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A versão mais recente da Buell é a City Cross, feita para encarar a rotina diária na cidade, mas também vai bem na estrada

Por Geraldo Tite Simões – Fotos: Tite e Buell

Sabe aqueles sonhos de infância quando a gente voava sobre a cidade, sobre as estradas, tudo tão real? Assim que acelerei na estrada com a Buell City Cross 1000 lembrei imediatamente daqueles sonhos. Os braços ficam esticados à frente e o banco deixa o piloto em uma posição elevada. A sensação é realmente de estar voando, vendo à frente apenas os instrumentos do painel e o asfalto passando sob o nariz. Se levantar um pouco o rosto tirar o painel do campo de visão aí sim, parece estar voando!

Essa característica não é gratuita. O banco fica a 790 mm do solo e o guidão com cross-bar e protetores de mãos são detalhes típicos de uma fora-de-estrada. Só que as rodas de 17 polegadas e pneus esportivos nadam na maré inversa desse estilo. Então como definir esta Buell? É um desafio que poderia ser traduzido como uma esportiva com pitadas de off-road; ou uma off-road com sotaque de esportiva. Difícil!

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Para entender como é a Buell City Cross é preciso primeiro entender a filosofia o Erik Buell, criador desta marca. Como ele tinha a missão de criar um chassi competitivo para o motor V2 da Harley-Davidson, sua estratégia foi investir o máximo na estabilidade. É um raciocínio bem simples: a Buell nasceu para ser uma moto de corrida e as pistas de corrida se caracterizam por ter mais de 80% de curvas. Portanto, uma moto que fosse extremamente rápida nas curvas levaria vantagem sobre as outras que são rápidas em retas, mas lentas em curvas.

Nesse estudo por uma moto estável, Erik Buell encurtou o máximo a distância entre-eixos (1.320 mm), reduziu ao extremo a geometria de direção (cáster e trail) e mandou o centro de gravidade lá pro subsolo. O resultado é aquela estabilidade que todo mundo está cansado de saber, considerada a melhor de todas as motos do mundo, mas nas retas, ai, ai.

Buell City Cross azul Buell City Cross azul, lateral esquerda

Não existem milagres na engenharia. Se todo conjunto foi pensado para dar o máximo de estabilidade em curvas é natural que a estabilidade em reta ficasse comprometida. Na City Cross não é diferente. Quando o velocímetro indica acima de 180 km/h a moto toda balança, mas basta o piloto se abaixar um pouco e apertar os joelhos contra o quadro para que o bailado termine. Em compensação, assim que entrei nas curvas de alta velocidade na serra de Mairiporã (SP) foi uma alegria! Realmente pode-se inclinar à beira da loucura sem que a moto mexa um nem um pelinho sequer. Junto com o torque absurdo, basta acelerar no meio da curva e curtir o pneu comendo asfalto, nham, nham! Não é à toa que a Buell recebeu o título de moto mais estável em curvas do mundo.

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O motor V2 de 984 cc desenvolve 83 cv a 7.400 rpm, com um tremendo torque de 8,7 kgf,m a 5.600 rpm. Para conseguir tirar potência deste motor foi preciso alterar o arrefecimento, adotando o sistema misto ar+óleo. Como o cilindro traseiro recebe menor fluxo de ar, foi colocada uma ventoinha eletromagnética que passa a maior parte do tempo ligada. Além de um tubo lateral que canaliza o ar para o cilindro traseiro. O calor gerado pelos cilindros é impressionante e no trânsito intenso chega a incomodar, inclusive o barulho da ventoinha ligada o tempo é meio chato. Tampa do reservatório de gasolina

Painel

Faróis

No que diz respeito a estilo, a Buell City Cross é uma moto chocante! O banco, batizado de Skyline, abriga duas pessoas sem aperto e termina bem em cima do pára-lama, sem rabeta, barra da apoio, nada. O banco simplesmente termina! Esse pára-lama é curioso porque tem uma tela que permite ver o pneu. Aliás, assim que via a primeira Buell pensei logo num computador MacIntosh, ou dos relógios Swatch, que adotam a transparência como efeito visual. Dito e feito, segundo a própria Buell, a City Cross foi inspirada na linha I-Mac da Apple.

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Como o verdadeiro tanque de gasolina é no quadro, uma tampa acrílica transparente permite ver a caixa de filtro de ar e parte do sistema de injeção eletrônica. O painel é bem pequeno, mas de fácil leitura e com todas as informações essenciais. Inclusive um hodômetro que conta a quilometragem depois de entrar na reserva. Aqui é um dos grandes problemas da Buell. O tanque é pequeno (14,5 litros) e ela faz média de 15 km/litro. A reserva é suficiente para rodar pouco mais de 40 km, o que em algumas estradas brasileiras pode ser um problema. Quem teve V-Max sabe muito bem o que é controlar o consumo na estrada.

Entre as exclusividades da Buell, o escapamento saindo por baixo do motor é dos detalhes mais marcantes. Sem escapamentos aparentes dá a impressão de ser uma moto ainda menor e é preciso ficar sempre atento para não acelerar demais e esquecer o pé na frente do cano! Teve um grande (literalmente) jornalista que queimou a canela ao esquecer na frente do escape e resolveu acelerar com tudo!

A escolha pelo motor HD trouxe o benefício de um grande torque, mas também veio junto a vibração, que é notada, sobretudo em marcha lenta. Com a moto em movimento essa sensação de vibração diminui bastante.

O melhor da Buell ficou pro final: a suspensão. A proposta é uma moto que permita rodar em pisos detonados, por isso foi feito um acerto para combinar a boa estabilidade no asfalto com um pouco de progressividade no começo do curso para superar os obstáculos. Os pneus Pirelli Scorpion são muito eficientes no asfalto, mas certamente têm limitações na terra. Como o próprio nome da moto deixa claro, é uma “city cross”, feita pra suportar as ruas esburacadas (mas asfaltadas) de capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, ou o pavimento de pedra de Parati (RJ) ou Ouro Preto (MG). Nada de terra, muito menos de lama!

Desde que as primeiras Buell começaram a circular por aqui ficou evidente que tem um público cativo, fanático por Harley, mas não adepto de custom. A Buell verdadeiramente esportiva ainda não foi fabricada, mas já está nos planos. Ela será equipada com motor V-2 arrefecido a líquido da série V-Rod. Já pensou? Uma Buell com motor da Harley-Davidson V-Rod Screamin’ Eagle? Por enquanto vamos curtir a mansa City Cross, oferecida nas cores azul e cinza ao preço sugerido de R$ 36.900. Por esse valor, ela fica situada próxima a Honda Hornet 600 (R$ 31.000), a Ducati Monster 695 (R$ 32.600) e a Suzuki Bandit 650S (R$ 32.265), mesmo sendo uma 1000.

Ficha Técnica Buell City Cross

Motor

Dois cilindros em V a 45°, quatro tempos, refrigerado a ar/óleo, com auxílio de ventoinha elétrica, duas válvulas por cilindro, com comando no bloco (OHV)

Cilindrada

750 cm³

Diâmetro e curso

70,0 mm x 48,7 mm

Taxa de compressão

10.7:1

Transmissão

6 velocidades

Sistema de transmissão

Corrente

Sistema de lubrificação

Cárter úmido

Alimentação

4 carburadores BSR36

Ignição tipo

Eletrônica digital

Sistema de partida

Elétrico

Comprimento total

2.140mm

Largura total

760mm

Altura total

1.190mm

Distãncia entre eixos

1.465mm

Distância do solo

120mm

Altura do assento

790mm

Peso seco

211 kg

Suspensão dianteira

Telescópica de amortecimento hidráulico, pré carga da mola ajustável

Suspensão traseira

Balança de monoamortecimento hidráulico tipo “link” ajustável e regulável

Freio dianteiro

Duplo disco flutuante, mordido por pinça deslizante de 2 pistões de acionamento hidráulico

Freio traseiro

Disco ventilado, mordido por pinça deslizante de 2 pistões opostos de acionamento hidráulico

Pneu dianteiro

120/70 ZR17 m/c (58W) sem câmara

Pneu traseiro

150/70 ZR17 m/c (69W) sem câmara

Tanque de combustível

20 litros

Óleo do motor

3,5 litros (com troca do filtro)

Potência máxima

86 hp à 10.500 rpm

Torque máximo

6,8 kgf.m à 9.500 rpm

Cores

Vermelha e Preta

Tite
Geraldo "Tite" Simões é jornalista e instrutor de pilotagem dos cursos BikeMaster e Abtrans.