Publicidade

No artigo anterior – “Superando-se sobre duas rodas” – mencionei que “…as estradas não acabam nas divisas e em muitos casos, pouco se nota a diferença do asfalto…” e isso pode ser constatado rodando pela América Latina, embora em alguns trechos quase se vê a linha do mapa que divide os países.

Ruta 2 na Bolívia: lindas paisagens em todo o trecho

Ruta 2 na Bolívia: lindas paisagens em todo o trecho

Especialmente em uma viagem pelo Deserto do Atacama, o que o amigo tem que ter em mente é a altitude e as grandes distâncias sem absolutamente nada a não ser os pensamentos livres, a moto e a estrada. Então a motoca preferencialmente tem que ter uma boa autonomia e para tornar mais confortável, injeção eletrônica.

Já mencionamos que qualquer moto leva um motociclista a qualquer lugar, umas com mais conforto e segurança que outras, então convêm não se arriscar muito. O meu risco é viajar sem GPS. Como elaboro os roteiros por longos meses, acabo por decorar as rodovias e nem levo mais os mapas impressos em uma pastinha… o ato de fazer a cola me faz decorar a prova (rs)!

Publicidade
A BR-227, no Paraná: pedágios abundantes e boa conservação

A BR-227, no Paraná: pedágios abundantes e boa conservação

Na dúvida, uma olhadinha no Google Maps e estrada. Ah! Uma observação rápida. O Google Maps em algumas ocasiões, quando a estrada passa por dentro de cidades, informa que não á caminho e oferece rotas alternativas que dão imensas voltas. Então vale a pena ao traçar o roteiro do ponto A ao ponto B – ampliar o mapa e dar uma boa olhada se não há passagens – e sempre há!

Aqui farei um breve resumo sobre as estradas que encontramos na nossa última viagem e caso o amigo queira mais detalhes, no Diário de Motocicleta temos mapas de cada um dos trechos percorridos e relatos mais completos.

Brasil – 13 dias – 2.440 km

Publicidade

SP160 | SP021 | SP280 | SP312 | SP075 | SP270 | SP127 | SP250 | BR476 | PR418 | BR277
PR376 | PR151 | PR340 | PR160 | PR238 | BR487 | PR460 | PR239 | BR369 | PR317
PR364 | PR182 | BR272 | BR 163 | BR373 | BR116 | SP055

Dá para notar o emaranhado da nossa rede viária não é? No estado de São Paulo, destaque positivo para Estrada dos Romeiros (SP-312) que liga Barueri e Bom Jesus de Pirapora até Itu. Por ela passava o leito do Caminho do Peabiru e é repleta de curvas deliciosas para “motocar” com os amigos. Em alguns trechos do Rio Tietê o cheiro é bem forte, mas logo passa e a estrada é show. Destaque negativo para a Rod. Padre Manoel da Nóbrega (SP-055) na região de Pedro de Toledo, uma serrinha perigosa, vicinal e com péssimo asfalto.

Ruta 1, na Bolívia

Ruta 1, na Bolívia

Já no Paraná é difícil apontar uma estrada ruim… são todas muito bem conservadas – e não é para menos, haja visto a quantidade de pedágios para motos – e todas com curvas e paisagens lindíssimas. Uma das nossas preferidas é a Rodovia das Cataratas a BR-277. O asfalto é um tapete, as curvas são de babar no capacete e a paisagem dá a impressão que você está na Europa. É uma estrada perigosa e marcada de graves acidentes. Então, tenha cuidado.

Publicidade

Outra muito bonita e com curvas a perder de vista é a batizada pelos PHD de Rastro da Serpente – a BR-476. Uma continuação dela já no estado de São Paulo não está muito boa na região de Apiaí, isso por conta de uma parceria entre uma pedreira e uma fábrica de cimento que coloca diariamente pesados caminhões na estrada e ao longo vão danificando o piso. Mas descendo para Curitiba, após passar Ribeira/SP, a festa começa! É necessária muita atenção, pois do nada a curva fecha e pode te jogar para fora da pista, então nada de ser meninão!

Na grande maioria das estradas brasileiras a oferta de postos de combustível é bem satisfatória e não há trechos que preocupem mesmo quem tem autonomia baixa.

Paraguai – 4 dias – 1.200 km

Ruta 10 | Ruta 3 | Ruta 9

Ruta 4, na Bolívia: conservação zero

Ruta 4, na Bolívia: conservação zero

Deu para sentir a diferença com o Brasil? O Paraguai tem praticamente a área do Estado da Bahia, mas a oferta de rodovias é muito pouca. Entramos por Salto Del Guairá com destino a Asuncion, pegando a Ruta 10 e Ruta 3 – também conhecida por Trajeto ao invés de Ruta. Em ambas o asfalto varia de bom a regular com alguns remendos e pouca sinalização de placas. Como passa por muitas cidadezinhas e a região é a mais populosa do país, a oferta de combustível é bem satisfatória.

Depois de Asuncion subimos rumo a Bolívia pelo Trajeto 9, uma reta sem fim no meio do Chaco Paraguaio que não tem nada além de Pozos, pequeníssimos vilarejos sem energia elétrica e nem água encanada. Nesta região, quando encontrar um posto de gasolina, pare para abastecer mesmo que tenha feito isso a 5 km. A pista até Filadelfia vai de boa a regular e alguns trechos possuem muitos remendos e alguns buracos. Por ser vicinal é preciso cuidado com as ultrapassagens de caminhões, embora a quantidade de veículos seja pequena.

Ruta 9, no Paraguai: reta sem fim

Ruta 9, no Paraguai: reta sem fim

De Filadelfia até Mariscal José Félix Estigarribia o asfalto é bom e neste ponto existe o último posto de gasolina. Então encha seus galões por que o próximo só na Bolívia depois de 210 km. Os 100 km seguintes são na verdade um pouco de asfalto em meio a buracos, levamos cerca de 2h para percorrer esse trecho. Por chover muito pouco os buracos são cobertos de areia fina que requer muita atenção ao pilotar.

A Ruta 9 quando fica com asfalto bom simplesmente acaba e continua sentido norte sem nada de asfalto, um verdadeiro rally para 4×4 onde não se recomenda transitar. Opte por pegar uma ruta sem nome a sua esquerda com sentido a Mayor Infante Rivarola e curta bastante o asfalto novinho e liso, ele acaba na fronteira coma Bolívia.

No Paraguai há três tipos de gasolinas identificadas por suas octanagens, sendo 85, 95 e 97 unidades (RON). As duas primeiras possuem cerca de 7% de álcool na mistura e a gasolina de 97 RON equivale a nossa gasolina Premium, embora não tão forte. Eu abasteci apenas com a de 85 octanagens e fiz os mesmos 20km/l. O custo médio foi de R$2,46/l em AGO/2011 (US$1,50/l).

Bolívia – 10 dias – 1.830 km

Ruta 9 | Ruta 4 | Ruta 5 | Ruta 1 | Ruta 2

 

Até chegar a Ruta 9, o amigo vai precisar de muita disposição, por que na divisa da Bolívia com o Paraguai a estrada acaba. Há obras de construção de uma via, mas o trânsito se dá por uma estrada de terra paralela com bastante costela de vaca e areia na pista. Não há nada num raio de 60 km e neste ponto, se a origem foi Filadelfia no Paraguai, já serão mais de 200 km sem posto.

Ruta 5, na Bolívia

Ruta 5, na Bolívia

Em Ibibobo, um vilarejo que possui a Migracion, é possível comprar gasolina, depois disso, são mais 50 km de terra até Villa Montes na Ruta 9. Subimos por essa Ruta até Santa Cruz de La Sierra. A pista é boa e há muitos postos de gasolina. Atenção aos fortes ventos laterais.

De Santa Cruz seguimos pela Ruta 4 até pegar a Ruta Nacional 5, que no site do Governo Boliviano era pintado de verde e dizia “transitável com atenção”. Acontece que a Ruta 5 ainda está em construção e foram 130 km de areia fina no meio da Cordilheira dos Andes por longas e difíceis 7h30 até uma cidade chamada Aiquile. Neste trecho conseguimos abastecer numa cidade chamada Mataral ainda na Ruta 4 e Pantoja e Peña Colorado na Ruta 5, sendo que nesta última o combustível foi comprado em uma mercearia ao custo de US$1,00/l.

De Aiquilie até Sucre, seguimos a Ruta 5 de terra por cerca de 80 km até chegar na parte que já foi asfaltada. Aí a diversão realmente começou na Bolívia. A estrada vicinal é um tapete de concreto com um visual absurdamente lindo em meio aos Andes com leitos de rios secos com cerca de 100m de margem a margem que aguçam a imaginação de como deve ser a corredeira em épocas de chuvas.

Ruta 9, no Paraguai

Ruta 9, no Paraguai

O curioso aqui são as valetas construídas nas estradas para que as águas que descem as montanhas encontrem o rio com mais facilidade. Muitas delas estão secas e nem é preciso reduzir, pois é uma depressão bem suave, mas há outras com filetes de água e neste ponto é preciso cautela por conta de eventuais limos. Em uma delas tomei um banho do caminhão que vinha em sentido contrário – o trânsito é quase inexistente e há alguns postos de combustível ao longo do caminho.

De Sucre até Potosí (cidade mais alta do mundo a 4.040m) a estrada é repleta de curvas e o visual fantástico, um oferecimento especial da Cordilheira dos Andes, que continua a surgir diante do capacete. No entanto, seguindo para La Paz pela Ruta 1, por estarmos no Altiplano Andino, as grandes montanhas acabam. Você realmente está no topo do mundo (rs) – e a estrada até chega a ser monótona e comum. O asfalto deixa de ser o concreto e surgem alguns remendos. A oferta de combustível se resume a Oruro (315 km de Potosí) e La Paz.

Um posto na Ruta 10, no Paraguai

Um posto na Ruta 10, no Paraguai

O presidente Evo Morales baixou uma portaria onde é proibida a venda de combustível para veículo estrangeiro – uma inteligente estratégia para licenciar veículos roubados do Brasil em especial. Os postos que desejam abastecer veículos “estrangeiros” necessitam de alvará e vendem a gasolina mais cara. O caro deles é barato demais, o chato é esperar o frentista preencher um formulário com dados do veículo e do piloto. Mas isso ocorre mais nas grandes cidades, no resto do país o que importa é a grana.

De La Paz para Copacabana, use a Ruta 2 que é estonteante de linda serpenteando ao lado do Lago Titicaca, viagem curta de pouco mais de 150km que vai te deixar de queixo caído. Na Bolívia há apenas um tipo de gasolina e o custo médio foi de R$0,85/l a R$1,45 em AGO/2011 (US$0,50/l a US$0,87).

No próximo artigo continuo com as estradas do Peru, Chile e Argentina.

Obs: Para facilitar a discussão sobre esse assunto criamos um espaço no final da página ou no fórum para os motonliners.