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Alex Barros segue o caminho de outros pilotos brasileiros consagrados e troca o macacão pela gravata. E o que é melhor: sem largar do guidão.

Alexandre Barros (foto: divulgação)

Das pistas para os negócios. Sim, para os negócios… Mas sem sair das pistas!

Essa é a fórmula aplicada atualmente pelo motociclista Alexandre Barros, 39 anos, o mais conhecido piloto brasileiro de motovelocidade de todos os tempos.

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Não podemos nos esquecer dos brazucas que brilharam – ou ainda brilham – no exterior, pilotando motos nas modalidades de motovelocidade, motocross, ralis, trial e em provas de endurance. A fila é longa: Adu Celso, Klever Kolberg, André Azevedo, Nivanor Bernardi, Walter Tucano, Antonio Jorge Neto – entre muitos outros.

Mas Barros teve a felicidade de acelerar forte nas provas do MotoGP mais recentemente, nos anos 80 e 90, quando a TV aberta passou a dar mais atenção a esse esporte e a mostrar pegas radicais nas pistas de todo o mundo.

Nos últimos 25 anos, Alex Barros, aquele garotinho tímido que começou a se destacar no final dos anos 70 e início dos 80 tocando uma Mobylette, transformou-se num piloto consagrado. E, sobretudo, discreto. Só pra comparar: Alex Barros sempre mostrou ser um cara mais ou menos com o perfil do boleiro Kaká, nosso 10 na Seleção – “certinho”, bem na dele, comportado. Mas, acima de tudo, um craque.

Bandeira quadriculada

Em Interlagos, ainda em 78: primeiras bandeiradas na linha de chegada (foto: arquivo pessoal)A história de Alexandre Barros sempre foi entremeada de retas e curvas. O desenho dessa biografia tem a forma de uma “colcha de retalhos” – ou melhor, de uma “bandeira quadriculada”.

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Nela se misturam família, equipes, cilindradas, apoios, amigos, pistas, quedas, campeonatos, mecânicos, garagens, motos, campeonatos nacionais e mundiais, campeões, ultrapassagens e, claro, corridas, muitas corridas disputadas em altíssima velocidade.

Alex construiu sua carreira pontuando provas e erguendo troféus, desde suas primeiras aparições no Autódromo José Carlos Pace, Interlagos, quando pilotava pequenos ciclomotores.

De uma a outra categoria, ele chegou até as majestosas 500 cc. Passou por todos os tipos de máquinas, retas e curvas, acelerando motores de dois e depois quatro tempos.

O começo

No parquinho de diversões chamado Interlagos o garoto Alexandre com seu tio Aurélio (foto: arquivo pessoal)O ano era 1978. O tio de Alexandre, Aurélio Vasconcelos de Barros, 67 anos, comerciante de carnes, e seu pai, Antonio Coelho de Barros, 68 anos, também do ramo, corriam de bicicleta pela Caloi.

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Um belo dia, os dois estavam numa competição de ciclismo de longa distância, que ia de São Paulo até Angra dos Reis. Haviam parado para um descanso em Ubatuba.

Coelho se recorda:

– Eu estava com o pessoal, com as equipes, todos parados num ponto de descanso, quando surgiu um comentário. Nas provas de ciclomotor, que estavam começando a ser disputadas em Interlagos, as Mobylette Caloi sempre chegavam atrás das austríacas Puch e das concorrentes nacionais Monark.

Segundo Coelho, isso chateava o dono da Caloi, Bruno Caloi.

– O piloto da Mobylette era pesado demais – lembra. “Então eu sugeri brincando que meu filho, o Alexandrinho, com sete anos de idade, era bem leve. Ele bem que poderia experimentar a Mobyllete em Interlagos.

A idéia ficou no ar. Um dia, ainda em 1978, durante um treino em Interlagos orquestrado pelo Centauro Motor Clube, tradicional motoclube responsável pelas provas de motovelocidade, Coelho e Aurélio encostaram as bicicletas num canto e foram buscar o menino Alexandre na escola.

– Levei o Alexandre até Interlagos. Ele montou numa Mobylette. Saiu acelerando e rodou todo o antigo anel externo – conta o pai.

O pessoal da Caloi gostou do que viu. A partir daí, Alexandre Barros, um garoto miudinho, peso pena, foi “escalado” para correr no campeonato de ciclos.

Já no domingo seguinte, venceu.

Bruno Caloi ficou contente. O pessoal do Centauro também.

– Alexandre correu mais três provas ainda em 1978 e ganhou todas.
Depois, ganhou todas as provas durante os três anos seguintes na categoria de ciclos – lembra Coelho.

Um detalhe: na época, o pequeno Alex montava no ciclo, era empurrado pelo pai ou o tio, largava e acelerava em Interlagos do início ao fim das provas sem poder parar – simplesmente porque não alcançava os pés no chão!

Pulando de categorias

Aos 7 Alex já tinha pose e cara de campeão (foto: arquivo pessoal)O piloto foi em frente.
Depois de seguir três anos vencendo com os ciclos, aprendendo a fazer tomadas de curvas e ultrapassagens, enveredou por categorias e motocicletas cada vez mais rápidas.

Algumas máquinas foram construídas especialmente para ele, devido a seu ainda pequeno tamanho, pelo lendário preparador Gualtiero.

Alexandre Barros cresceu. Tornou-se um adolescente. E seguiu, no Brasil e no exterior, disputando várias campeonatos, sempre alternadamente.
De 1978 até o fim de sua carreira, em 2007, passou pelas categorias de ciclomotores, depois 50 cc, 80cc, 125cc, 250cc e 500cc.

No vai-e-vem veloz , em 25 anos pilotou máquinas que levavam todo tipo de marcas estampadas no tanque — das nacionais Agrale-Cagiva adaptadas até as Honda, Yamaha, Derbi e Suzuki, de equipes particulares ou oficiais de fábrica.

Algumas de suas motos foram literalmente construídas ou preparadas e adaptadas em garagens paulistanas. Muitos desses preparos foram acompanhados por este repórter, como os de algumas motos de 125 e até mesmo o de uma Yamaha TZ 250.

Uma delas, uma Agrale-Cagiva, foi construída pelo uruguaio Luis Sinkoski, com motor de 200 cc, lá na garagem da revista Motosport, em 1985. Na revista, que ficava ao lado do Parque Ibirapuera, na então tranquila e vazia avenida Juscelino Kubitscheck, Alexandre, seu irmão menor César Barros (que mais mais tarde também se tornaria piloto), o pai e o tio apareciam de vez em quando só pra conversar ou acompanhar o preparo das motos.

A Venemotos

Muita gente influenciou na carreira de Alex. Além do pessoal do Centauro, que tinha o maior carinho por ele, Ryo Harada, 63 anos, criador do site Motonline, também colocou sua mão nessa história.

Em 1988 / 89, anos da desvalorização diária da moeda nacional, maquininhas remarcadoras de preços clicando a todo vapor nos supermercados, dólar estratosférico e grana curta em todos os sentidos, a carreira do piloto parecia estrangulada.

Harada literalmente reabriu as portas internacionais para Alexandre Barros. Ou melhor, escancarou.

Quem se recorda dessa investida é Aurélio:

– O Harada trabalhava na Yamaha do Brasil. Era o homem de marketing da marca. Nesse cargo, ele conheceu bem o Vito Ippolito, pai do André Ippolito, que é o atual presidente da FIM (Federação Internacional de Motociclismo).

Vito Ippolito era dono da Venemotos, representante Yamaha da Venezuela. Só pra recordar: na década de 70, a Venemotos-Yamaha mantinha uma equipe de ponta com suas TZ 350. Tinha como estrela o então campeão mundial Carlos Lavado.

Aurélio continua:

– Em 1988 procurávamos uma equipe pra bancar o Alex no Mundial. Então Harada nos apresentou ao André Ippolito, filho do Vito, já falecido. Ele era o cara!

Sr. Coelho (pai de Alex), Bruno (sócio do Motonline), Alex Barros e Harada (foto: Tércio) Pra entrar na equipe Venemotos e correr uma temporada no Mundial, houve uma reunião de família. O pai, o tio, o piloto e seus patrocinadores precisavam desembolsar 150 mil dólares – que não tinham.

Harada então levou o trio até André Ippolito.

– Ele fez o ‘homem’ chorar no sofá quando começou a contar histórias de seu pai, o velho Vito, que havia conhecido muito bem nos anos 70!

O resultado desse encontro pessoal e lacrimejante é que André Ippolito sacou o talão de cheques, passou a mão no telefone e deu todo o apoio possível pra que Alex continuasse correndo o Mundial através de outra marca arrumada para a ocasião – a italiana Cagiva.

– Cada um teve sua parte em todas as etapas de minha carreira. São muitas histórias e pessoas. Mas nessa, particularmente, o Harada é que deu o empurrão – confirma Alexandre, quando perguntado sobre essa época.

Vai daí que…

A partir de então, o piloto amadureceu. Melhorou o físico e tornou-se um verdadeiro profissional nos circuitos internacionais.

Mais tarde, já morando na Espanha, passou por várias escuderias. Na Lucky-Strike Suzuki correu ao lado de Kewin Schwantz, que foi campeão mundial de 500cc, tocou máquinas de equipes privadas da Honda acelerando as venenosas HRC 500, motos da Yamaha-Gauloises, equipe francesa, e times menores, mas muitos expressivos, como a Klaffi Honda .

Em 2007, Alex correu sua última temporada, acelerando uma venenosa e bela máquina italiana Ducati.

Fora das pistas, ele passou a investir em lojas e negócios imobiliários.

Mas a adrenalina de tantos milhares de curvas e retas ficou cravada nas veias. Alex Barros nunca, nunca largou das motos. E sua história continua viva e ao alcance de nós, motociclistas e amantes apaixonados da bela arte da motovelocidade.

Uma escola de pilotagem

Alexandre Barros hoje é casado, mas não é barrigudo. Pai de um simpático trio, formado por duas garotas, Marina, de 19 anos, Yasmim, 15, e pelo Lucas de Barros, de 14, ele não pendurou seu macacão.

Ops! Pendurou não é bem a palavra!

Na verdade, Alex apenas ‘dependurou’ o macacão bem atrás de sua mesa de trabalho, no escritório das “Organizações Alex Barros” (coisa de empresário de expressão!).

Há alguns anos, ainda quando corria, o piloto começou a comercializar câmeras, componentes eletrônicos e equipamentos para pilotos. Um aqui, outro ali.
Depois pulou pra acessórios e roupas esportivas para motociclistas.
Desembocou numa grife de sapatos infantis (!) que levam seu nome, e de cuja criação e produção cuida pessoalmente. Também criou a marca Four, focada em motos e afins.

Nos últimos meses, o empresário Alex larga seu computador, a mesa, traja o macacão e vai acelerar nas pistas. Ele aproveita toda a sua experiência – e seu nome – para fazer dinheiro. Faz como fizeram, antes dele, Emerson Fittipaldi e Pelé, entre muitos outros esportistas “Made in Brazil” consagrados internacionalmente.

Alex Barros Riding School (foto: divulgação)Em São Paulo, Alex fundou a escola de pilotagem “Alex Barros Riding School”, que tem o patrocínio da BMW. A escola tem o modelo esportivo BMW S 1000RR como moto oficial. Lá, todo mundo usa essa deliciosa máquina.

– Ao mesmo tempo em que incentivo o aparecimento de novos pilotos brasileiros de velocidade, ensino a arte de acelerar nas pistas. Mostro pros meus alunos a brutal diferença que existe entre os circuitos de velocidade, com seu asfalto delicioso, sem tráfego ou pedestres, e as ruas e as estradas – ressalta.

Graças à escola, algumas dezenas de motociclistas que hoje preenchem um cheque, tiram uma Ninja, CBR, Fazer, GSX, Ducati, BMW etc e tal de uma loja e saem que nem suicidas a mais de 200 km/h pelas rodovias – colocando em risco suas vidas e a de outras pessoas – podem aprender a apreciar melhor as possibilidades e os limites dessas fabulosas supermáquinas. E curtir nos lugares certos – as pistas – uma tocada radical.

A escola é dividida por módulos. Eles vão do básico (denominado Alumínio), intermediário (Carbono) até o avançado (Titânio).

– Os nomes são os dos três materiais mais nobres aplicados na construção das motos de competição – explica o piloto.

Os módulos são abertos desde aos alunos adolescentes até os motociclistas tipo sênior, que tem 50 anos de idade. As aulas contam com o suporte de seis instrutores, (inclusive Alexandre), ambulâncias, pessoal médico, de resgaste a postos na pista, mecânicos e serviços conveniados, como de hospitais, alimentação, adequação e preparo das motos, além de equipe preparada para uma eventual manutenção das máquinas durante o curso.

O perfil dos alunos que podem se inscrever abrange desde os novatos de carta, totalmente inexperientes em pilotagem esportiva e pilotagem de estradas até os mais radicais, que já pilotam suas motos de uma maneira mais esportiva há alguns anos. Todos aprendem – ou reaprendem – a ter intimidade com uma motocicleta em todos os seus sentidos e comportamentos.

– Os alunos podem ser amadores ou profissionais das pistas e do uso de motocicletas – explica o piloto que virou instrutor.

Alexandre diz que em tudo o que faz se preocupa muito com a qualidade… e isso não é diferente quando ensina a pilotagem correta para a estrada ou as pistas.

Ao final dos cursos, os alunos ganham índices de aprovação. Segundo o campeão, o curso é “muito focado” individualmente, e as vagas por turma são sempre limitadas para que seja obtido o melhor índice de rendimento.

Os preços vão de R$ 2.900,00 até R$ 4.500,00. O apoio de todo o curso é dado pela BMW, marca que o piloto, por incrível que pareça, não conhecia, mas que o encantou.

– Estou pensando seriamente em comprar uma pro meu uso! – revela.

Como o Alex Barros piloto, o Alexandre Barros empresário quer acelerar mais. E nos revelou um projeto que ainda está no papel, mas pode rolar ainda este ano: a criação de uma prova ou um campeonato de Supermoto.

– Quero fazer um campeonato de nível amador, pra esses pilotos que estamos formando na escola, mas a partir daí criar algo profissional. Por que não? – projeta.

Enfim, esse ainda é o Alexandre Barros. Que, como vemos, não parou de acelerar.

Serviço

As aulas da “Alexandre Barros Riding School” devem ser realizadas durante todo o ano. Maiores informações podem ser obtidas no site www.alexbarros.com.br ou através do e-mail [email protected].

Obs.: Para facilitar a discussão sobre esse assunto, além da área de comentários abaixo, criamos um tópico no fórum para os motonliners que preferem este formato. Clique aqui para acessar o tópico.