De uns anos pra cá os motociclistas passaram a conviver com limitações impostas pelas mais diversas organizações quanto à emissão de poluentes, ruídos sonoros, etc. Nada mais justo, afinal todos vivemos em comunidade e devemos nos adequar a elas. O problema é que os fabricantes de motocicletas foram obrigados a se adequar a essas regras com produtos que haviam sido projetados anos atrás, com leis mais livres. O resultado são motos re-adaptadas com evidentes gargalos no sistema de admissão (vide os carburadores eletrônicos encontrados em certas motos) ou com escapamentos restritivos usando catalisadores mal projetados, ou mesmo interferências na sonda lambda devido à injeção de ar fresco no escape (vide sistema PAIR, da Suzuki) entre outras barbaridades. A Harley Davidson é um caso típico, desde 2006 que os modelos Harley refrigerados a ar praticamente precisam ser ajustados pelo proprietário assim que saem das lojas para ter o desempenho e o som característico da marca, uma vez que para passar na legislação vigente essas motos foram mutiladas em vários aspectos importantes, seus motores esquentam demais, rendem pouco e o som característico dos escapes da marca foi embora…
Vamos conviver com esse cenário por mais alguns anos, até que os projetos das motos novas que nascem atendendo as especificações atuais cheguem ao mercado. A Suzuki Bandit é um desses modelos de projeto “antigo” que vem sendo adaptado a nova legislação. É uma ótima moto, sem dúvida, mas ganha outra vida quando se faz pequenas modificações, como quando se desliga a sonda lambda na entrada da EFI (fio #23 no conector pequeno) ou se troca o imenso escapamento original do tipo “bazuca” por um alternativo de boa qualidade. E foi nessa hora que eu conheci a Daut Race, uma empresa de escapamentos bem artesanal, mas com grande experiência de mercado.
Mas antes, uma breve história: Comecei a estudar o mercado brasileiro de escapamentos alternativos para motos há cerca de 6 meses. Conversei com os órgãos legisladores, com a polícia que faz a repressão nas vias públicas, com proprietários de motos equipadas com esses escapamentos, com os engenheiros das fábricas que os produzem e assim reuni um conjunto de informações que mostram um conflito de interesses difícil de equacionar. Não vou aqui aborrecer meus leitores com leis, regulamentos e códigos, mas vale um resumo: a lei determina limites para a emissão de ruídos sonoros no escape, porém não especifica como deve ser medido. A Polícia não tem instrumentos para verificar isso em campo (nas vias públicas) por isso decide multar ou apreender a moto com base na percepção pessoal do policial (seu humor), que é muito influenciada pelo comportamento do motociclista em questão (alguns gostam de dar “esticadas” ou acelerar até cortar o giro do motor, uma algazarra só), ou seja, se está incomodando, “prende” a moto do indivíduo.
Vários proprietários dizem que adoram o som alto de seus escapes alternativos por que faz parte do “show” urbano, porém reclamam que na estrada, em velocidades constantes, o ruído incomoda muito a ponto de alguns usarem tampões de ouvido nas viagens. Os fabricantes de escapes por sua vez estão cientes da legislação, mas produzem escapes livres chamados de “esportivos” por que é o que o mercado consumidor compra. Alguns fabricantes vendem (ou dão de graça, junto com o kit) pequenos adaptadores que visam reduzir o ruído sonoro para efeitos legais. Por incrível que pareça, isso também acontece com os escapes importados, não é uma exclusividade do mercado brasileiro.
Então temos de um lado a lei falha, os policiais despreparados e mal equipados para cumprir a tal lei, um grupo de consumidores que quer barulho na rua e silêncio na estrada simultaneamente, e de outro lado temos fabricantes que lutam com custos para chegar a um preço que esse consumidor está disposto a pagar por um produto que talvez não passe em uma inspeção regulamentar.
E nesses custos estão envolvidos os processos de produção, o tipo de lã abafadora de ruídos, o material que é usado nos componentes internos, a qualidade da cromagem ou pintura dos elementos, as margens do revendedor, os impostos, e assim por diante. Em mais uma pesquisa de campo, na região da Rua General Osório em SP, fui avaliar algumas ponteiras mais populares e me surpreendi pela baixa qualidade de muitas delas. Soldas mal feitas, escolha errada de materiais na construção dessas ponteiras como nos modelos de fibra de carbono que descascam ou amarelam com o tempo, ou ainda aqueles que perdem os miolos em menos de um ano porque não suportam a corrosão natural dos gases do motor. Sem contar com a baixíssima qualidade dos cromados de algumas marcas, que mudam de cor em semanas, ou dos tubos de junção (coletor intermediário que liga a ponteira ao escape da moto) que apresentam soldas tão mal feitas que resíduos quase soltos de solda no interior podem causar até obstruções sérias, além de muitas outras falhas visíveis.
Nos modelos importados a qualidade é superior a média nacional, sem dúvida afinal o mercado global é muito competitivo, mas o preço salta para a casa dos 2 mil reais, praticamente 4 ou 5 vezes mais caro que um “genérico” nacional, ou 3 vezes mais caro do que um nacional de boa qualidade, que apresenta uma qualidade similar ao importado. Complicou, não é mesmo? E olha que nem vou entrar aqui na discussão se é melhor usar lã de rocha (material com baixa resistência mecânica e baixo isolamento acústico, porém barato) ou lã de vidro (melhor resistência, melhor acústica, mas relativamente caro e menos ecológico). O fato é que eu estava bastante desapontado porque não conseguia encontrar um produto com boa qualidade e com um nível de ruído “dentro da lei” sob qualquer perspectiva de avaliação, até que eu encontrei a Daut Race.
Eduardo B. de Freitas e Márcia Daut “tocam” a Daut Race , Eduardo é figura conhecida nesse mercado, foi o responsável pelo desenvolvimento e fabricação de escapes de uma marca bastante conhecida por 14 anos até que decidiu produzir seus produtos por conta própria. Márcia, sua esposa, é o contato comercial e também veio desse fabricante. Ela participa ativamente nos diversos fóruns de motos onde anuncia seus produtos e cuida da venda direta ao consumidor. Sim, direto ao consumidor. A Daut Race não trabalha com revendas, e a razão disso é simples: o produto é especial, feito com materiais mais caros, produzido em pequena escala e para manter o custo competitivo foi preciso partir para a venda direta eliminando intermediários, a margem do revendedor e a cascata de impostos. E a escolha foi acertada, porque o preço final varia de 400 a 550 reais dependendo do modelo, bastante competitivo em relação ao que se encontra no mercado.
Mas o que chamou minha atenção para a Daut Race foi a possibilidade de fazer uma encomenda, um produto sob medida. Eu queria um escape “esportivo”, porém silencioso. Queria um “tom grave”, mas um volume sonoro baixo. Eduardo disse que um abafamento extra, similar ao do escape original (uma câmara com dutos onde os gases circulam), porém bem curto poderia resolver, então a questão era embutir essa câmara extra dentro do escape tri-oval que eles produziam. E assim foi feito. O preço do escape modificado saltou dos 532,00 reais para 856,00 reais com a câmara extra, e o prazo de entrega de 1 dia foi para 20 dias. Mas valeu a pena esperar, ficou absolutamente perfeito!
O modelo escolhido foi o de 41cm (o único que cabe a câmara extra) com acabamento anodizado em titânio (ficou perfeito na minha moto, que é cinza), o kit chegou com todas as peças, inclusive a chave allen para apertar a braçadeira e uma bisnaga de silicone para usar nas junções durante a montagem. Remover a “bazuca” original da Bandit foi rápido, dois parafusos e o conjunto saiu inteiro, fácil, e em menos de 15 minutos o escape Daut Race já estava no lugar. O primeiro teste na garagem mostrou que o tom estava grave como eu queria, mas não incomodava. O teste em estrada comprovou o acerto do Eduardo no projeto dessa câmara extra. Acima de 100km/h praticamente não se nota diferenças entre o escape original e esse especial da Daut Race, ficou absolutamente confortável para viagens longas. Mas trafegando na cidade, em regimes mais baixos, o som grave está lá presente. Não faz escândalo como outros escapes, mas inspira respeito. Não terei problema com os homens da lei.
O tubo externo é de alumínio anodizado, o miolo é de aço inox e a lã de vidro importada vem dentro de um saco plástico que se queima na primeira utilização e tem expectativa de vida útil em torno de 60 mil km, podendo ser substituída depois. As braçadeiras são todas de inox, o coletor intermediário é de aço carbono cromado, aliás, muito bem cromado. As peças encaixam com perfeição, sem arranhar, sob medida mesmo. No meu modelo especial, a câmara com as galerias foram feitas com aço galvanizado, resistente à corrosão. O escape Daut Race tradicional de 41cm pesa 3.8kg enquanto esse meu “especial” ficou com quase 5kg, ambos bem mais leves que o original da Bandit cujo sistema inteiro, completo, pesa 15kg incluindo catalisador, coletores primários, etc. Gostei mesmo do produto, e todos que viram e ouviram a nova ponteira aprovaram o resultado.
Como é tradicional quando se apresenta escapes na internet, fiz um pequeno vídeo de garagem com o primeiro teste. Quem quiser comparar com o original, o vídeo sobre o FI Tuner Pro feito com a mesma câmera, o mesmo microfone e no mesmo local mostra como era o som original (embora o escape não apareça). É bastante perceptível como o som ficou mais encorpado sem aumentar de volume.
Daut Race
FI Tuner Pro
[video:http://www.youtube.com/watch?v=M9IAaCiUtTE]
Agradeço a Márcia e ao Eduardo da Daut Race – www.dautrace.com.br – pela atenção e pelo cuidado com que esse modelo foi desenvolvido. Ficou ótimo e atendeu todas as minhas expectativas!
Fotos: Paulo Couto e divulgação Daut Race.
Leia também as matérias anteriores:
- GIPro w/ATRE – Sabe o que é isso ? Deveria saber
- FI Tuner Pro – Controle a EFI da sua Suzuki
Obs.: Para facilitar a discussão sobre esse assunto, além da área de comentários abaixo, criamos um tópico no fórum para os motonliners que preferem este formato. Clique aqui para acessar o tópico.