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Educação é a opção

Passado o clima de euforia do Salão Duas Rodas faltaram no maior evento do segmento iniciativas voltadas ao tema Educação e Segurança no Trânsito. Nos últimos meses houve um verdadeiro bombardeio a motocicletas e motociclistas, praticamente demonizando o meio e o usuário. Outro dia ouvi uma estatística dentro do Jornal da CBN: três motociclistas morrem no trânsito de São Paulo a cada dois dias.

A mesma rádio conta o número de acidentes que envolvem motocicletas e divulga o ranking durante a programação. Quando o presidente Lula sancionou a lei que regulamenta as profissões de mototaxista e de motofretista (a lei fala em motoboy – Lei Nº 12.009, de 29 de julho de 2009), diversas reportagens destacaram o custo ao sistema de saúde pública dos traumas sofridos por motociclistas.

O jornal Folha de São Paulo publicou editorial, assinado por Rogério Gentile, cujo título resumiu o conteúdo: – Morte em Duas Rodas -. A impressão é que se não acontecessem os acidentes envolvendo motocicletas, o caótico trânsito de São Paulo seria melhor. Presumo que o mesmo acontece em outras grandes cidades brasileiras. No entanto, sabe-se que não é assim.

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É evidente que muitos motociclistas conduzem suas motocicletas de forma agressiva e colocam em risco suas vidas e a de outras pessoas. A estes deve ser dado o mesmo tratamento previsto em lei que se dá a qualquer outro cidadão que transforma seu veiculo em uma arma, tenha quantas rodas tiver. Por tudo isso, era de se esperar que o Salão Duas Rodas mostrasse algo mais do que algumas ações de empresas isoladas e alguns folhetos oficiais em balcões esquecidos em alguns estandes.

Nenhuma ação nova e realmente importante foi feita para mostrar que motocicletas e motociclistas não são uma estatística grotesca e de mau gosto que atrapalha o dia a dia de quem quer andar de automóvel. Os veículos de duas rodas, motorizados ou não, são parte da realidade das grandes cidades e as pessoas que os utilizam o fazem por entenderem que é esta a melhor opção para se locomover. Já que é assim, ainda não inventaram outra solução: educação.

Apesar de ter uma frota circulante de motocicletas muito menor que o Brasil, nos Estados Unidos existe desde 1973 a Motorcycle Safety Foundation – MSF (Fundação para a Segurança das Motocicletas), cujo objetivo é tornar as ruas e estradas mais seguras para as motocicletas. Todo tipo de iniciativa neste sentido é tomada pela MSF: cursos permanentes para motociclistas, instrutores de moto escolas, motoristas e qualquer outro público que a procure, além de ações em escolas e universidades.

Por aqui as únicas iniciativas que se vê são no sentido de restringir ou proibir. Para seguir um bom exemplo, pode-se fazer como a MSF norte-americana: começar educando a maioria que causa congestionamentos: motoristas de automóveis. É preciso lembrar que praticamente todo motociclista é também um motorista, mas a maioria dos motoristas não é motociclista. Por isso, passar aos motoristas informações sobre o funcionamento, segurança ativa e agilidade de uma motocicleta é o primeiro passo.

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Não se trata de procurar culpados ou querer dizer quem está certo ou errado no trânsito. A coexistência é inevitável e há dois caminhos: pela força, pois a disputa por espaço nas ruas é cada dia mais acirrada, ou através da interação e respeito mútuo. A primeira opção já é conhecida e sabemos que o resultado não é bom. Já passou da hora de tentar outra opção.

Sidney Levy é jornalista especializado nas áreas de automóveis e motocicletas há 23 anos