetas.

Motor de 700 cc da Honda se adapta muito bem na Custom, baixas rotações e torque alto

Motor de 700 cc da Honda se adapta muito bem na Custom, baixas rotações, torque alto e arrefecimento a líquido

Essas diferenças fazem toda distinção desses motores, mas para aguçá-las mais ainda há o sistema de arrefecimento, que na Honda é a líquido e na Harley é a ar. Essas características resultam em um motor mais econômico na Honda, com uma capacidade de giro superior, pela quantidade menor de peças e massa em movimento recíproco (de vai e vem), como pistões e varetas de válvulas. Na Harley, por sua vez a maior capacidade volumétrica faz com que esse motor acabe entregando mais potência absoluta e maior torque, principalmente nas baixas rotações, isso facilita bastante lidar com o peso da moto. Mas principalmente após uma certa velocidade, a maior potência do motor aparece, levando a Fat Bob a uma velocidade maior de final. Os dois câmbios são de seis velocidades com a sexta marcha em uma relação bastante longa, bem apropriada a velocidades de cruzeiro, onde o motor fica em uma rotação mais baixa para mais conforto e economia. Por isso há a possibilidade de se esquecer de engatar a última marcha para cruzeiro e o marcador de marcha em uso na Harley vem a calhar nesse aspecto. Outras facilidades da eletrônica estão presentes na Harley, como a chave eletrônica (sensor de presença) que desbloqueia e bloqueia a moto de acordo com a aproximação do piloto, com a chave. Os comandos do pisca tem retorno automático, por tempo e por sensor de inclinação, apesar de que os botões sejam em padrão diferente do usual, um de cada lado do guidão. Bem posicionado entretanto, está o comando de funções das informações ao piloto, que pelo punho pode alternar as informações do painel LCD. Na Honda, estas funcionalidades só podem ser acessadas pelos botões do painel e não há indicador de marchas.

Suspensão de custom não tem boa fama, elas costumam ser duras e ásperas para o piloto. Mas nessas duas motos elas se apresentam bastante confortáveis, com o benefício extra dos bancos largos e com boa conformação do corpo. Na Honda a traseira é um pouco mais amortecida do que na H-D e na  frente a Harley sofre um pouco com o peso das rodas. Nas ruas e estradas brasileiras a Harley sofre mais e passa isso ao piloto.

Consumo em custom normalmente não é importante para seus donos mas no caso da CTX acaba por se tornar um aspecto importante, pois nesse quesito ela dá um banho na Harley. São 27,4 Km/l na média do teste contra 17 Km/l na média da H-D. Resulta isso da maior cilindrada e potência na Harley. Se essa questão se tornar importante para o usuário a CTX leva clara vantagem.

Finalmente, essas são duas das Dark Customs mais desejadas do mercado, são motos bastante diferentes mas que almejam um público bastante semelhante. A escolha entre uma e outra se dará por causa dos detalhes, que uma ou outra resolve de forma diferente, a começar pelo design. A escolha será difícil ou não, se o preço for importante para você. A Honda está com o preço de R$ 33.280,00 e a Harley Fat Bob custa o valor de R$47.180,00.

Bitenca
Pioneiro no Motocross e no off-road com motos no Brasil, fundou em 1985 o TCP (Trail Clube Paulista). Desbravou trilhas em torno da capital paulista enquanto testava motos para revistas especializadas.