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O que aconteceu com a gente?

Em que ponto desta longa caminhada fomos traídos ou atraídos para algum desvio e viemos parar onde estamos?

Eu me recordo de momentos há pouco tempo atrás, durante a minha infância, que as pessoas simplesmente se importavam.

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Simplesmente se importavam com as outras pessoas, e por tudo que fosse desde o desagradável até o muito ruim que poderia lhes acontecer.

Este sentimento era dispensado para os vizinhos, conhecidos, conhecidos dos conhecidos, …, não importava.

Simplesmente nos importávamos com as pessoas.

Era um tipo de importar com resultado, daquele sem muito anunciação e belo discurso, daquele importar pragmático, daquele que batíamos à suas portas para oferecer ajuda, daquele que aparecíamos nas suas casas com escada e caixa de ferramenta, daquele que lhes entregávamos uma cesta básica, daquele que não havia excesso na entrega, e nem falta.

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Não era um sentimento dissimulado, simplesmente nos importávamos, nos sentíamos parte da vida deles, parte das suas histórias e seguros da reciprocidade disso tudo.

Porque não nos importamos mais assim?

Passamos todo dia à margem de eventos desagradáveis e até muito ruins acontecendo com as pessoas, mas não importa muito nos importarmos. Está acontecendo com o outro. “Graças a Deus que não foi com a gente.”

Nas ruas e estradas, andando ou conduzindo um veículo, nos desviamos do nosso caminho na primeira percepção de que está ocorrendo uma agressão, roubo ou assalto. “Graças a Deus que não foi com a gente.”

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Agimos da exata maneira que os algozes agressores, ladrões e assaltantes desejam e esperam.

Na realidade não nos importamos. “E graças a Deus que não foi com a gente.”

Pelo menos até um “belo dia”, quando deixaremos de ser apenas os sortudos que não se importam, talvez por nos acovardarmos, para sermos a pobre vítima inocente.

Somos de fato e na atualidade muito bons para fazer mobilizações, movimentos de quase completa ineficácia nas mídias e redes sociais.

Que na grande maioria dos casos geram apenas um enorme volume de belos discursos e comoção generalizada como de fato quase nada de entrega.

A face, ou um “face”, de uma realidade que nos abstraímos do mundo e não tiramos os olhares de uma tela de 1 a dezenas de polegadas, em vez de nos importarmos “face to face”.

Realmente não devíamos confiar tanto nas nossas instituições, e não é porque elas não funcionam ou porque são corruptíveis, mas porque o controle deveria estar em nossas mãos.

Não no sentido de fazer e aplicamos as nossas próprias leis, mas em todo o sentido de não deixarmos passivamente algozes agressores, ladrões e assaltantes fazerem tudo isso com a gente.

Não podemos deixar de nos importarmos muito, como há alguns anos atrás.

Não devíamos nos desviar destes desagradáveis até muito ruins eventos que acontecem com as pessoas.

Não estamos propondo uma revolução, estamos interpretando uma realidade que clama por coragem.

Da coragem sob inspiração na blogueira e opositora cubana Yoani Sánchez, subjugada e presa por diversas vezes. Ou no fotógrafo americano Michael Christopher Brown, que juntamente com o conhecido cineasta e fotógrafo Tim Hetherington e o fotógrafo Chris Hondros, registrou muitas imagens da carnificina perpetuada pela ditadura na Líbia, cuja participação deles depois de meses de conflito, terminou com o grave ferimento do Michael e morte de Tim e Chris.

Extremos de coragem, não precisamos de tanto, a não ser como inspiração.

Riscos haverão, os exatos riscos que estão presentes no nosso cotidiano, a toda sorte, nos nossos caminhos desviados.

Não nos desviando e nos importando, estaremos apenas transformando estes riscos de passivos para ativos.

Não é possível viver a vida sem correr nenhum risco, principalmente quando ela clama por mais justiça e o controle precisa retornar pra nossas mãos.