Nós do Motonline tivemos a honra de conversar com o motociclista e artista plástico Renato Siqueira Maria, um mestre dos dioramas. O paraense nos contou um pouco da sua trajetória de vida, que se interliga com os amantes do motociclismo através do seu trabalho, que faz sucesso pelo Brasil e mundo.
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Antes, vamos falar sobre o que são os dioramas. Basicamente, apresentações artísticas tridimensionais, construídas de maneira muito detalhada, de cenas da vida real para exposição com finalidades de instrução e entretenimento. Assim, se tornou um grande hobby para vários motociclistas.
Diferenças entre um dioramas e maquete
A diferença entre uma maquete e o diorama é que a primeira é um modelo, um conjunto representativo. Já o diorama é uma reprodução exata, havendo dentro da maquete um ou mais dioramas.
Renato, mestre dos dioramas de motos
Ninguém melhor para falar da sua vida e trabalho do que o próprio artista. Então, com a palavra, Renato Siqueira Maria:
Minha paixão pelo motociclismo começou quando ainda era muito pequeno. Mais exatamente aos 11 anos. Fui estudar em um novo colégio luterano em minha cidade onde haviam muitos colegas oriundos dos estados do Sul do Brasil – entre eles estavam dois maravilhosos amigos que tenho até hoje. O pai de um deles é um grande empresário que colecionava carros e motos antigas, mantendo na garagem vários Fords, tratores, ferramentas e outros objetos.
Porém, entre todos os veículos que lá haviam consigo me recordar de três motos que eu vivia ao lado delas: uma Indian Chief, uma Harley Davidson Fat Boy e uma BMW R65 1983, a única que me recordo o ano. Passar as férias com eles e estarmos sempre juntos contribuiu para eu assimilar uma cultura que poucas crianças da época tinham: gostar de coisas enferrujadas, curtir a cultura americana e amar motos, especialmente as vintage. Além do mais, passávamos bons tempos em cima de uma Suzuki de 70cc nos divertindo na área da propriedade deles.
Comecei a me dedicar à arte de fazer dioramas como forma de auto-tratamento para depressão, doença que está comigo desde a idade tenra. Começou como uma terapia para ocupar a mente com algo criativo. Algo que me fizesse esquecer as ansiedades. Além disso, com o gosto pela cultura americana aliado à vontade de criar cenários estilo Rota 66 para minha coleção de miniaturas, comecei a me aventurar por esta área.
Já fiz parte de um moto clube, o Balaios MC, mas o tempo e as responsabilidades que eu tinha na época não me deixaram me dedicar mais ao clube e, por conta disso, decidi sair. Agora, orgulhosamente, faço parte de uma irmandade de estrada chamada Confraria Harleyros do Pará, situada na cidade em que nasci, Belém. E é muito bacana saber que faço parte de algo bem organizado, mesmo morando em uma cidade distante da capital.
Inspiração para criar dioramas
Uma viagem que certamente me inspirou foi uma das etapas do meu mestrado que fiz em Buenos Aires. No tempo vago tive a oportunidade de visitar a Autoclásica, maior exposição de automóveis e motos antigas da América Latina.
O evento transpirava uma atmosfera de nostalgia, cultura Gearhead e tudo o que envolvia motores. Já havia visitado museus por toda América do Sul, mas este evento, de longe, foi a mais fantástica reunião de carros e motos lendárias que já presenciei. Muitas Harleys, Idians, Royal Enfields, Nortons, etc, enfeitavam o gramado do Jóquei Club de Buenos Aires. Foi uma viagem no tempo. Um tempo que nunca vivi, mas sou remetido à nostalgia daquela era.
Com certeza um lugar do mundo que pretendo conhecer e viajar de moto através dessa estrada é a famosa Route 66, nos Estados Unidos. Já está em planejamento uma viagem pra lá juntamente com um brother da Confraria Harleyros, Toni “Megafone”, que virou um irmão pra mim. Estamos fazendo os planos para cumprir a metade da estrada, que já está de bom tamanho pra mim. Um sonho a ser realizado e compartilhado com os que pretendem fazer o mesmo.
Aperfeiçoamento: um dever diário
Conciliar o tempo em tarefas que se ama é sempre um desafio. Minha espiritualidade e minha família vêm sempre em primeiro lugar. O tempo que sobra eu administro entre meu trabalho secular e meu hobby, que é o colecionismo de miniaturas. Leio bastante também meus livros de carros e motos que compro nas viagens.
Com a pandemia e o isolamento em casa que a minha profissão me proporciona, eu posso me dedicar mais à criação dos projetos de dioramas. Pesquisar mais e me aperfeiçoar na arte é um dever de casa diário, pois fazer o que o cliente deseja ou entender mais a fundo o que ele busca requer conhecimento de modelos diversos, de veículos novos e antigos de todas as categorias, estruturas e até mesmo a cultura dele e o que pretende com o projeto pedido.
Episódios curiosos? Também tem
Uma história tragicômica aconteceu em um dia que fui dar um role solo a uma cidadezinha próxima a minha, Belterra. Neste tempo eu tinha uma Harley Davidson XL883R e antes de sair de lá encontrei com um ex aluno meu, que é professor lá. Ele me perguntou se eu não tinha receio de voltar à noite de moto por estradas tão escuras. Então falei que estava em uma máquina inquebrável e sorri.
Já era noite e na volta, na hora que subi na moto, o cabo do acelerador quebrou e me vi em apuros. Resolvi puxá-lo por baixo e ficar com ele na mão fazendo aceleração direta. Pilotava com a mão esquerda e puxava o cabo com a direita. Ao passar por uma viatura da PRF naquelas condições e naquela escuridão os policiais resolveram vir atrás de mim e me abordar. Eu expliquei toda a situação e pedi que pudesse seguir em frente, pois não havia como ficar parado naquele caminho ermo e escuro. Eles se compadeceram e deixaram seguir viagem.
Como se somente o cabo não fosse problema suficiente, em certo trecho eu fiquei sem gasolina, pois na ânsia de chegar logo, eu passei direto do posto e não abasteci. O resultado foram longos minutos empurrando aquela moto pesada até o posto. Felizmente cheguei em casa, porém com a mão cortada e as costas doídas de empurrar a Harley. Desde então, sempre lembro de nunca mais gabar nada que possa me deixar na mão.
Reconhecimento de fãs dentro e fora do Brasil
Eu dedico sempre a Deus e minha família meu êxito e os bons resultados que obtenho em cada projeto que faço. Sem a criatividade e o apoio da família, que vem sempre em elogios e palavras de incentivo, não seria possível obter resultados felizes ou chegar ao fim uma empreitada. É um trabalho que exige acima de tudo paciência e saber que sempre vai levar tempo para terminar um projeto. Às vezes fico até de madrugada fazendo os pequenos detalhes dos dioramas.
Também aproveito para deixar um recado a todos os seguidores do Motonline, a ver com a paixão pelo motociclismo e pela moto, independente de marca, cor, ano ou seu preço. Às vezes devemos largar algumas âncoras que nos prendem a ideologias e ver, de fato, que uma moto, qualquer um pode comprar e deixar enfeitando sua garagem. Porém, o amor por ela e o espírito de motociclista não se pode comprar.
Na estrada somos todos irmãos porque somos iguais. Na estrada não tem juiz, médico, advogado, professor, vendedor ou gari. Há apenas pessoas com um gosto e paixão em comum: a moto e tudo o que envolve sua cultura. Respeito e irmandade devem sempre imperar entre todos, pois sempre vai haver um outro dia, um outro encontro, uma outra estrada.
Conheça mais trabalhos desse grande artista em @renato_dioramas no Instagram.