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Um dos assuntos mais abordados nos e-mail que recebemos mensalmente no Diário de Motocicleta é a questão que trata sobre a elaboração de roteiros de viagem.

Os mais experientes possuem seus esquemas e manias, os mais novatos geralmente não sabem por onde começar e em grande parte, são para estes que damos orientações.

Saída do Rodoanel, São Paulo, SP

Saída do Rodoanel, São Paulo, SP

Confesso que me sinto um pouco desconfortável em relacionar “passos”, pois cada um possui um interesse, tem um tipo de pegada na estrada, mas como nos últimos meses, principalmente depois da nossa exposição no Salão Duas Rodas, esse tema aumentou em cerca de 50% na nossa caixa postal, acabei compilando uma série de sugestões visando orientar os aventureiros na elaboração dos seus projetos… mas atento que não se trata de regras… então que fique registrado que a intenção deste artigo é somar idéias e facilitar o caminho que quem sente-se perdido na hora do planejamento ok!

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De vagar se vai ao longe

De vagar se vai ao longe: Machu Picchu

De vagar se vai ao longe: Machu Picchu

Se você gosta de pegar uma estrada no final de semana para almoçar com os amigos, já é o primeiro passo para uma viagem de longa distância e com certeza a consolidação de seu espírito aventureiro.
Mas para tudo na vida necessitamos de experiência.
Da mesma forma que você não será Diretor no seu primeiro emprego, não é prudente se aventurar para muito longe na sua primeira viagem de final de semana ou feriado prolongado.
É preciso criar intimidade com a estrada, conhecer sua moto e os limites de torque e equilíbrio, descobrir da melhor forma os seus próprios limites, para só então voar para longe de casa por muito tempo.

Antes da nossa primeira longa viagem – de São Vicente/SP até Salvador/BA, realizada em MAI/2010 em 24 dias e 5.600 km – já tínhamos rodado muitas cidades do Estado de São Paulo, Rio e Minas, aproveitando feriadões e motocando na maior parte com amigos já mais experientes… só então nos sentimos seguros para sair sozinhos pelo interior de Minas e Bahia para depois descer pelo litoral de volta para casa.

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Moto Turismo foi feito para relaxar

Lago Titicaca na Bolivia

Lago Titicaca na Bolivia

Outro dia vi no Facebook uma frase que dizia o seguinte: “Se o destino for bom, não importa o caminho”!
Como assim?
Um motociclista que não se importa, ou se porta de forma indiferente ao caminho e as paisagens que lhe surgem diante do capacete, está fazendo alguma coisa errada… andar de moto por exemplo.
Eu particularmente acho que o caminho faz parte do destino e não dá para separar uma coisa da outra, senão eu ia de avião.
Cada momento na estrada é complementar o prazer que uma moto aventura pode te proporcionar. Digo “complementar” por que nos roteiros do Diário de Motocicleta” associamos moto, estrada,  história e cultura e é praticamente impossível você nos encontrar passando o dia num boteco tomando cerveja depois de rodar centenas de km distantes de casa.
Para beber com os amigos – o que também faz muito bem – temos inúmeros encontros de Moto Clubes que se reúnem em agendas diárias e são perto de casa… por que diabos eu vou encher a cara na casa do chapéu?
Essa é um ponto de vista meu… não julgo ser certo ou errado, acho apenas que é o ideal para o aproveitamento de uma viagem.

Deixa eu contar uma história rapidinho… há muito tempo atrás viajei com um grupo de amigos para Tiradentes e São João Del Rei – fantástico por sinal – e eu e minha esposa rodamos todas as magníficas igrejas, museus, monumentos históricos, tiramos foto até no túmulo do Tancredo Neves, andamos de trem e por ai foi. Na volta para casa um amigo me pediu às fotos que eu tirei e lhe respondi que faria uma triagem das melhores, pois estas já somavam mais de 1.500 “flashes”… isso causou um espanto neste meu amigo que perguntou por onde eu andei que vi tanta coisa para fotografar! Eu não respondi, sinceramente dei uma risadinha e nem fotos lhe enviei. Enquanto eu conhecia lugares maravilhoso, ele e os demais ficaram na praça da cidade, com as motos estacionadas na frente, tomando cerveja e whisky por 4 dias!
Quem aproveitou mais? É uma questão de ponto de vista!
As fotos, filmagens e lembranças eu ainda carrego comigo e garanto que aquela “pingaiada” já saiu do organismo.

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Deixe o relógio em casa

Igreja Companhia de Jesus, Cuzco, Peru

Igreja Companhia de Jesus, Cuzco, Peru

Novamente, não querendo ditar o certo e o incorreto, mas tenho amigos que pegam estrada e rodam 15 dias em programações que se resumem em motocar 1.000 km, chegar em um hotel, dormir, levantar, rodar mais 1.000 km e quando vê, foi do outro lado do país ou do continente e já está em casa de alma lavada. (?)
No Salão Duas Rodas um motociclista viu nosso banner com a foto da Mão do Deserto e veio conversar com a gente… falou que tinha acabado de fazer o litoral do Chile, da fronteira com o Peru até Valpariso – próximo a Santiago – e em certa altura me perguntou onde era aquela Mão… eu não consegui evitar um passo para trás… – “Você passou por ela” – eu disse! Ele afirmou que era impossível e eu expliquei que saindo de Antofagasta onde ambos nos hospedamos, seguindo para Santiago pela Ruta 5, há cerca de 70 km ele encontraria a Mão do Deserto a sua direita… – “Puxa vida Guga… nesse dia eu rodei 1.300 km, passei batido!”
Nessa pegada, imagino o quanto se passou batido!
Como esse exemplo, o que quero deixar de mensagem é…  vá com calma! Como já disse anteriormente, curta o caminho… a estrada faz parte.
É fato que muitos dispõem de 30 dias de férias e muitas vezes menos que isso, então não tente abraçar o mundo em 10 dias. O amigo da Mão rodou 5.000 km até o Pacífico e entortou o cabo pra não ver nada e dizer “Eu fui”!

Confesso que por ser autônomo, trabalhar com jornalismo e moto turismo, meu tempo é mais flexível e posso me dar ao luxo – me programando – de viajar durante 60 dias, por exemplo.
Fica em partes mais fácil, já que se um problema que é o tempo não existe mais, podemos nos concentrar no próximo problema que é a grana para pagar uma longa viagem, e quanto mais tempo na estrada, mais grana se investe – não uso o termo gastar por que não é um gasto!

Quase sempre tento aplicar essa formula que costumo indicar aos menos experientes que nos procuram pedindo ajuda na criação de roteiros.

INTERESSE = TEMPO x DISTÂNCIA
——————————————–
                  DINHEIRO

Vamos lá…

INTERESSE – sua vontade é ir para praia, campo, deserto, internacional… os amigos do Nordeste sofrem mais com essa definição por estarem na ponta do Brasil e qualquer destino é chão… mas olhando de forma positiva, e tendo tempo… não há posição geográfica melhor.

TEMPO – coloque no papel quanto você tem disponível… são suas férias, é um final de semana ou feriado prolongado? Anote, defina.

DISTÂNCIA – escolhido o interesse, os destinos começam a despontar na sua frente… vá anotando todos que mexem com você.

DINHEIRO – pelos nossos padrões e histórico, rodar no Brasil pode sair por até R$300,00 por dia, enquanto que na América Latina com R$200,00, você é rei e sobra.
Esses valores sofre sensíveis alterações com fatores como viajar sozinho, com a esposa ou com amigos – no quesito estadia, sozinho ou casado a diferença não é muita, mas viajar com amigos onde se pode dividir um quanto por 3 ou 4… muda muito o cenário, tanto quanto se você gosta e tem por hábito acampar… ai nem se argumenta.
Não preciso dizer que o consumo da sua moto vai elevar ou baixar a grana colocada dentro do tanque e que a comida, de todas as despesas, são as menores.
Eu costumo tomar um café da manhã reforçado e sair para estrada… almoçar no meio do caminho me dá sono então é certo que neste dia haverá apenas uma refeição quando chegar numa cidade destino. Ao longo da estrada, bolacha e água me mantém.

Aplicando a formula – Digamos que seu destino (INTERESSE) esteja há cerca de 5.000 km de casa… ou seja,  uma viagem de 10.000 km. Temos por opção rodar cerca de 550 km/dia por que vamos parando ao longo do caminho, filmando, fotografando, admirando a paisagem… dependendo do visual eu sento no acostamento e fico tranquilamente queimando aquela paisagem na retina. Isso me faz rodar 10h por dia sem me cansar e nem cansar minha garupa.

Mão do deserto Antrofagasta, Chile

Mão do deserto Antrofagasta, Chile

Nessa pegada… 10.000 km serão feitos em 18 dias… se eu tenho 30 dias de férias, me sobrou 12 dias para conhecer tanto o meu destino final, como as cidades ao longo do caminho, pois sempre buscamos algo a mais para se fazer que motocar dia e noite por 9 dias direto.
Havendo coisas para se fazer, procuramos ficar um ou dois dias em cada cidade interessante antes de seguir viagem.
Na verdade o Diário de Motocicleta não busca um interesse como destino e sim vários destinos interessantes… e nada melhor que ligar várias cidades interessantes em um único roteiro.
Quando viajamos para Salvador, incluímos Ouro Preto/MG, Porto Seguro e Trancoso/BA, Vitória/ES e Cabo Frio, Rio de Janeiro e Paraty entre outras. Poderíamos ter entortado o cabo e chegado em Salvador em dois ou três dias, mas garanto que assim foi muito melhor.

Esses 10.000 km em 30 dias na América Latina vai lhe custar o investimento de R$6.000,00 se for com a patroa (valor médio) – no Brasil pode chegar até R$9.000,00 neste mesmo padrão e aqui a grana pode fazer você redefinir tudo, então não use caneta, opte para o lápis e borracha, mas não deixe de pegar estrada… lembre-se que a viagem de longa distância está dentro de você e não na alta quantidade de km rodados.

Obs: Para facilitar a discussão sobre esse assunto criamos um espaço no final da página ou no fórum para os motonliners.