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Há alguns dias entrei em um blog da web e uma matéria me chamou a atenção. O assunto era sobre os “guard rails assassinos” que são utilizados em nossas rodovias. No texto, o blogueiro contava em detalhes tétricos de como assistiu de perto ao acidente que tirou a vida de um irmão motociclista que viajava poucos metros à sua frente.

Segundo o assustador relato, o rapaz derrapou em uma curva, caindo e batendo em um guard rail de concreto, e depois disso foi deslizando no acostamento da via até que acabou o guard rail de concreto e começou o guard rail metálico. Quando o corpo do motociclista atingiu o guard rail metálico foi imediatamente cortado ao meio, causando sua morte instantânea.

GuardRail_Simula_01

Essa SIMULAÇÃO feita por uma ONG italiana que luta pela segurança dos motociclistas mostra exatamente o que acontece quando um corpo humano se choca com o atual modelo de guard rails italianos e brasileiros

Fiquei tão chocado com o que li que decidi fazer uma pesquisa na internet para descobrir o mecanismo da coisa; como é que o guard rail metálico mata, e mais ainda, quem é o projetista autor dessas verdadeiras guilhotinas abundantes em nossas estradas, prontas para ceifar mais vidas de motociclistas. E o resultado da pesquisa me surpreendeu.

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Até então eu creditava essa irresponsabilidade ao Denatran e ao Contran, afinal são eles que regulam o trânsito em nossas estradas e definem como é que a sinalização e proteção aos viajantes deve ser feita, qual o desenho do projeto, quais materiais devem ser utilizados, etc. Entretanto, olhando o CTB (Código de  Trânsito Brasileiro) vi que nele apenas são citadas as defensas (metálicas e de concreto) mas é bem tácito quando diz que as especificações são expedidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), nesse caso específico dos guard rails, através da NBR 6971-2012.

Na foto 1, o modelo atualmente em uso nas estradas italianas e na foto 2 o modelo proposto pela ONG

Na foto 1, o modelo atualmente em uso nas estradas italianas e na foto 2 o modelo proposto pela ONG, que também seria ótimo nas estradas brasileiras

Claro que esses dois órgãos (Denatran e Contran) ainda têm muita culpa. Em primeiro lugar por não reconhecerem o crescimento exponencial de motocicletas em circulação, e em segundo, pela inatividade em não fazer recomendações expressas à ABNT para que implantasse mudanças radicais nas especificações, não só na construção de guard rails, mas também em vários outros itens, como a tinta utilizada para pintura de sinalização horizontal, os tachões assassinos que são instalados indiscriminadamente em ruas e estradas, os quebra-molas de altura exagerada, a criação de faixas exclusivas para motos e tantos outros temas que deveriam ser revistos e adequados para dar segurança aos motociclistas que circulam diariamente em nossas cidades e aos milhares de viajantes em duas rodas que vemos nas estradas, principalmente nos feriados prolongados.

Esse é um problema que não é só nosso. Outro país que enfrenta o mesmo problema, mas declarou guerra em prol da vida, é a Itália. Acima você viu simulações e propostas publicadas em sites italianos.

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Conheça as especificações dos guard rails recomendadas pela ABNT:

Guard rail ou barreira de concreto

Esse modelo de guard rail não apresenta elementos que provoquem danos sérios ao motociclista

Esse modelo de guard rail não apresenta elementos que provoquem danos sérios ao motociclista, mas a inclinação na base da barreira faz com que um corpo em movimento seja projetado por cima dela

Esse modelo de guard rail oferece grande proteção a um corpo humano em movimento. Normalmente o impacto nunca é frontal, portanto, ele faz com que o corpo humano continue deslizando ou se projete por cima dele por causa da inclinação em sua base, que funciona como uma rampa de lançamento. Com sorte o motociclista ao passar sobre, atingirá um gramado ou arbustos, minimizando os danos físicos.

Guard rail (ou defensa) metálico

O espaço entre a lâmina e o chão permite que o motociclista atinja a estrutura do guard rail

O espaço entre a lâmina e o chão permite que o motociclista atinja a estrutura do guard rail

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Este modelo de uso mais abundante é o que chamamos de “Guard Rail Assassino”. Ao escorregar no acostamento e sofrer um impacto com essa estrutura, o corpo do motociclista passará sob a lâmina e atingirá a base que está fixada firmemente na terra – foi projetada para suportar o impacto de carros. Esse é o primeiro momento em que o corpo humano poderá ser seccionado ou sofrer fraturas fatais. Depois do primeiro impacto, o corpo em movimento tenderá a ser projetado para cima, atingindo a lâmina, que atuará como uma guilhotina, com danos fatais ou amputando membros.

O prolongamento da lâmina até perto do solo evitaria grande parte do risco de vida em acidentes de moto

O prolongamento da lâmina até perto do solo evitaria em grande parte o risco de vida nos acidentes de moto

Analisando atentamente a estrutura do guard rail metálico dá para imaginar o quão perigosa é para nós motociclistas. Não temos a menor chance de sairmos ilesos de um impacto com essa “máquina de matar”, mesmo que o impacto ocorra a baixa velocidade.

Continuando nossa análise da estrutura, podemos ver como é fácil transformá-la em um instrumento de proteção que realmente proteja. Bastaria especificar a lâmina até mais próximo do chão, em uma medida que impeça que um corpo humano passe sob ela. O corpo em movimento continuaria escorregando no piso e as lâminas mais próximas do solo minimizariam os danos físicos, deixando de ser cortante e também evitaria a projeção do corpo humano sobre ele. Solução fácil e barata.

Como falamos anteriormente, cabe à ABNT criar as especificações desse dispositivo. Portanto, CONTRAN e DENATRAN, como órgãos responsáveis pelo nosso trânsito e pela vida das pessoas que se deslocam por nossas ruas e estradas, quer seja de moto ou de carro, é necessário que se faça uma solicitação à ABNT para que eles, assessorados por especialistas em motos e motociclismo, revisem com urgência as especificações do dispositivo em questão, para que sejam aplicadas quando da construção de novas estradas ou na reforma das já existentes.

Essa é uma luta que deve ser compartilhada por todos os motociclistas brasileiros que, se unidos, verão seus pleitos se tornarem realidade. Com soluções simples muitas vidas serão poupadas.

Separador_motos

Mário Sérgio Figueredo
Motociclista apaixonado por motos há 42 anos, começou a escrever sobre motos como hobby em um blog para tentar transmitir à nova geração a experiência acumulada durante esses tantos anos. Sua primeira moto foi a primeira fabricada no Brasil, a Yamaha RD 50.