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Cada vez mais se escuta esta expressão – mobilidade urbana. O motivo é bem simples e todos nós conhecemos, pois estamos caminhando rapidamente para uma situação de caos no trânsito das grandes cidades, caso não forem tomadas urgentes medidas preventivas. Trata-se da superlotação de veículos nas áreas centrais e adjacências das pequenas e médias cidades, principalmente nos horários de rush, quando o trânsito há o acúmulo de pessoas em veículos que se deslocam simultaneamente para ir ou voltar do trabalho.

Pequeno tricíclo fabricado pela Honda no Japão - pode ter motor elétrico ou à gasolina, similar ao da PCX

Pequeno tricíclo fabricado pela Honda no Japão – pode ter motor elétrico ou à gasolina, similar ao do Lead ou do PCX

Como fator complicador, lamentavelmente copiamos a nociva cultura norte-americana que prega o conceito de que quanto maior o veículo, maior é o status de quem o dirige. Lá isso não tem efeito negativo porque as ruas, estradas e estacionamentos foram projetados dentro dessa cultura.

Enquanto isso aqui no Brasil, onde as ruas e avenidas são subdimensionadas e mal projetadas, isso cria um efeito devastador – uma grande SUV ou picape chega a ocupar o espaço de dois veículos pequenos, e na maioria das vezes, são ocupadas por apenas uma pessoa.

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Nossas ruas estão infestadas de "dinossauros" de quatro rodas que normalmente transportam apenas uma pessoa

Nossas ruas estão infestadas de “dinossauros” de quatro rodas que normalmente transportam apenas uma pessoa

Por conta disso estamos a um passo de tornar praticamente impossível deslocar-se de automóvel nas áreas centrais das cidades em determinadas horas, como já acontece com a capital paulistana.

Esse problema não é exclusivamente nosso; outras grandes cidades mundiais enfrentam o mesmo problema e foram obrigadas a tomar medidas corretivas, como é o caso de Londres, que cobra pedágio de quem quiser transitar no centro da cidade ou a Itália e alguns países asiáticos, que oferecem incentivos para quem usa veículos de duas rodas, principalmente scooters. Outras grandes cidades incentivam o uso de bicicletas, oferecendo ciclovias seguras e de qualidade, bicicletários públicos e infraestrutura adequada para quem opta por pedalar ao invés de acelerar.

Alguns scooters oferecem alguma proteção contra intempéries; à esquerda o modelo C1 desenvolvido pela BMW e à direita um protótipo desenvolvido na Alemanha que tem compartimento para o transporte de um passageiro

Alguns scooters oferecem alguma proteção contra intempéries; à esquerda o modelo C1 desenvolvido pela BMW e à direita um protótipo desenvolvido na Alemanha que tem compartimento para o transporte de um passageiro

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Nosso péssimo sistema de transporte público não mostra sinais de adequar-se à realidade e à necessidade da população na velocidade que o assunto requer, o que quer dizer que continuaremos vivendo esse drama por bastante tempo.

O Benelli Adiva inova com uma capota conversível, que é guardada no porta-malas quando não está em uso

O scooter Benelli Adiva inova com uma capota conversível, que é guardada no porta-malas quando não está em uso

Então talvez seja a hora de nossos urbanistas começarem a pensar em soluções de mobilidade urbana que façam frente à essa crescente demanda da população por veículos individuais. Se não é possível aumentar o espaço para circulação dos veículos, uma das soluções então seria diminuir o tamanho dos veículos, impondo restrições para a circulação de veículos de passeio de grandes dimensões e criando incentivos para quem usa veículos que ocupem pequenos espaços nas vias públicas e estacionamentos. Ou seja, o IPVA seria definido pelo tamanho do veículo: quanto maior o veículo, mais caro o imposto. E em complemento, a recompensa para quem optar em usar veículos pequenos seria a isenção total desse imposto.

O Pompéu é um protótipo de triciclo que está sendo desenvolvido por estudantes de engenharia da UFPR

O Pompéu é um protótipo de triciclo que está sendo desenvolvido por estudantes de engenharia da UFPR

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Essa idéia não é de hoje. Quem não se lembra da Romiseta ou o Messerschimitt, fabricados nos anos 1950, criados como solução de baixo custo para fazer frente à escassez de dinheiro no pós-guerra.

Romiseta e Messerschimitt, fabricados nos anos 1950

Romiseta e Messerschimitt, fabricados nos anos 1950

Algumas soluções ainda estão em uso, como é o caso das motos, bicicletas elétricas e pequenos veículos, com motores de potência reduzida, como o recente quadriciclo elétrico Twizy. As motos, scooters e e-bikes ainda não ocupam o seu merecido lugar de destaque como solução de mobilidade urbana devido à falta de proteção contra intempéries, mas em outros países já existem veículos com a capacidade de proteger – mesmo que parcialmente – o piloto contra a chuva e o frio e, se importadas, provocariam um grande impacto positivo no nosso trânsito e, principalmente, dariam início a uma necessária mudança cultural, quando passaríamos a avaliar nossos veículos pela sua praticidade, utilidade e versatilidade, ao invés de tê-los como símbolo de status.

Renault Twizy, ainda importado mas com chances de ser fabricado no Brasil - divulgação

Renault Twizy – conforto para duas pessoas e pequeno espaço para bagagem

Recentemente a Renault lançou o Twizy, um pequeno quadriciclo de propulsão elétrica – mas que poderia também ser facilmente adaptado com um pequeno motor a gasolina.

Essas mudanças não vão acontecer da noite para o dia. Antes que vejamos esses mini-carros ou scooters circulando por nossas ruas e avenidas, será necessário que ocorra uma profunda revolução cultural na forma como vemos o veículo que temos em nossas garagens.

Capacidade técnica para desenvolver produtos nessa linha de pensamento as grandes montadoras têm de sobra. Teríamos um enorme mercado de pequenos veículos ou scooters com grande tecnologia e segurança a ser explorado. Com isso baixariam os preços, o que incentivaria a população a aderir a essa necessária mudança de hábitos.

Acredito que isso vai acontecer muito mais breve do que imaginamos pois não estamos mais suportando o transito insano a que somos submetidos diariamente quando saímos com nossos meios de transporte particulares, que há muito deixaram de ser apenas um luxo e transformaram-se em real necessidade.

A hora de começarmos a pensar nisso é agora. Não podemos deixar para depois, quando pode ser tarde demais para alguma medida planejada.

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Mário Sérgio Figueredo
Motociclista apaixonado por motos há 42 anos, começou a escrever sobre motos como hobby em um blog para tentar transmitir à nova geração a experiência acumulada durante esses tantos anos. Sua primeira moto foi a primeira fabricada no Brasil, a Yamaha RD 50.